Mário, El loco de Diós, nos deixou mais humanos
O Papa Francisco foi um oximoro genial, um argentino, mas modesto. Igual a outra pessoa minimamente complexa, Bergoglio foi um homem poliédrico, múltiplo. Não foi um, era uma multidão. Ao mesmo tempo que preservou a infância quando chutava bola, se tornou o cardeal que tomava ônibus, todas as semanas, para chegar nas vilas misérias que circundam Buenos Aires.
Recorde: seis milhões e meio de fiéis o ouviram.
Aos setenta e seis anos, o Papa Francisco, no dia 18 de janeiro de 2015, celebrou em Manila uma missa a que, segundo o cômputo das autoridades filipinas, assistiram seis e meio milhões de fiéis. Um recorde dificilmente superável. Bergoglio sempre foi carismático, dotado de uma grande vocação de poder, uma notável inteligência política.
Um cinquentão introvertido.
Quando arcebispo de Buenos Aires, os testemunhos coincidem em apresentá-lo como um cinquentão introvertido e melancólico, mas, sobretudo, um religioso que se desvia de todos seus afazeres eclesiásticos para atender os pobres.
Um ancião cálido.
O papado o levou a uma nova metamorfose: quem com ele conviveu em Roma, assegura que aquela responsabilidade máxima o tornou um ancião cálido, exultante e em paz consigo mesmo. A cadeira de São Pedro lhe fez uma transformação benéfica.
Temperamento robusto e pragmático.
Ao contrário de que incautos é desinformados apregoam, Francisco foi um Papa pragmático e reacionário a ideologias. Adquiriu uma prudência que o levava a esquivar de qualquer confrontação, mas não a ponto de acovardar-se. Quando considerava necessária, não se calava nem fugia, o que lhe granjeou inúmeras inimizades, sobretudo na própria Igreja e mais ainda em sua congregação. Mas tinha grande capacidade de liderança que nem seus detratores minimizam.
Odiava privilégios.
Um dos rasgos mais marcantes, é que me levam a estimá-lo, era sua aversão aos privilégios. Também tinha imensa repulsão por boatos. Dizia que não se curvaria à “mundanidade espiritual, infinitamente mais desastrosa que qualquer outra mundanidade”. Sempre discreto, que chegava às raias do hermetismo. Entre seus colegas jesuítas, era conhecido como “A Gioconda”, devido à expressão impenetrável de seu rosto. Dotes de organização. Capacidade de concentração e de trabalho. Paixão pela leitura e gosto pela escrita, ainda que não se considerasse um teólogo nem um erudito. Adorava a ópera, que escutava desde a infância. Sobriedade e disciplina. Sempre levantava logo depois da quatro da madrugada para rezar e dormia às dez da noite. Religiosidade de ferro, como poucos papas tiveram. A característica mais permanente desse símbolo da fé. Vá em paz, caro “Loco de Diós”, o único apelido que gostou.
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