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Em Pauta

O bom golpista Engels e o metido burguês Marx

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/06/2021 07:00
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A vida em Londres, nas primeiras décadas da Revolução Industrial era horrível para os trabalhadores. Pior ainda para as crianças. Pelo menos 15% delas tinham as pernas arqueadas e deformidades pélvicas devido ao raquitismo. Esses infortúnios eram comuns.


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Comer o que caia no chão.

Um médico de Londres publicou uma lista das coisas que já tinha visto darem como alimento a crianças pequenas: bolinhos duros embebidos em óleo, carne dura que elas não conseguiam mastigar e geleia de mocotó. Os pequenos sobreviviam com o que caia no chão, ou com as sobras que catavam em qualquer lugar. Aos sete anos, eram mandadas para as ruas, para sobreviver por conta própria.


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Engels simpatizava com as crianças pobres.

Uma das poucas figuras que simpatizava ativamente com a situação das crianças pobres foi também uma das mais surpreendentes. Friedrich Engels foi para a Inglaterra com apenas 21 anos, em 1842, para ajudar a dirigir a fábrica de tecidos do pai. A firma, Ermen & Engels, fabricava fios para costura. Apesar de jovem, Engels era um filho respeitoso e homem de negócios razoavelmente consciencioso - acabou virando sócio da firma.


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Desviava dinheiro.

Mas nem tudo são flores na história de Engels. O jovem passava boa parte do tempo desviando dinheiro da empresa. Pouco a cada retirada, mas consistente, ininterruptamente. Não que necessitasse para suas despesas, mas para sustentar seu amigo e colaborador Karl Marx. Seria difícil imaginar dois fundadores mais improváveis para um movimento tão asceta como o comunismo.


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Engels sabia manejar dinheiro.

Embora desejando sinceramente a derrocada do capitalismo, Engels sabia manejar dinheiro. Também sabia apreciar a doce vida de um ricaço. Criava cavalos de raça, praticava caça à raposa com cães nos finais de semana, apreciava os melhores vinhos, sustentava uma amante, socializava com a elite em clubes - em suma, vivia como um cavalheiro bem-sucedido da classe alta.


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Marx, o burguês sem dinheiro.

Marx, por sua vez, vivia constantemente devendo. Mas a sua era a vida mais burguesa possível. Mandou as filhas para escolas particulares e aproveitava qualquer oportunidade para gabar-se da origem aristocrática da esposa. O apoio que Engels pacientemente deu a Marx foi algo realmente raro e admirável em se tratando de amizade.


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Engels escrevia, Marx recebia.

Se não bastasse o dinheiro dado a Marx, Engels também escrevia boa parte do material que ia para o jornal "New York Daily Tribune". O inglês de Marx não era suficiente para escrever para esse jornal. Sua ideia era que Engels escrevesse os artigos em seu lugar e ele recebesse o pagamento. E foi exatamente o que aconteceu. Mas não bastava. Engels desviou dinheiro da empresa durante muitos anos, com considerável risco para si mesmo.


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Engels era racista, odiava os irlandeses.

Engels desenvolveu um genuíno interesse pelos mais pobres. Nem sempre suas ideias eram muito liberais. Ele detestava os irlandeses e acreditava que os pobres eram responsáveis pelo seu triste destino. E, contudo, ninguém escreveu com mais sentimento sobre a vida nas favelas da Inglaterra. Em "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra" ele descreve pessoas que vivem "na imundície, em meio a fedores horríveis,... montes de lixo, vísceras de animais é uma sujeira repugnante". Engels era um homem paradoxal, mas de bom coração.

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