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Em Pauta

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/08/2019 07:00
Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

Imaginem que as florestas da Amazônia, do Congo e da Indonésia - as três maiores do mundo - estão sendo devoradas pelo fogo. Seria uma calamidade mundial. Continuem a imaginar que os presidentes dos países onde estão essas florestas incentivem a formação de pastagens em detrimento da biodiversidade. O mundo não aceitaria tal prática. Não importa se cresceu ou reduziu. Qualquer incêndio florestal deve ser condenado. Cada floresta - especialmente essas três tropicais - abriga muitas espécies de plantas e de animais que desaparecerão para sempre. Algumas nem mesmo são conhecidas.
Todavia, uma grande quantidade de autoridades, mídias, artistas e esportistas afirmam que esses incêndios, especialmente os amazônicos, estão ameaçando o oxigênio atmosférico que respiramos. Criaram uma taxa que o "pulmão amazônico" produz. Conforme eles, a floresta amazônica seria responsável por 20% do oxigênio que respiramos. Essa afirmação está errada. Não condiz com os conhecimentos científicos.

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

Há oxigênio suficiente para durar milhões de anos.

De fato, quase todo o oxigênio respirável se originou nos oceanos, e há o suficiente para durar milhões de anos. Meteoros, vulcões ou calor exagerado exterminarão a vida na superfície do planeta antes que falte oxigênio. Há muitas razões para ficar chocado com os incêndios - e os incendiários - na Amazônia, mas esgotar o suprimento de oxigênio não é um deles.

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

A produção liquida de oxigênio pelas florestas está muito próxima do zero.

Quase todo o oxigênio livre no ar é produzido pelas plantas, através da fotossíntese. Cerca de um terço da fotossíntese terrestre ocorre em florestas tropicais - principalmente nas três maiores. Esses são dados irrefutáveis. Todavia, há outro dado tão irrefutável como esses: quase todo o oxigênio produzido pela fotossíntese é consumido - todos os anos -, independentemente da ação humana, por organismos vivos e incêndios. As árvores constantemente perdem folhas mortas, galhos e raízes, que alimentam um rico ecossistema de organismos, principalmente constituído por insetos e micróbios. Os micróbios consomem oxigênio nesse processo. A verdade é que as plantas produzem muito oxigênio e os micróbios consomem muito oxigênio. Como resultado, a produção líquida e oxigênio pelas florestas - e, na verdade, por todas as plantas terrestres - é muito próxima de zero.

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio
Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

A produção atual de oxigênio pelos oceanos.

Um fenômeno similar ao das florestas ocorre nos atuais oceanos. Se é verdade que o oxigênio que hoje está na atmosfera veio dos oceanos do passado remoto, tal fenômeno já não ocorre. Algas e outras plantas afundam em águas escuras, onde os micróbios delas se alimentam. Como seus equivalentes terrestres, os micróbios marinhos consomem oxigênio, esgotando-o da água ao seu redor.
Abaixo das profundidades onde os micróbios despojaram as águas de oxigênio, a matéria orgânica restante cai no fundo do oceano e fica enterrada. O oxigênio que é produzido pelas algas superficiais, quando elas crescem, permanecem no ar porque não são consumidos pelos micróbios decompositores. Já a matéria vegetal enterrada no fundo do oceano é responsável pela formação de petróleo e gás.

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

Apenas uma fração minúscula nos faz respirar.

Apenas uma fração minúscula - talvez 0,0001% - da fotossíntese global é desviada pelo sepultamento das matérias orgânicas. E é assim que vemos aumentar o oxigênio atmosférico. Ao longo de milhões de anos, essa fração minúscula de oxigênio, deixado por esse minúsculo desequilíbrio entre o crescimento de matéria orgânica e a decomposição se acumulou para formar o reservatório de oxigênio respirável do qual depende toda a vida. Ele pairou em torno de 21% do volume da atmosfera por milhões de anos.

Queimadas são destrutivas, mas não esgotam o oxigênio

O retorno do oxigênio para a superfície.

Parte importante desse oxigênio que está na atmosfera, retorna à superfície do planeta através de reações químicas com metais, enxofre e outros compostos que estão presentes na crosta terrestre. Por exemplo, quando o ferro é exposto ao ar, na presença de água, ele reage com o oxigênio para formar óxido de ferro, um composto comumente conhecido como ferrugem. Esse processo, denominado oxidação, ajuda a regular os níveis de oxigênio na atmosfera.
Tenham certeza, mesmo que todas as plantas da terra e dos mares fossem queimadas de uma só vez, menos de 1% do oxigênio do mundo seria consumido. Não há Nero nem Bolsonaro que acabem com o oxigênio do planeta.

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