Viciados desde criança vendem felicidade, e não hambúrguer
Desde a infância, somos educados a ter uma relação de poder com a comida: para comer sobremesa, você precisa comer a verdura - a premiação depois do sacrifício -. Quando você cresce, conquista a independência alimentar e pode comer sorvete e chocolate sem fazer escalas em repolhos e acelgas. Porque você merece, depois de ter levado um fora, de ter sido promovido ou despedido. Não porque está com fome ou desaprendeu a comer.
Autoindulgência.
Essa é uma relação inconsciente que os pais estabelecem com os filhos quando prometem sobremesa depois da chicória e que a industria alimentícia usa com maestria. As redes de fast food vendem felicidade, e não hambúrguer e batata frita; refrigerantes são abraçados apertados; margarina é garantia de família unida e contente. Cookies e biscoitos cheios de açúcar são energia para encerrar o dia com felicidade; comida congelada é a certeza de elogios do maridão, da mulher ou dos filhos e, grátis, tempo livre para ficar com eles. Porque você merece neste exato momento, ora bolas! A comida é regida pelo marketing….e nada mais.
Cigarro, roupa, carro é igual a comprar comida.
Não se enganem, do ponto de vista da indústria, não existem motivos para pensar que comprar comida é diferente de comprar cigarros, roupas ou carros. De um lado, existe um consumidor com um desejo buscando satisfação, procurando a felicidade. E do outro, tem alguém que desenvolveu um produto em busca exclusivamente do lucro. A industria alimentícia não é mais nobre que a do cigarro, são idênticas. Mas na embalagem comprada pelo fumante está escrito que aquele vicio pode causar câncer. Não me lembro de ter visto indicações sobre risco de desenvolver obesidade e males associada a ela em embalagens de alimentos. O poder de convencimento da industria do cigarro foi imensamente limitado. O da comida industrializada foi enormemente ampliado. A comida natural, comprada nos sacolões e açougues, não fatura nem 10% da industrializada.
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