Burocracia limita pequenas empresas de MS a menos de 2% do crédito do BNDES
Programa BNDES-Sebrae tem juros baixos e garantia de até 80%; entidade critica entraves e pede mais inclusão
As micro e pequenas empresas de Mato Grosso do Sul representam menos de 2% do volume de crédito liberado, em quatro meses, pelo Fundo Garantidor FG BNDES-Sebrae, formalizado em junho deste ano.
RESUMO
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Até agora, o programa liberou, no Brasil, R$ 2,76 bilhões em crédito, dos quais R$ 49 milhões foram destinados a micro e pequenas empresas do Estado, o equivalente a 1,78% do total nacional. Em Mato Grosso do Sul, foram realizadas 264 operações, segundo dados do BNDES encaminhados ao Campo Grande News.
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Com juros mais competitivos do que os praticados no mercado convencional — a partir de 1,4% ao mês, as taxas variam conforme as instituições financeiras conveniadas. O fundo é resultado de uma parceria entre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Baixa adesão preocupa setor empresarial
A presidente da FCDL-MS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul), Inês Santiago, critica a baixa participação. “Temos números que mostram o fracasso do alcance. Apenas 264 operações diante de um universo de quase 190 mil empresas ativas no Estado”, afirmou a advogada e empresária.
Em todo o país, os recursos mobilizados viabilizaram mais de 13,2 mil operações, atendendo principalmente os setores de comércio e serviços, responsáveis por 80% do total. O tíquete médio é de R$ 209 mil.
Embora todos os estados e o Distrito Federal tenham registrado operações, os maiores volumes de garantias concedidas estão concentrados no Sudeste (40%) e no Nordeste (25%).
Criado para reduzir barreiras de financiamento a microempreendedores individuais (MEIs) e às micro e pequenas empresas, o fundo garante até 80% do valor das operações de crédito, com prazos entre 12 e 120 meses. Os empreendedores que acessam a linha também podem contar com acompanhamento técnico, incluindo suporte à gestão e à organização financeira.

“O fundo virou um filtro, não uma solução”
Para Inês Santiago, os recursos do fundo são provenientes do próprio sistema nacional de fomento, e, portanto, do contribuinte.
“Esse dinheiro deveria retornar em forma de crédito acessível e desburocratizado. Mas o que se vê é exatamente o contrário. Um fundo que nasceu para reduzir barreiras acaba funcionando como um filtro. Ele garante uma parte, mas não assume o risco integral — e isso mantém o sistema travado.”
Ela questiona o limite de cobertura: “Se é dinheiro público, por que não garantir 100% da operação para o micro e pequeno empreendedor, que é quem mais gera emprego e renda?”
A dirigente também critica o modelo de concessão de crédito no país, que considera “oneroso e burocrático”. “O que resolve é o Estado criar políticas efetivas de enfrentamento a esse modelo excludente, com linhas diretas, simplificadas e humanas.”
Inês defende ainda a criação de um Banco Popular, com taxas menores, menos burocracia e garantias simplificadas. “O crédito não pode ser privilégio de poucos — ele precisa ser o motor do desenvolvimento para todos.
O Sebrae, que tem papel estratégico, precisa rever sua atuação. Receber o recurso e não transformá-lo em política efetiva é ineficiência social e econômica. O Sebrae deveria liderar a ponta, assessorando o pequeno empresário, abrindo caminho — e não apenas contabilizando programas.”
Economistas veem potencial, mas cobram capilaridade
Para a FCDL-MS, o crédito produtivo é “o oxigênio do varejo”. “É ele que permite reformar a loja, investir em tecnologia, aumentar o estoque e gerar empregos”, reforça Inês.
Já o presidente do Corecon-MS (Conselho Regional de Economia de Mato Grosso do Sul), Diogo Costa da Silva, avalia que o programa representa um passo importante para a inclusão financeira de pequenos negócios, historicamente afetados pelas altas taxas de juros.
“Esse número de operações deve crescer à medida que a economia, estadual e nacional, mantiver uma trajetória de expectativa de crescimento”, afirmou o economista.
Segundo o Mapa de Empresas, do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, o Estado possuía 305.654 estabelecimentos em março deste ano. Desse total, 285.511 são pequenos negócios, o equivalente a 93,4%.
“Esses números demonstram não só a importância dos pequenos negócios, mas também como eles dinamizam a economia sul-mato-grossense”, completou Diogo.
Entre as instituições financeiras credenciadas ao programa estão Bradesco, Senff Financeira e BTG Pactual. A expectativa é que, nos próximos meses, outros bancos, cooperativas de crédito e fintechs sejam habilitados, ampliando o alcance da iniciativa.
Toda a operacionalização é feita por uma plataforma digital de alta escalabilidade, já utilizada pelo BNDES em outros fundos garantidores.


