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Economia

Cliente pode não perceber diferença, mas 3º dígito no preço do combustível pesa

Paula Vitorino | 14/09/2011 12:01

A diferença é maior para os lucros dos proprietários de postos de combustíveis

Na tabela de preços do posto, todos os preços dos combustíveis aparecem com três dígitos decimais. (Foto: João Garrigó)
Na tabela de preços do posto, todos os preços dos combustíveis aparecem com três dígitos decimais. (Foto: João Garrigó)

Em meio a tantos altos e baixos no preço do combustível, o que mais preocupa o consumidor são os três primeiros dígitos no preço – exemplo 2,69. Mas, mesmo muitas vezes escondido e até esquecido, o terceiro digito após a vírgula – 0,999 – faz diferença no bolso do consumidor e, principalmente, para os lucros do dono do posto de combustível.

A terceira casa decimal é prática comum a todos os postos de combustíveis do país. Raro é encontrar algum estabelecimento com o preço redondo ou sem o terceiro dígito, já que o seu uso é regulamentado por portaria da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Mas a normativa também determina que o preço final a ser pago seja arredondado para apenas dois dígitos decimais. Ou seja, o terceiro decimal é conta na soma do preço de cada litro, mas o total tem a terceira casa cortada.

Apesar da prática ter respaldo legal, o coordenador geral do Procon-MS, Alexandre Monteiro, diz que o terceiro decimal acaba pesando, sim, no bolso do consumidor.

“Faz parte da composição do preço, mesmo que no final o decimal seja cortado. Se fosse sem esse decimal com certeza iria mais litros para o tanque do carro do cliente”, frisa.

Para comprovar o valor desse terceiro número, a reportagem do Campo Grande News, pediu ao economista da Universidade Uniderp, Celso Correia de Souza, que fizesse as contas de quanto o terceiro dígito pesa no fim de várias idas ao posto.

Ao preço de R$ 1,69 o litro, o motorista que abastecer 40 litros por semana irá deixar ao fim de um ano o equivalente a R$ 20 para o posto de combustível, só com o pagamento do terceiro digito – R$ 1,699.

Sendo assim, o economista calcula que o empresário deixa de faturar ao fim de um mês o montante de mais de R$ 4,800 mil se vender o combustível sem o terceiro dígito para cerca de 3 mil clientes com o mesmo consumo semanal do exemplo acima.

Pesa para quem? - O cálculo passa desapercebido no dia a dia para a maioria dos consumidores, que acreditam que o dígito a mais é “irrelevante”.

“Acho que é irrelevante esse número, não dá diferença no lucro do posto e nem para o cliente. A quantidade que a gente abastece é pouca e por isso não tem grande diferença”, acredita o servidor público, Eduardo Fernandez, de 30 anos.

O consultor de ambientes Fabrício Araujo, de 21 anos, diz que até já parou para fazer as contas, mas que geralmente não dá muito valor ao terceiro número.

Consumidor acredita que terceiro dígito é marketing para combustível não parecer mais caro.
Consumidor acredita que terceiro dígito é marketing para combustível não parecer mais caro.

“Geralmente é o 9 mesmo, então não influência na escolha do posto. Acho que o valor acaba sendo irrelevante, só quando enche o tanque que pode ter um pouco de diferença”, afirma.

Ele acredita que a estratégia seja mais um marketing para maquiar o assalto ao bolso do cliente. “É pra não assustar com o número redondo, aí a gente pode até pensar que está pagando menos”, diz.

A gerente do Locatelli na avenida Mato Grosso, Luciana Amado, admite que o terceiro número é uma estratégia a mais para aumentar os lucros dos estabelecimentos, mas garante nunca ter feito o balanço de quanto isso representa no faturamento total.

Ela também explica que o terceiro numeral é comum nos preços de combustíveis porque os postos apenas repassam o valor pago às distribuidoras.

“Nós recebemos das distribuidoras o preço com quatro dígitos depois da vírgulas, mas só repassamos ao consumidor com três numerais para não causar confusão ao cliente”, diz.

Sobre o terceiro numeral ser geralmente o 9, a gerente esclarece que o numeral é determinado de acordo com o preço na distribuidora, mais a margem de lucro do posto.

“Não é uma regra ser o 9, pode ser qualquer número. Isso vai depender da margem de lucro do posto e do preço do combustível na distribuidora”, detalha.

É permitido – Em Mato Grosso do Sul, um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre o Sinpetro-MS (Sindicato dos Postos de Combustíveis) e o MPE (Ministério Público Estadual) garante a legalidade do terceiro decimal pelos postos de combustíveis.

O acordo foi feito após o MPE entrar com ação civil pública requerendo que os postos não utilizassem o terceiro decimal nas bombas de combustíveis. No entanto, o Tribunal de Justiça acatou a justificativa do Sinpetro-MS de que o dígito era utilizado para cumprir a norma da ANP e é indiferente para o consumidor.

Em nota, o Sinpetro apenas reafirmou a legalidade do procedimento e que o consumidor não tem prejuízos, alegando que no pagamento final o terceiro dígito é cortado.

Já o Procon-MS informou que nenhum posto da Capital foi multado pela pratica e por ser um procedimento legal, o órgão não pode acionar judicialmente os estabelecimentos. A recomendação é para que os consumidores pesquisem os preços, atentos a qualidade do combustível, e que confiram a cobrança do litro na bomba.

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