Boom de startups alavanca negócios em Mato Grosso do Sul
Número deve saltar de 330 para mais de mil em 2026. Participação federal é pífia na região.

O Mato Grosso do Sul desponta como um "hub de inovação" em função de investimentos recordes de R$ 500 milhões por ano em ciência e tecnologia. A constatação é do presidente da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect), Márcio de Araújo Pereira, que participou, nesta segunda-feira, de reunião de conselhos do Sebrae Nacional, em Brasília.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O número de startups que há cinco anos girava em torno de 11 empresas inovadoras no estado, deve somar 330 startups este ano, estimou Pereira. Para o próximo ano, o número no estado deverá triplicar, passando de mais de mil negócios voltados para diversos setores da economia, principalmente para bioeconomia e biotecnologia. Os dados têm como base o Observatório Sebrae de Startups, que reúne cerca de 17 mil negócios inovadores em todo o país.
Mesmo com participação pífia do governo federal no fomento da ciência e tecnologia no estado, o entendimento é de que o ecossistema de inovação de Mato Grosso do Sul está em pleno vapor e propício para atrair capital privado e conectar startups e grandes empresas em solo sul-mato-grossense.
Para o dirigente Fundect – entidade vinculada Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do Estado – a ciência tem o viés estratégico para ser a locomotiva do desenvolvimento econômico do estado, que cresce acima da média nacional.

Pelas estimativas do governo local, o PIB de Mato Grosso do Sul deve crescer 6,8%, ou seja, bem acima da medida nacional (2%).
O especialista lembrou que o estado tem, em sua origem, o desenvolvimento científico e tecnológico, uma vez que é reconhecido pela alta produtividade da soja que foi alavancada, no passado, pela Embrapa e que ainda tem forte presença na região.
“Grandes industrias que já entenderam isso estão vindo para cá, como a Suzano e, mais recentemente, a Arauco Celulose, que anunciou investimentos robustos (de US$ 5 bilhões) no Vale da Celulose. Empresas de todos os portes estão chegando em Mato Grosso do Sul”, disse Pereira, que também é presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP).
Investimentos estaduais - Segundo Pereira, o governo de Mato Grosso do Sul investe, há oito anos, valores recordes de 0,5% da receita líquida tributária, o equivalente a R$ 100 milhões anuais, principalmente no desenvolvimento da bioeconomia, do agronegócio e da biotecnologia, setores considerados estratégicos para o desenvolvimento local. Na prática, o governo cumpre o limite constitucional, que é o valor mínimo que os estados devem gastar em áreas fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico. A maioria dos Estados não chega a esse patamar.
Os projetos são desenvolvidos principalmente pela Universidade Estadual (UEMS), que tem orçamento anual de R$ 350 milhões para o setor.
Em outra frente, a Fundect conta com orçamento anual de R$ 100 milhões, dos quais destinará este ano R$ 20 milhões para apoiar a subvenção de startups. Os valores variam de R$ 50 mil a R$ 500 mil por startup, dependendo do programa.
“Somando, esses valores representam meio bilhão de reais em investimento todo ano para ensino, pesquisa e inovação. Nós decidimos investir nessa área, independentemente dos investimentos federais.”
Verba federal - Como dirigente do CONFAP, Pereira analisou a tradicional concentração dos recursos federais nas regiões Sul e Sudeste em detrimento das demais regiões do país e observa que o governo federal vem tentando reduzir as disparidades.
Conforme lembrou, a Finep, agência de fomento de estudos e projetos vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), publicou, no ano passado, um edital específico para as regiões do Centro-Oeste de quase R$ 50 milhões. Desse total, R$ 16 milhões foram para Mato Grosso do Sul. Pereira citou ainda iniciativas da CAPES e do CNPq fundamentais para apoiar a qualificação dos estudantes de pós-graduação e atrair pesquisadores estrangeiros para região.
No decorrer dos últimos três anos, a Fundect recebeu do governo federal R$ 30 milhões para o apoio de subvenção a empresas.
“Existe esse olhar, tanto da Capes como do CNPq, para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, para além dos tradicionais eixos Sul e Sudeste. Alguns estados se deslocaram mais, como Mato Grosso do Sul, porque o governo estadual soube investir na hora correta e não esperou o governo federal.”
O representante da Finep para Região Centro-Oeste, Fernando Ribeiro reconhece a disparidade na distribuição dos recursos federais para o fomento da ciência e tecnologia, mas ressalva que o governo está buscando o equilíbrio criando oportunidades para instituições das regiões no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Na ponta do lápis, 80% das ações de fomento do governo federal ficam concentradas no Sul e Sudeste.