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Educação e Tecnologia

Pesquisadores indígenas de MS farão intercâmbio em universidade francesa

Doutorandos da UFGD Anastácio Peralta, Maristela Insfram e Sandra Cândido foram selecionados pela Bolsa Guatá

Por Mylena Fraiha | 01/09/2024 17:21
Anastácio e Maristela exibem passaportes prontos para viagem à França (Foto: Divulgação/UFGD)
Anastácio e Maristela exibem passaportes prontos para viagem à França (Foto: Divulgação/UFGD)

A palavra "guatá" ou "gwata", em guarani, significa "viajar" ou "se movimentar". É essa mesma palavra que dá nome à Bolsa de Mobilidade Guatá que irá levar três doutorandos indígenas de Mato Grosso do Sul à Universidade Paris 8, na França.

A bolsa, promovida pela Embaixada da França no Brasil, oferece a oportunidade de intercâmbio para oito doutorandos indígenas de várias regiões do Brasil, com duração de seis a dez meses.

Entre os selecionados, estão os representantes de MS: Anastácio Peralta, Maristela Aquino Insfram e Sandra Ventura Domingo Cândido, todos do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) - a universidade brasileira com maior número de selecionados para o programa neste ano. Eles partirão em setembro e têm retorno previsto para fevereiro de 2025.

Maristela Aquino, de 44 anos, é uma das selecionadas e vive na região de Dourados, a 251 km da Capital. Guarani nhãndeva, Maristela nasceu e cresceu nas aldeias guarani do sul de MS, e desde cedo se dedicou à educação, ensinando em escolas indígenas antes mesmo de ingressar na universidade.

Graduada em Pedagogia pela UFGD, Maristela também possui mestrado em antropologia, onde estudou a agroecologia como alternativa para combater a insegurança alimentar nas aldeias indígenas. "Eu nunca aceitei a precariedade do território, sem água, sem roça, sem plantas nativas. As crianças, com fome o tempo todo, iam para a escola para ter um prato de comida", relata a doutoranda em entrevista concedida à Agência Brasil.

Outro representante de MS é Anastácio Peralta, uma liderança kaiowá que cresceu falando a língua de seu povo e só aprendeu a ler e escrever aos 37 anos, após ingressar em um projeto de educação de jovens e adultos. Hoje, ele é doutorando na UFGD e já desenvolveu projetos de formação de professores indígenas e estudos sobre práticas agrícolas sustentáveis em sua comunidade.

Anastácio explica que vê o intercâmbio como uma troca de conhecimentos que pode contribuir tanto para a ciência indígena quanto para a ocidental (Foto: Agência Brasil)
Anastácio explica que vê o intercâmbio como uma troca de conhecimentos que pode contribuir tanto para a ciência indígena quanto para a ocidental (Foto: Agência Brasil)

"Hoje a gente vive de cesta básica. E como a gente vivia no passado? No doutorado, continuo pesquisando sobre a roça. Por que vivíamos de roça no passado e hoje vivemos de cesta básica? Eu falo [na pesquisa] de tecnologias espirituais, de ferramentas tradicionais, como o sarakwá, o jeito de colher, o jeito de plantar. Nós, kaiowá, temos toda uma ciência", explica Anastácio à Agência Brasil. Ele vê o intercâmbio como uma troca de conhecimentos que pode contribuir tanto para a ciência indígena quanto para a ocidental.

Outra doutoranda indígena de MS é Sandra Ventura Domingo Cândido, da etnia terena e moradora da Aldeia Ipegue, em Aquidauana, a 141 km da Capital. Ela também participará do intercâmbio na Universidade Paris 8, onde pretende aprofundar sua pesquisa sobre a relação entre conhecimentos tradicionais, apropriação territorial e a participação das mulheres em movimentos de luta.

“Pretendo estudar para obter contribuições acadêmicas para minha pesquisa que trata da relação entre conhecimentos tradicionais, a apropriação do território para manutenção da cultura e a participação das mulheres nesses movimentos de luta, além da representatividade da mulher Terena no e além do território”, destacou Sandra.

Programa - O Programa Guatá, que teve início no ano passado com o envio de quatro alunos indígenas para um intercâmbio na França, está crescendo rapidamente. Em 2023, cinco universidades brasileiras participaram do processo seletivo. Neste ano, o número de universidades envolvidas aumentou para onze, com oito doutorandos indígenas selecionados para a nova edição do programa.

A representante de Ciência e Tecnologia do Consulado da França em São Paulo, Nadège Mézié, explica que o Guatá funciona como um doutorado sanduíche, sem a necessidade de cursar disciplinas obrigatórias nas universidades francesas.

Durante o intercâmbio, cada estudante contará com o apoio de um professor supervisor fluente em português ou espanhol, que fará o acompanhamento acadêmico e cultural. Além disso, os participantes recebem passagem aérea e uma bolsa mensal de 1.700 euros para cobrir as despesas durante sua estada na França.

Para facilitar a adaptação ao idioma, o programa sugere que as universidades brasileiras ofereçam cursos básicos de francês antes da partida. Já na França, os estudantes podem frequentar aulas de francês oferecidas pelas universidades anfitriãs.

Com informações da Agência Brasil

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