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Educação e Tecnologia

Violência e censura afetam nove em cada dez professores brasileiros

Participaram do levantamento 3.012 profissionais da educação básica e superior do país

Por Alana Grande, Agência Brasil | 06/12/2025 16:09
Violência e censura afetam nove em cada dez professores brasileiros
O coordenador da pesquisa, professor Fernando Penna (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Nove em cada dez professores e professoras da educação básica e superior do ensino público e privado de todo o país já foram perseguidos diretamente ou presenciaram perseguições e censura contra profissionais da educação.

RESUMO

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Pesquisa inédita realizada pelo Observatório Nacional da Violência Contra Educadoras/es (ONVE), em parceria com o MEC, revela que 90% dos professores da educação básica e superior já sofreram ou presenciaram perseguições e censura. O levantamento, que ouviu mais de 3 mil profissionais, identificou que 61% dos docentes da educação básica e 55% do ensino superior foram vítimas diretas.O estudo aponta que a violência parte principalmente da própria comunidade escolar, incluindo direção, coordenação e familiares. Entre as formas de perseguição, destacam-se tentativas de intimidação (58%), questionamentos agressivos (41%) e proibições de conteúdo (35%). As regiões Sul e Sudeste registraram os maiores índices de casos.

O dado consta da pesquisa inédita A violência contra educadoras/es como ameaça à educação democrática, realizada pelo ONVE (Observatório Nacional da Violência Contra Educadoras/es), da UFF (Universidade Federal Fluminense), em parceria com o MEC (Ministério da Educação).

Participaram do levantamento 3.012 profissionais da educação básica e superior do ensino público e privado de todo o país.

O coordenador da pesquisa, professor Fernando Penna, da UFF, explicou à Agência Brasil que o trabalho teve como foco principal violências ligadas à limitação da liberdade de ensinar, à tentativa de censura e à perseguição política, embora tenha envolvido também a possibilidade de o professor registrar casos de violência física, o que não era o foco do relatório.

De acordo com Penna, o objetivo do trabalho foi identificar violências no sentido de impedir o educador de ensinar uma temática, de usar um material, ou seja, perseguição política.

“É mais uma censura de instituições em relação aos professores. E não são só instituições. Entre os agentes da censura, estão tanto pessoas dentro da escola quanto de fora, figuras públicas”, informou.

Censura - Segundo o professor, um primeiro “dado preocupante” constatou que a censura se tornou um fenômeno disseminado por todo o território brasileiro e em todos os níveis e etapas da educação, englobando não só o professor, em sala de aula, mas todos que trabalham com educação.

A pesquisa mostrou um percentual alto de professores vítimas diretas da violência. Na educação básica, o índice registrou 61%, e 55% na superior. “Na educação superior, foi 55%, um pouquinho menor, mas, ainda assim, está acima de 50%”, destacou Penna.

Entre os educadores diretamente censurados, o levantamento constatou que 58% relataram ter sofrido tentativas de intimidação; 41%, questionamentos agressivos sobre seus métodos de trabalho; e 35% enfrentaram proibições explícitas de conteúdo.

Os educadores também relataram casos de demissões (6%), suspensões (2%), mudança forçada do local de trabalho (12%), remoção do cargo ou função (11%), agressões verbais e xingamentos (25%) e agressões físicas (10%).

Agentes - Quando perguntados sobre quem foram os agentes da violência, os educadores citaram os próprios membros da comunidade interna da escola ou da universidade. Ou seja, a própria direção, coordenação, membros da família, estudantes. “Isso é muito grave porque traz um dado de pesquisa que mostra que essa violência pode ter partido de figuras públicas, de uma atenção política mais ampla, mas, infelizmente, ela já está dentro das comunidades educativas”.

A pesquisa identificou que são os próprios membros da comunidade educativa interna que estão levando essa violência para dentro da escola, liderados pelos profissionais da área pedagógica (57%), familiares dos estudantes (44%), estudantes (34%), os próprios professores (27%), profissionais da administração da instituição (26%), funcionários da instituição (24%) ou da secretaria de educação (municipal ou estadual) ou da reitoria, no caso das universidades (21%).

Regiões - O impacto que está ocorrendo nas comunidades educativas, que demonstram medo de discutir abertamente temas importantes para a formação dos estudantes foi mais identificado nas regiões Sudeste e Sul, onde foram registrados casos de professores que passaram por essas situações de violência mais diretamente.

O dado não surpreendeu o coordenador da pesquisa. “Tanto que um dos estados que teve mais respondentes no Sul do país foi Santa Catarina, onde a gente sabe de muitos casos de violência. É um estado onde a extrema direita impera”, afirmou.

A sondagem apurou que, em todas as cinco regiões brasileiras, 93% dos educadores tiveram contato com situações de censura, sendo que 59% passaram diretamente por essa situação, 19% souberam que aconteceu com alguém e 15% ouviram falar.

Proteção - Fernando Penna afirmou a necessidade de serem criadas ações para proteger os professores, sobretudo em anos de eleição presidencial, quando se sabe que a tendência é essa violência recrudescer, se tornar mais intensa.

A pesquisa, até agora, gerou um banco de dados que ainda tem muitos cruzamentos para serem feitos, manifestou o coordenador.

“A gente pode fazer análises de estados separadamente. A segunda etapa da pesquisa, que está em curso, é de entrevistas. Do total de professores que responderam, a gente vai escolher 20 pelo país para entrevistar”, anunciou que serão divulgados outros relatórios vinculados a essa pesquisa inicial.

No relatório completo que está sendo preparado, o Observatório sugere a criação de uma política nacional de enfrentamento à violência contra educadores, como resposta do poder público. Essa política já estaria sendo elaborada no âmbito do MEC. O Observatório tem ainda um acordo de cooperação técnica com o Ministério dos Direitos Humanos.

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