Casa de madeira resiste sem muro porque Tereza não quer, e pronto
No imóvel de esquina, dona Tereza cultiva plantas e garante que estrutura é resistente à chuva e ao tempo
Na rua que era chão batido e hoje virou asfalto, uma casa de madeira pintada de verde se destaca. Não pelo tamanho, nem pelo luxo, mas pela simplicidade de quem nunca quis se esconder. No Bairro Danúbio Azul, dona Tereza Rosário, de 70 anos, é moradora que chegou quando tudo ainda era mato, e há 27 anos, permanece na casa de esquina sem muros, mas cheia de história.
“A casa é forte e não molha dentro nem quando chove bastante. Permanece do mesmo jeito desde o dia em que foi feita”, garante.
O imóvel tem cinco ambientes e uma varanda de piso queimado tingido de vermelho, onde vasos com babosa, espada-de-São-Jorge, samambaias e uma orquídea completam o cenário. Não há muros, apenas duas árvores grandes que fazem as vezes de portão. E isso, ela faz questão de manter.
“Não gosto de casa murada, de jeito nenhum. Me sinto sufocada. Gosto de ver o povo passando, gosto da conversa, das pessoas que passam na rua e me dão bom dia. Tem gente aqui o dia inteiro, acho que se colocar muro, é capaz de eu morrer”, diz.
A casa que destoa da vizinhança foi construída com tábuas reaproveitadas, erguidas por um antigo companheiro, já falecido. “A gente foi comprando madeira velha por aqui, pegando o que achava”, detalha.
Por dentro, o piso ainda é em contrapiso na maioria dos cômodos, exceto por um dos quartos. “Sou tão acostumada com tudo aqui que nunca pensei em ter uma casa de alvenaria. Aqui é simples, mas é nosso”, pontua.
A tinta verde que cobre a madeira da casa também tem história. “Foi eu mesma que pintei. Uma vizinha me deu uma tinta branca, comprei uma bisnaguinha verde e misturei. Isso tem 10 anos”, lembra.
Quando Tereza chegou ao local, a região literalmente só tinha mato. “Não tinha água, não tinha luz, mas era o que tinha pra sair do aluguel”, relembra. Na época, o terreno era uma das 25 áreas ocupadas informalmente nas redondezas.
A aposentada foi a segunda moradora da rua. “Meu irmão ficou sabendo que a vizinha ia abrir mão de um dos terrenos e me chamou. Eu morava de aluguel na Vila Margarida e vim”, conta.
A água no começo vinha por mangueiras enterradas. Saiam de um mercado até chegar à casa dos novos moradores. “Quando o cano estourava à noite, a gente tinha que levantar pra consertar. Era um sufoco. Mas agora está tudo diferente, o bairro ficou bom demais”, relata.
Com quatro filhos criados na luta e na poeira da rua sem asfalto, dona Tereza viu o bairro crescer e continua colecionando memórias. “Não tinha nada, nem a rua que passa aqui na frente. Para pegar ônibus tinha que andar bastante e lembro que minhas filhas vinham a pé da escola. Agora tem tudo e eu continuo aqui na minha casinha. Só saio daqui quando partir”, finaliza.
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