Amor pela arte trouxe mexicanos para colorir Campo Grande
Artistas fizeram uma parceria com o museu Casa Amarela e estão desenvolvendo artes sobre memórias
Ouvir que três muralistas reconhecidos na Cidade do México vieram a Campo Grande para dar nova vida a muros no entorno do Complexo Ferroviário faz parecer que a cidade, o Estado ou alguma grande empresa investiram na ação cultural. Mas a realidade é bem diferente, já que os três mexicanos só estão colorindo a Capital graças ao amor pela causa que dividem com os responsáveis pelo menor, mais novo e com menos investimentos, museu de Campo Grande.
Há poucos meses, o ateliê e museu de arte urbana Casa Amarela abriu as portas ao público, sob responsabilidade de Guido Drummond e Tatiana de Conto. Conhecendo o cenário difícil para quem quer viver e espalhar a arte por aqui, os dois contaram ao Lado B que o sonho segue os movendo. Com essa mesma lógica, trouxeram Diego Gato (Diego Adolfo Rodriguez), Kemagenta (Kenia Rayon de la Luz) e Dack (David Alvizo Cárdenas).
Enquanto no México, os três são contratados pela prefeitura para desenvolverem murais, no Brasil decidiram fazer uma troca: receber hospedagem e alimentação para criarem três artes. Por aqui, todas se vinculam ao projeto do museu, “Memórias do Trecho”, em que histórias da ferrovia são resgatadas.
“Quando Diego entrou em contato, eu expliquei que somos o menor museu e o que recebe menos investimentos, então não conseguiríamos trazê-los. Foi aí que ele disse que os três não precisam de pagamento, apenas desse suporte com alimentação e hospedagem. Ainda é algo considerável, então fomos atrás de parceiros, de fazer rifas para dar conta”, explica Guido.
Apesar das dificuldades, o responsável pelo museu comemora que tudo tem dado certo, na medida do possível. A hospedagem ficou por sua conta, enquanto a alimentação tem sido dividida entre os proprietários do Onça Bar (que está recebendo um mural), o Sistema S para os almoços e os materiais foram doados pela Coral.
“Tem sido um sonho estar aqui em Mato Grosso do Sul e ter vindo ao Brasil. Eu comecei a aprender português e, sempre que aprendo uma nova língua, quero viver a cultura do local. E qual melhor lugar para viver o português do que o Brasil? Estamos muito gratos”, introduz Diego, o muralista que teve a ideia de fazer a parceria em Campo Grande.
Há meses, ele e Guido começaram a trocar mensagens para pensar na possibilidade. Agora, com o projeto em execução, já estão pensando em novas possibilidades para realizar um intercâmbio artístico entre México e Brasil para que novos artistas venham para MS e muralistas daqui sigam para o outro país.
Contando um pouco sobre cada trajetória, os três mexicanos narram que todos atuam na Cidade do México exclusivamente no âmbito da arte. Diego e Dack sempre foram apaixonados pelos desenhos e, em algum momento da vida, entenderam que a folha de papel já não era mais o suficiente. Foi assim que as paredes se tornaram suas telas. Já Kenia tem uma história um pouco diferente.
Apesar de ser apaixonada pelas artes, havia escolhido se formar na área criminalista. Mas, na hora de praticar a profissão, teve a possibilidade de escolher entre as duas carreiras. Como ela diz, sem nem precisar se esforçar muito para decidir, o gosto pela criação com os coloridos falou mais forte.
Kenia é namorada de Diego e foi assim que somou ao projeto em Campo Grande, enquanto Dack é um amigo de profissão. “Eu ouvi o Gato falando que viria ao Brasil e perguntei se poderia vir junto e também fazer parte do projeto. Ele aceitou e eu pensei que ainda era algo distante, mas foi dando certo e agora estamos aqui”.
Emocionado com os caminhos tendo funcionado, Diego resume que o gosto por deixar uma arte aqui, ter contato com pessoas que passam pelas pinturas e conhecer um pouco da cultura sul-mato-grossense tem sido um pagamento e tanto.
“No México, nós recebemos pagamento, mas essas experiências também são incríveis”, relata Gato. Completando o amigo, Dack relata que aproveitar o processo da criação dos murais realmente faz toda a diferença e é o que traz a mágica artística.
Sobre os painéis, todos estão na Avenida Mato Grosso e Rua dos Ferroviários. O elaborado por Dack está dentro do Onça Bar e irá retratar uma trabalhadora da ferrovia que encantava a todos com seu estilo monocromático, “todos os dias ela ia trabalhar assim e as pessoas ficavam apaixonadas”.
Além disso, Dack decidiu inserir muitas cores e pássaros de Mato Grosso do Sul para criar metáforas que se vinculam à mulher.
No caso de Diego, sua história é de dois apaixonados que combinaram de fugir juntos, mas que se desencontraram no momento da partida. “A mulher subiu no trem e o homem parecia não ter ido. Até que ela ouviu alguém a chamando e, quando viu, era ele. Ela conseguiu descer do trem e os dois ficaram juntos”, diz Diego.
Por último, Kenia também recebeu uma história sobre uma trabalhadora da estação ferroviária, mas quis inserir outras pessoas que têm visto por aqui. O objetivo é retratar a cultura partindo desses personagens.
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