Neto canta vida na periferia após avó morrer em área poluída da cidade
Em álbum recém-lançado, artista faz denúncias, resgata protagonismo indígena e fala sobre vida na periferia
Cria do bairro Tarumã, Karyston Magalhães, o Tato, de apenas 19 anos, usa o rap como crônica, denúncia e manifesto sobre o dia a dia na periferia de Campo Grande. Com as letras que compõe, o jovem transforma dor pessoal em discurso coletivo.
RESUMO
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Segundo Tato, a morte da avó, Maria Eliza, em novembro do ano passado, foi o gatilho para que ele gravasse seu primeiro EP, lançado em julho deste ano: 'Tato Agrokilla e a Desforra Cerratense'.
“A morte da minha avó foi algo que me levou a pensar. Ela tinha problemas respiratórios e morava em uma área muito poluída. Isso me fez refletir sobre quantas pessoas não morreram por causa do desmatamento e da poluição. Foi um start para o disco”, conta.
A relação com a cultura hip-hop começou cedo, ainda criança. Primeiro, foi o break; depois, as rimas e a poesia. Tato cresceu tímido, retraído, muitas vezes rejeitado por colegas e encontrou na escrita um caminho para se fortalecer.

“A escrita foi um escape. Eu sempre fui muito tímido, muito na minha. Quando comecei a escrever, encontrei autoestima, consegui lidar com questões internas”, lembra.
Com 16 anos, em 2022, ele passou a compor de forma mais séria. No início, eram versos intimistas, reflexões pessoais. Aos poucos, os temas se expandiram para questões sociais e espirituais, até que ganhou forma o projeto atual, em que a luta indígena ocupa o centro.
O EP reúne quatro faixas e um instrumental. É rap com manifesto. “Ele é uma crônica com começo, meio e fim. No início, eu digo por que vim, faço promessas. Depois, ao longo das músicas, vou fazendo críticas sociais até que, no final, revelo: eu vim para cobrar a memória, porque ela foi roubada de nós”, explica.
O personagem central, Agrokilla, é uma espécie de antagonista do agronegócio. “O Agroquila é uma metáfora, ele trama uma vingança contra quem tirou algo pessoal dele. Desforra é vingança, cerratense é do cerrado. É o meu jeito de mostrar essa resistência”, resume.

No manifesto que acompanha o disco, ele reforça que a música é também uma tentativa de devolver lembranças apagadas pela história oficial. Essa busca pela memória está ligada não só à avó, mas também à luta indígena em Mato Grosso do Sul.
“Muita gente não sabe quem foi Marçal de Souza. Não estudamos sobre ele na escola. É um revolucionário que o Brasil inteiro reconhece, mas aqui quase não se fala. Quero trazer isso de volta para a discussão”, diz.
Antes de chegar ao microfone, Tato foi b-boy e DJ em rodas culturais de Campo Grande. Hoje, frequenta esses mesmos espaços como MC. Influenciado por Racionais, Criolo e Rashid, o jovem acredita que o rap é, acima de tudo, instrumento de denúncia e educação. “Meu objetivo é distribuir memória. Uma memória que foi tirada de nós e precisa ser retomada. O rap é meu jeito de fazer isso chegar até os meus iguais”, conclui.
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