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Artes

Inspirada em autoras negras, Maria recusa neutralidade na poesia

Escritora defende literatura como ato político e de resistência

Por Clayton Neves | 20/09/2025 07:48
Inspirada em autoras negras, Maria recusa neutralidade na poesia
Maria Carol é psicóloga, pesquisadora, poeta e escritora fo livro Carta aos Afetos. (Foto: Luana Chadid)

Psicóloga, pesquisadora, poeta e escritora, Maria Carol constrói sua literatura a partir de um lugar íntimo, o de quem escreve para existir e, ao mesmo tempo, abrir caminhos coletivos. Mulher negra e lésbica, autora de 'Cartas aos Afetos', ela afirma que só se reconheceu como uma possibilidade quando enxergou semelhanças em outras escritoras que vieram antes dela.

RESUMO

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Maria Carol, psicóloga, pesquisadora e escritora, usa a literatura como forma de expressão e ativismo. Autora de "Cartas aos Afetos", ela se inspira em escritoras como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Ryane Leão, encontrando representatividade e empoderamento em suas obras. Para Maria Carol, escrever é um ato político, um meio de expor sua vulnerabilidade e criticar a sociedade, especialmente a violência contra corpos marginalizados. Sua participação na Feira Literária de Bonito (FLIB) reforça seu desejo de inspirar outras escritoras negras e lésbicas a ocuparem espaços literários. A escrita de Maria Carol, profundamente pessoal, aborda temas íntimos e busca romper com a neutralidade, reivindicando o direito à existência e ao respeito. A autora transforma suas vivências em poesia, utilizando a literatura como instrumento de resistência e afirmação.

“Eu realmente só entendi que eu era uma pessoa possível quando eu conheci outras pessoas como eu”, lembra. Esse encontro, segundo ela, veio com a leitura de Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Ryane Leão.

“Lendo e escutando essas referências, e vendo que a gente tem muitas semelhanças, eu entendi que realmente é possível, que a gente tem o direito de contar a nossa história, de se dizer como escritora”, avalia.

O exemplo de Carolina Maria de Jesus é citado por Maria Carol como fundamental. “Mesmo com todo um contexto nada a favor daquela escrita, ela sempre soube o poder daquilo que fazia. Sempre soube que era a forma dela existir, criticar, se posicionar. Ela sempre coloca que é uma mulher negra que escreve e que tem esse direito. Isso é sobre ela, é sobre a gente”, destaca.

Essa percepção foi um espelho, que hoje a move a ocupar espaços como a Flib (Feira Literária de Bonito), onde participou de roda de conversa e compartilhou sua trajetória. “Eu fico imensamente feliz de estar na Flib, de participar de outros eventos, de estar sendo lida. Espero que isso seja uma ponte, não é sobre mim. Eu não quero ser a única, quero que outras de nós estejam nesses lugares também”, pontua.

Inspirada em autoras negras, Maria recusa neutralidade na poesia
Escritora participou de roda de conversa na Feira Literária de Bonito. (Foto: Luana Chadid)

Para ela, se reconhecer no outro é um ponto de partida, mas transformar vivências pessoais em literatura exige enfrentamento. De acordo Maria Carol, foi preciso tempo e terapia até aceitar que expor sua intimidade poderia ser também um gesto de potência.

“No começo eu pensava muito na minha família, nos vizinhos, nos parentes, como reagiriam ao ler partes tão íntimas de mim. Isso me fez recuar, teve momento que eu parei de escrever. Mas depois entendi que está tudo bem dizer tudo isso. Minha escrita é essa escrita íntima, que conta detalhes. Eu fui fazendo as pazes com a minha existência, com a minha forma de escrever”, avalia.

Hoje, ela enxerga na vulnerabilidade uma fonte criativa. O que antes era receio, tornou-se matéria de força.

“Eu vejo a escrita como algo extremamente político, crítico, e faço questão de que a minha escrita seja uma escrita posicionada. Ela não é neutra. Ela critica a sociedade, critica a branquitude, critica como nossos corpos são violentados a todo momento, e não me interessa ser nada neutra”, afirma.

Fazendo poesia, Maria reconhece a literatura como um ato de resistência e existência. “Por mais difícil que seja, por mais expostos que estejamos, não me interessa que seja diferente, porque a gente está aqui reivindicando o nosso direito de existir, nosso direito de sermos respeitados”, finaliza.

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