Setembro amarelo: preste atenção aos sinais
Setembro Amarelo é mais do que uma campanha, é um chamado urgente para enxergarmos o que, muitas vezes, preferimos não ver. O suicídio não acontece de repente, ele costuma ser antecedido por sinais, ainda que sutis, que revelam a dor silenciosa de quem já não encontra sentido em continuar. Reconhecer esses sinais pode salvar uma vida.
O silêncio que fala
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Nem sempre a pessoa que está sofrendo verbaliza diretamente seu desejo de morrer. Muitas vezes, o silêncio se torna mais longo, a ausência mais constante, o brilho nos olhos se apaga devagar. Aquele amigo que antes estava sempre presente pode começar a se isolar, recusar convites, evitar contatos. É como se o mundo se tornasse pequeno demais para a imensidão da dor que ela carrega.
Mudanças de comportamento
Alterações repentinas no comportamento podem ser um alerta importante. Alguém que sempre foi alegre pode se mostrar irritado ou apático. Ou o contrário: pessoas que sempre foram reservadas podem começar a se expor de forma incomum. A instabilidade emocional, quando constante, pode indicar sofrimento profundo.
Falas e pistas sutis
Frases como “não aguento mais”, “a vida não faz sentido”, “vocês ficariam melhor sem mim” não devem ser ignoradas. Mesmo quando ditas em tom de desabafo ou brincadeira, carregam um peso que precisa ser levado a sério. Quem pensa em desistir da vida, muitas vezes, dá pistas verbais, como se estivesse pedindo ajuda de forma indireta.
Alterações na rotina
Mudanças no sono (insônia persistente ou sono em excesso), falta de apetite ou alimentação compulsiva, descuido com a aparência e abandono de atividades que antes eram prazerosas são sinais que merecem atenção. O corpo, assim como a mente, expressa o que a palavra não consegue dizer.
Despedidas e desapego
Em alguns casos, a pessoa pode começar a se despedir de forma sutil: entregar objetos de valor pessoal, escrever mensagens incomuns, revisitar memórias, pedir perdão ou agradecer de maneira intensa. Pequenos gestos podem esconder a tentativa de encerrar ciclos.
O peso invisível
É importante lembrar que os sinais não são sempre claros. Há pessoas que escondem a dor atrás de sorrisos, que parecem fortes, mas estão em pedaços por dentro. É por isso que a escuta atenta, o acolhimento e o interesse genuíno pelo outro são tão importantes. Perguntar como alguém está, oferecer companhia, dar espaço para que a dor seja dita sem julgamento, pode fazer diferença.
O que fazer diante dos sinais?
Escute sem criticar. Muitas vezes, quem sofre não quer soluções prontas, apenas ser ouvido.
Mostre presença. Um simples “estou aqui para você” pode ser um apoio poderoso.
Estimule a busca por ajuda profissional. Psicólogos e psiquiatras são fundamentais nesse processo.
Não subestime nenhuma fala ou atitude. Todo sinal deve ser levado a sério.
O Setembro Amarelo nos lembra que a vida de cada pessoa importa e que podemos ser pontes de esperança para quem já não enxerga saída. Prestar atenção, acolher e agir pode ser o fio que impede uma vida de se romper.
(*) Cristiane Lang, psicóloga especializada em oncologia
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