Agenor fez horta acessível na porta de casa e toda vizinhança respeita
Vizinhos respeitam espaço que virou um refúgio verde em meio à calçada cheio de passarinhos e até borboletas
Em um cantinho na região do Novos Estados há um portal para outra realidade bem ali na calçada: é a horta de Agenor Viali, 88 anos, que transformou o concreto em frente à sua casa em um refúgio verde respeitado até pelos vizinhos. Depois de uma vida inteira cercado por graxa e motores como mecânico de manutenção, Agenor trocou as máquinas pesadas pela leveza das plantas e inventou seu próprio cantinho de paz, exatamente onde os carros passam apressados.
É ali, entre folhas e flores, que ele vive o ritmo desacelerado que tanto mereceu. Entre uma rega e outra, dezenas de passarinhos aparecem para fazer companhia, pousando sem medo para beliscar a comida que Agenor deixa preparada todo dia. As borboletas também fazem visita: dançam no ar como se soubessem que aquele pedaço de asfalto ganhou alma.
“Comecei aproveitando o trecho de escoamento de chuva para plantar um pé de pinho, depois veio a pitanga e fui me empolgando. Hoje tem mamão, fruta do conde, cebolinha e umas folhas de salada”, conta, com um brilho no olhar de quem encontrou um jeito de florescer na velhice junto com a horta.
Mesmo com a horta acessível a quem passa pela rua, Agenor diz não ter grandes problemas e afirma que toda a vizinhança respeita o espaço. “Ninguém mexe, não. Teve só uma vez em que passou um abençoado e levou um maço de cebolinha, mas foi só dessa vez. Todo mundo sabe que aqui mora um bom vizinho”, conta.
Sentado em uma cadeira de fio, ele passa horas vigiando as plantações e observando a passarinhada que pousa sobre a fiação elétrica, se espalha pelo chão e cerca a pequena horta em frente à casa.
“Tem rolinha, juriti, e a maioria são canários. Os de penugem amarela são os machos, que se destacam para chamar a atenção das fêmeas”, comenta.
O cuidado com os pássaros virou quase um ritual sagrado. Todos os dias, Agenor troca a comida deles, e essa rotina simples transformou a paisagem da rua: não é raro ver a fiação elétrica tomada por passarinhos que já decoraram o caminho até a casa onde sempre haverá algo para beliscar.
Mas não são apenas os pássaros e as hortaliças que trazem serenidade para o aposentado. Dentro de casa, a paixão pelas pinturas toma conta das paredes de cada cômodo, como se cada metro quadrado carregasse um pedaço do mundo que ele imagina e recria. Autodidata, Agenor nunca fez curso, começou sozinho, levado apenas pela curiosidade e a vontade de colocar cor em tudo.
Hoje, são dezenas de quadros espalhados pela casa, todos assinados por ele mesmo. “Eu fui pegando e pintando. Nunca fiz curso, só fui fazendo por instinto”, explica o mecânico que virou pintor e que parece ter descoberto, nas tintas e nos pincéis, mais uma forma de florescer.
As telas retratam paisagens, animais e cenas cotidianas de quem aprendeu a enxergar beleza nas coisas pequenas. Tem quadro de arara, cavalo, de calopsita e até releituras de monumentos históricos. “É uma vida tranquila, uma rotina que eu gosto”, avalia.
Ao lado da esposa, uma costureira de 80 anos com quem Agenor é casado há 50 anos, o aposentado passa dias tranquilos plantando hortaliças e na companhia de passarinhos. “Aqui eu fico até a hora que eu partir desse mundo. E nem estou com pressa pra isso”, brinca.
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