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Comportamento

De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa

Trajetória do funcionário está vinculada à história do hospital hoje contada em "museu"

Por Inara Silva | 30/06/2025 09:38
De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa
Sebastião Parente é o curador do Centro Histórico e Cultural da Santa Casa. (Foto: Paulo Francis)

Aos 67 anos, Sebastião Parente Teles não guarda apenas as chaves do Centro Histórico e Cultural da Santa Casa de Campo Grande; ele é a própria memória viva do maior hospital de Mato Grosso do Sul. Sua jornada, iniciada como office boy em 1978, aos 20 anos, entrelaça-se de tal forma com a instituição que foi ali que encontrou sua esposa e viu nascerem seus três filhos.

A jovem era a chefe do Arquivo do hospital e de uma amizade surgiu o amor. Logo, em 1989, decidiram se casar. Atualmente, ambos estão aposentados, mas Sebastião - que diz não conseguir ficar parado - permanece em atividade.

De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa
A lupa cirúrgica está entre os objetos que podem ser conferidos no Centro Histório (Foto: Paulo Francis)

Conhecedor das memórias e de cada detalhe dos bastidores da terceira maior Santa Casa do Brasil, hoje ele é o curador do Centro Histórico e Cultural do hospital. Inaugurado em 2019, o espaço não é só um arquivo de fotos e objetos antigos, é um baú de lembranças onde a escrivaninha dos primeiros presidentes e tantos outros itens, como a ata de criação do hospital, contam pedaços da própria vida de Sebastião, ou de histórias que ele ouviu e guardou com carinho ao longo dos anos.

“É um prazer fazer parte dessa história. Eu venho trabalhar todo dia como se fosse o meu primeiro dia. Eu amo contar a história e defender a Santa Casa. A gente só ama o que a gente conhece de verdade, por isso eu convido as pessoas a virem conhecer o Centro Histórico, a conhecerem a Santa Casa. Tenho certeza que vocês vão se encantar com este lugar”, confessa emocionado, Sebastião.

Ao longo de sua jornada, ele passou por várias funções, de office boy a faturamento, compras e internação. Mas foi no Pronto Socorro, como Gerente de Apoio Administrativo, que ele sentiu que realmente encontrou seu propósito.

De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa
Relógio de ponto que faz parte do acervo do hospital. (Foto: Paulo Francis)

Por cerca de 30 anos, ele esteve ali, numa época em que não existia regulação de leitos ou o Samu  (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Eram os próprios funcionários que faziam a triagem e classificavam a urgência de cada vida que chegava.

“Eu já até dirigi ambulância. Para mim, nunca foi um trabalho difícil. Eu gosto de atender as pessoas, ajudar as famílias.  Depois que o paciente entrava, eu fazia questão de ir ver como ele estava. E muitos me recebiam felizes e diziam: ‘Chegou meu anjo da guarda’”, recorda Sebastião, com um brilho nos olhos.

Hoje, ele cuida de um acervo que conta não só os passos da instituição até aqui - com documentos, fotos e ferramentas administrativas - mas também fala da evolução da medicina, com antigos equipamentos de uso hospitalar. No local, Sebastião mostra aparelhos curiosos como o de drenagem torácica, que é guardado em uma caixa de madeira. Ele explica que os fios e tubos metálicos, com a aparência rústica, eram utilizados para drenar o pulmão de pacientes.

Em uma mala menor, está o aparelho eletrocardiográfico, que era utilizado para verificar a atividade elétrica do coração do paciente e apontar a saúde do órgão. O resultado, obtido em forma de gráfico com as ondas do eletrocardiograma, era impresso em um papel especial. Além desses objetos, a lupa cirúrgica e seus parafusos grandes também chamam a atenção por ser bem maior e mais pesada que as utilizadas atualmente.

 108 anos de história - Antes de se tornar o maior hospital de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa de Campo Grande começou a ser sonhada em 1917, a partir de uma lista de doações apelidadas de “esmolas”, organizadas por moradores que sentiam falta de um hospital na cidade ainda pequena, com cerca de 8 mil habitantes.

Sem nenhuma instituição de saúde à época, a então comunidade da freguesia de Santo Antônio de Campo Grande viu lideranças como Eduardo Santos Pereira e Bernardo Franco Baís mobilizarem doações que variavam de 5 mil a 500 mil réis. O esforço coletivo resultou em 27 contos e 80 mil réis arrecadados por 178 pessoas.

A sociedade beneficente que deu origem à Santa Casa foi formalizada em 1919, e a sede do hospital, com 40 leitos, começou a ser construída em um terreno comprado por Baís por 10 contos de réis, em uma área de 60 mil m² na avenida Mato Grosso, visão de futuro para uma região afastada do centro na época.

De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa
A partir de 1917, lista recolhia "esmola" para a futura Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande. (Foto: arquivo).

O atendimento foi pensado desde o início para acolher tanto quem podia pagar quanto os chamados "indigentes", os doentes pobres e desamparados. Um dos símbolos desse espírito solidário foi o carroceiro José Mustafá, o Zé Bonito, que transportou gratuitamente todos os materiais de construção do hospital com sua carroça, ficando eternizado no nome do auditório da instituição.

Com 108 anos de história desde a ideia e 97 de portas abertas, a Santa Casa é hoje a terceira maior do Brasil, atendendo pelo SUS, convênios e de forma particular.

Serviço: Os interessados em conhecer o Centro Histórico e Cultural da Santa Casa podem agendar a visita pelo telefone 3322-4576. O local está aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 18h.

De office boy a guardião da memória, Sebastião vive há 47 anos na Santa Casa
Em foto de 1925, diretores aparecem em frente à pavilhão de hospital. São eles: Rogério Casal Caminha, Victor M. Pace, Eduardo Santos Pereira, João Climaco Vidal e o arquiteto Camilo Boni.

Confira a galeria de imagens:

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