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Comportamento

Darcy jogou na loteria a vida toda e venceu no amor que não acaba

"O que ficou de quem partiu" conta história de Darcy, que também moveu destinos pela educação dos filhos

Por Thailla Torres | 30/06/2025 08:56
Darcy jogou na loteria a vida toda e venceu no amor que não acaba
Darcy cresceu na área rural e adorava as galinhas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Darcy de Sousa Rezende nasceu no distrito que, ironicamente, se chama “Fala Verdade”, em Rio Negro. E foi exatamente assim que viveu por 83 anos: sem rodeios, com a coragem de quem aprendeu desde menina que a vida exige mais do que sorte, exige persistência. “Minha mãe foi uma guerreira e muito inovadora pra época”, conta Fátima Rezende, uma das filhas dessa mulher que, mesmo antes de sonhar com a loteria, já apostava alto na educação e no futuro dos filhos.

Na casinha de sapé, com chão batido e água carregada na cabeça desde o córrego, Darcy enfrentou a seca, a falta e as expectativas miúdas que se tinham para mulheres de sua época. Ainda assim, não hesitou em mover o destino inteiro para garantir que seus filhos não parassem na 3ª série, como mandava o “normal” daquele tempo. “Viemos morar com tios na capital só com a minha mãe. Hoje somos gratos em reconhecer o quanto o ensino foi fundamental e transformador em nossas vidas”, diz Fátima.

Darcy jogou na loteria a vida toda e venceu no amor que não acaba
Darcy, jovem, ao lado do marido Antenor Alves de Rezende e os filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas Darcy não sonhava só para os filhos. Sonhava também com números. Conheceu a loteria pelas mãos de uma mulher que trabalhava na fazenda e logo passou a marcar cartelas que eram levadas pelo caminhão do leite até a capital.

Fazia tudo às escondidas do marido. A cada carro novo que chegava no quintal, anotava a placa, “não gastava muito, e os próprios filhos já davam dinheiro pra essa finalidade”, lembra Fátima, com ternura.

A história dela não termina em prêmio acumulado. Embora tenha ganhado pequenos valores, o maior troféu nunca veio em dinheiro. Veio em risos, lembranças e memórias que hoje valem mais do que qualquer bolada. Porque ninguém esquece Darcy: a mulher que comia banana todos os dias para manter a saúde, que adorava as galinhas ciscando pelo quintal, que soltava piadas de português com a mesma rapidez com que entregava uma resposta sagaz. “Ao mesmo tempo que tinha uma sabedoria ímpar, minha mãe tinha o humor”, recorda Fátima.

Darcy jogou na loteria a vida toda e venceu no amor que não acaba
Darcy tinha uma sabedoria e um bom humor a qualquer hora do dia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Darcy amava como quem aposta tudo. Vibrava a cada nova gravidez anunciada na família, agradecia em orações, ajudava com o que pudesse, fosse uma lata de leite, fraldas ou remédios. A casa vivia cheia: “Tudo era motivo pra um almoço”, relembra a filha. Foi assim que ela atravessou gerações, sendo não só mãe de sete, mas avó de 15 e bisavó de 10, em uma família que fez questão de multiplicar não apenas herdeiros, mas afeto.

No primeiro ano após sua partida, em decorrência de complicações de uma cirurgia, Darcy permanece viva em cada prato compartilhado, em cada risada ecoada em rodas de conversa, em cada esperança de que dias melhores sempre vêm. Como define Fátima, em palavras que soam como prece e poesia:

Mesmo com ausência física, a presença dela continua em cada gesto, cada valor que deixou, cada memória compartilhada. Um ano depois de sua partida, celebramos tudo o que ela conseguiu ser e tudo o que ainda é viva em nós. Mãe, você conseguiu ser eterna: eternamente amada, eternamente lembrada. Eternamente nossa.”

E assim, entre sonhos de loteria e vitórias silenciosas, Darcy ganhou o maior prêmio que alguém pode receber: ser lembrada com amor.

Darcy jogou na loteria a vida toda e venceu no amor que não acaba
Darcy ao lado do filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

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