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Comportamento

Amor sem distância: há anos longe, pai viajou 700 km para doar órgão à filha

Anna Laura ganhou qualidade de vida e a rotina de volta graças ao amor incondicional do pai

Cassia Modena | 13/08/2023 11:22
Deoclécio e a filha Anna Laura em dezembro de 2021, pouco antes do transplante (Foto: Arquivo pessoal)
Deoclécio e a filha Anna Laura em dezembro de 2021, pouco antes do transplante (Foto: Arquivo pessoal)

Mais de 700 quilômetros longe e 14 anos vendo a filha só nas férias, não mudaram em nada o amor de pai que fez Deoclécio Vechi, 61, viajar de Foz do Iguaçu (PR) a Campo Grande (MS) para doar "um pedaço" de si mesmo a ela. Transplantar um rim foi a prova que amor paterno não conhece distância nem tempo.

O amor desse pai também não conhece decisões arriscadas, já que toda cirurgia os tem envolvidos, por mais simples que seja. Ao saber da compatibilidade sanguínea dos dois, Deoclécio decidiu que valia enfrentar o que fosse para ajudá-la.

Diante da escassez de órgãos disponíveis para transplantes, receber doação de pessoa viva da própria família é a opção mais viável para quem precisa de um rim, porção de fígado ou medula óssea. "Desde o início meus familiares se prontificaram a serem meus doadores, mas, ali eu já sabia que poderia ser o meu pai, por termos o mesmo tipo sanguíneo e ele ser uma pessoa saudável, atendendo às principais exigências", confirma a filha Anna Laura de Barros Vechi, 30.

Oferecer o próprio rim não foi algo que Deoclécio fez com o "peso" de uma certa obrigação moral. "Ele sempre quis, desde o início, ser meu doador. Falava muito que queira ser. Eu queria que aparecesse um órgão de doador não vivo, porque não queria submeter meu pai à cirurgia, me sentia muito responsável e preocupada”, lembra a filha.

Apesar do medo de Ana, o transplante feito na Santa Casa de Campo Grande foi bem sucedido e ambos vivem hoje com muita saúde. Ao receber alta do hospital, ela chegou a aparecer de surpresa em Foz do Iguaçu para agradecê-lo com um abraço inesquecível. Toda a família, que mora na cidade paranaense, se emocionou com esse momento gravado em vídeo:


Era exaustivo - Ter o rim do pai transplantado significou o fim de longas sessões de quatro horas de hemodiálise que Ana fazia três vezes por semana. "É um tratamento bastante exaustivo. Passava todo esse tempo sentada numa poltrona conectada à máquina", lembra.

A filha foi diagnosticada com doença renal crônica em 2018. O transplante era a única saída para que deixasse de depender da hemodiálise para viver e levasse a mesma rotina de antes.

A partir daí, ela conta a longa saga para receber o "melhor presente da vida" do pai, no meio da pandemia de covid-19:

Em junho de 2019 iniciamos o processo do transplante pela Santa Casa de Campo Grande, é um processo bem lento e burocrático, demorou aproximadamente seis meses. Meu pai foi compatível e estava saudável a apto a doar. Enfim, foi programada a cirurgia para abril de 2020, mas, infelizmente, chegou a pandemia e foram canceladas as cirurgias eletivas, assim, pertinho do nosso sonho se tornar realidade. Entre esperas, angústias e incertezas, passei mais um ano e nove meses fazendo hemodiálise. Até que em setembro ou outubro de 2021 a maravilhosa Dra. Rafaela Campanholo me ligou e falou que queria me operar ainda aquele ano, nem que fosse passar o Natal na sala de cirurgia. Então, retomamos alguns exames. Graças a Deus estava tudo certo e, em 14 de dezembro de 2021, realizamos o transplante.

Reaproximação - Além da qualidade de vida que Ana ganhou, outro benefício foi a reaproximação ao pai. Foram muitos anos vivendo em cidades diferentes, mas, isso não conta hoje. Dividindo os rins, reforçam todos os dias o afeto incondicional que têm um pelo outro.

Os dois juntos após o transplante (Foto: Arquivo pessoal)
Os dois juntos após o transplante (Foto: Arquivo pessoal)

Como pessoa que já experienciou o que é depender de um órgão e ter que esperar muito por ele, Anna Laura faz o apelo. "Avisem seus familiares em vida. Doem órgãos. Salve uma vida. Esse é um dos maiores gestos de amor que você pode fazer".

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