Autista, Brenda fez 28 entrevistas de emprego e sonha ter 1º salário
Mãe relata que Brenda busca emprego desde 2020 e empresas não dão oportunidade devido ao diagnóstico
Ermilene Carvalho, de 42 anos, sabe dizer sem titubear quantas entrevistas de emprego acompanhou a filha Brenda Carvalho dos Santos, de 20 anos. Diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista), a jovem busca oportunidade de trabalho, que foi negada por 28 empresas diferentes, com o sonho de usar o primeiro salário para pagar o cartão e comprar vacina para o cachorro Tobias.
Ao lado da mãe, Brenda fez entrevistas para atuar em lojas, supermercados, pet shops e em empresas de grande e pequeno porte. Segundo Ermilene, o processo é sempre o mesmo, assim como as negativas dos contratantes.
“Já tentei várias entrevistas para ela. A gente marca, chega no local, conversa, explica e quando mostra o laudo dela eles falam que vão ligar. A gente aguarda, mas não acontece. Quando fala que é autista, eles falam que não tem vaga, que ela não está apta às vagas. Normalmente é assim", diz.
A busca de Brenda por uma colocação no mercado de trabalho começou em 2020. Em novembro, a jovem fez a última entrevista deste ano para trabalhar numa empresa de bebidas não alcoólicas. Após ouvir que a filha não se enquadrava no perfil, Ermilene comenta que questionou o motivo.
“A última entrevista eu fiquei chateada e até falei pra pessoa: 'Por quê? Estava ocorrendo tudo bem e agora que eu falei que ela é autista vocês pararam por aqui. Por que vocês não tem uma vaga pra ela?'. Falaram: ‘É porque ela não se enquadra no perfil'”, conta.
Para ajudar a filha, Ermilene recorreu às redes sociais onde compartilhou uma postagem com a foto da filha e relatou o desejo dela em arranjar uma ocupação. Apesar dos comentários positivos, a mãe afirma que pessoas criticaram a ação e a acusaram de expor a jovem.
“As pessoas falam: ‘Será que ela está passando necessidades?’ A questão não é ela passar necessidade, a questão é que é uma coisa que ela quer, ela está buscando por isso. É uma forma de eu integrar ela, porque nem sempre vou estar aqui, ela precisa aprender a se relacionar com outras pessoas”, pontua.
Cursando o segundo ano na Escola Estadual Padre José Scampini, Brenda tem apreço pelos animais. Na casa da família, ela cria três cachorros, um gato, dois porquinhos-da-índia e um peixe. O cuidado que ela dedica a eles é o mesmo demonstrado por animais que vivem em situação de abandono nas ruas do Bairro Coophavila II.
Sobre as recusas que sofreu das empresas, Rebeca diz se sentir triste, mas se pudesse escolher o emprego ideal seria um que envolvesse animais. “Eu queria trabalhar com bicho”, afirma. Quando ganhar o primeiro mês de salário, ela também já sabe o que irá fazer. “Quero pagar meu cartão. [...] E queria dinheiro para comprar vacina pro Tobias”, revela.
Enquanto a filha não é empregada, Ermilene faz o que pode para incentivar Brenda. “Meu esposo mexe com marcenaria e uma forma que a gente achou é de ensinar pequenas coisas. A gente incentiva ela no lugar de dar. A gente fala: 'Você tem um serviço, você vai trabalhar e o valor que você vai ganhar é tanto’. A gente ensina ela a controlar os gastos”, explica.
Orgulhosa, ela destaca que a jovem é bastante aplicada e interessada em aprender. “Ela é bem esforçada, gosta de fazer, ajudar, inventar coisas novas. Ela é bem animadinha”, ressalta.
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