ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
DEZEMBRO, DOMINGO  14    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos

Há 7 dias ela estava internada e neste sábado, em pé, recebendo aplausos com um chapéu de formatura na mão

Por Natália Olliver | 14/12/2025 07:00

Aos 78 anos, Edith Leite Recalde da Costa saiu do hospital para vestir uma beca e pegar o tão sonhado diploma. Mesmo debilitada, a estudante não desistiu de estar presente na colação e emocionou a todos na cerimônia deste sábado (13). Lutando contra um câncer de mama, Edith quase não conseguiu ir até a universidade. Há 7 dias, estava internada sem saber o que viria pela frente. No final, tudo deu certo e ela ainda recebeu aplausos nunca antes imaginados.

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Com cancer, Edith saiu do hospital para se formar aos 78 anos (Foto: Arquovo pessoal)

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Aos 78 anos, Edith Leite Recalde da Costa conquistou seu diploma universitário em Ciências Interdisciplinares pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mesmo enfrentando um tratamento contra câncer de mama e tendo estado internada dias antes da formatura, ela não desistiu de participar da cerimônia. Durante os quatro anos de graduação, Edith contou com o apoio incondicional do marido, Antonio Pacceli, que a acompanhava em todas as aulas. A cabeleireira aposentada, que concluiu o ensino médio aos 61 anos, agora planeja uma especialização em Botânica após finalizar seu tratamento de saúde.

Devido à vida corrida e à criação da filha, a cabeleireira aposentada não conseguiu estudar no tempo “regular”, como ela diz. Inclusive, foi a filha, Letícia Recalde, que inscreveu a mãe na faculdade. O interesse nasceu após completar o ensino médio, já mais velha, aos 61 anos. Depois, fez o Enem e, com a nota, aplicou para entrar na faculdade. O sonho era fazer botânica.

Edith optou por ciências interdisciplinares e agora sonha em fazer especialização para atuar na área que tanto deseja.

Ao Lado B, ela conta que se sentiu orgulhosa de si mesma e que não esperava que até pessoas desconhecidas aplaudissem e comemorassem com ela esse momento. Ela conta que foram 4 anos que ela não sentiu passar.

“Vestir a beca foi emocionante, fiquei muito feliz, me senti orgulhosa. Minha família esteve comigo sempre. Estou agradecida a Deus por permitir que eu chegasse lá, mesmo fazendo um tratamento de câncer que não é fácil. Eu não desanimei, não. Me amparei com todo o apoio da família, do marido, mas não pretendia desistir porque fiquei bastante debilitada”.

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Edith e a família; formanda e o marido, Antonio Pacceli, que acompanhou 4 anos sde luta da esposa (Foto: Natália Olliver)

O marido, Antonio Pacceli da Costa, de 66 anos, esteve com ela em todas as aulas. Ele não queria deixar a esposa sozinha e, ao invés de esperar no carro, assistia às aulas com ela e até fazia algumas provas para testar os conhecimentos.

Formado em análise de sistemas, ele até pensou em voltar para a faculdade como portador de diploma, mas desistiu e acabou só gostando de ver os conteúdos. Para ele, o orgulho define o momento. Na plateia, quando Edith agradece pelo apoio, o marido vibra de longe.

A notícia do câncer pegou ela e a família de surpresa quando Edith estava no oitavo semestre do curso. Foram meses de adaptação, professores mandavam as atividades quando ela não podia ir devido ao tratamento. Fora isso, Edith se gaba de ser uma aluna exemplar e que a frequência nas aulas foi quase 100%.

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Edith foi homenageada e aplaudida durante cerimônia de colação de grau (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu cumpri tudo antes da hora. O professor dava uma data e eu fazia. No começo do câncer eu me desesperei e depois fui reagindo. Eu nunca deixei nada pela metade. Nunca comecei algo e parei. Sou bem decidida. Às vezes chegava às 22h e estudava até 1h da manhã e, com isso, só ganhei. É muito orgulho que estou sentindo. Me sinto muito satisfeita comigo mesma porque eu consegui. Nos momentos de fragilidade, consegui ficar firme”.

Na cerimônia, Edith foi homenageada pela reitora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Camila Ítavo, que quebrou o protocolo para homenagear a aluna. Ali, ela era uma das estudantes de maior idade esperando o diploma.

“Eu deixei uma mensagem para as pessoas no sentido de que não há idade que impeça, não há situação financeira. Eu digo: se você tem uma vontade, um desejo de realizar um sonho, vá. Não importa sua idade, vá e realize aquilo que seu coração pede. Não desista nunca”.

A comemoração foi em um restaurante com poucos amigos e a família. Por lá, Edith também recebeu aplausos depois que a filha mostrou a faixa que mandou fazer para ela.
“Atravessou o tratamento e os dias mais duros sem desistir. E hoje, com o apoio de todos, transforma sua vitória em um legado inesquecível de força, coragem e conquista”, diz a mensagem.

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Edith se formou em ciências interdisciplinares aos 78 anos (Foto: Arquivo pessoal)

A formanda fala que agora aguarda pelo segundo passo acadêmico, a especialização em botânica, que também quer fazer na universidade.

“Meu tratamento de câncer é longo. Tem um segundo passo para março ou abril, como estou fazendo tratamento vou esperar concluir, que vou ficar mais livre. Estou com dificuldade de me movimentar, tenho que ter alguém do meu lado. Eu estive internada há 7 dias atrás por conta de uma infecção que me debilitou muito”.

Ela explica que nem tudo foi flores durante a graduação, mas que não deu o braço a torcer e mostrou quem ela era para ter o respeito dos alunos quase 4 vezes mais novos.

“Eu era a mais velha da sala e sou bastante arredia. Não criei inimizades, mas tinha, sim, um ou outro que ficava achando que eu era velha demais. Mas com o tempo tudo isso passou e depois até ficaram minhas amigas e me admirando. Mas foi depois de um tempo que eu mostrei a cara e quem eu sou. Ganhei fãs”.

Edith saiu do hospital para vestir beca e pegar diploma aos 78 anos
Reitora da UFMS cumprimenta Edith durante cerimônia de graduação (Foto: Arquivo pessoal)

Ela conta que antes da faculdade era cabeleireira e, quando se aposentou, há mais de 20 anos, começou a trabalhar em projetos sociais bordando e tricotando.

“Desde nova, mas sempre buscando aprender. Eu fiz licenciatura e tive que ir para o estágio na escola, dei aula de física e biologia. Não deixo a peteca cair, sou bem disciplinada. O coordenador me falou que os professores falaram ter orgulho de ser meus professores. Hoje me homenagearam e acreditei nisso, no orgulho que eles têm de mim. Foi muito gratificante e emocionante. Eu sou agradecida a Deus por me permitir estar aqui”.

A filha, Letícia, acompanhou a mãe em toda cerimônia por ela estar debilitada no momento. Ela conta que Edith chegou a operar e que ela representou a sala no dicurso.

"Apesar das dificuldades ela conseguiu. Semana passada estava no hospital e nesta semana recebendo o diploma dela.  Ela é super aplicada, chegava em casa e não queria dormir para fazer trabalho. Eu fico bem emocionada porque sou professora e doutoranda e acredito na educação, que isso não tem idade. A gente deu um ao poio mas o mérito é dela".

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.