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Comportamento

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro

Em salão simples na Avenida Crisântemos, ele coleciona gerações de clientes e 22 anos no mesmo lugar

Por Jéssica Fernandes | 17/07/2025 07:24
Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Afonso, o "Gaúcho", em frente ao salão onde atende há 22 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Em um espaço de 15 m², Afonso de Lima, de 63 anos, corta o cabelo de clientes há gerações. A parede de tijolos, o toldo laranja e as portas que ficam abertas de segunda a sábado são a porta de entrada para o salão onde o corte de cabelo custava R$ 5 em 2003, quando o “Gaúcho” começou.

RESUMO

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Em um pequeno espaço de 15 m², o barbeiro Afonso de Lima, conhecido como "Gaúcho", mantém seu salão há 22 anos na Avenida Crisântemos, em Campo Grande. Natural de Mafra, Santa Catarina, ele iniciou sua jornada na profissão aos 19 anos, inspirado pelo pai que cortava cabelo na zona rural. O estabelecimento, que antes funcionava como casa de jogos, mantém sua simplicidade original com elementos nostálgicos, como uma TV de tubo e um relógio de parede. Com preços que evoluíram de R$ 5 para R$ 30, o Gaúcho atende várias gerações de clientes, que se tornaram amigos ao longo das décadas.

Natural de Santa Catarina, ele nasceu em Mafra, e a primeira referência que teve da profissão foi o próprio pai. “Ele cortava o cabelo do pessoal da roça. Eu vi ele cortando o cabelo e um dia ele falou: ‘Você tem que ter uma profissão’”, recorda.

No ofício, Afonso vislumbrou a chance de sair do interior para trabalhar na cidade. Assim, aos 19 anos, não seguiu o caminho do Exército, e sim o da barbearia. Em 1998, Afonso já estava em Campo Grande, especificamente na Avenida Júlio de Castilho, atendendo em um empreendimento de outra pessoa.

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Aos 63 anos, ele começou no ofício quando tinha apenas 19 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Cinco anos mais tarde, em 2003, chegou à Avenida Crisântemos, 1774, para olhar o espaço que viria a ser o salão. Esse passo, segundo ele, foi dado após um amigo soltar a seguinte provocação: “Vai ficar a vida inteira trabalhando de empregado?”.

Gaúcho conta que o local funcionava como uma casa de jogos de azar. Em meio a cinco máquinas caça-níquel e a um chão bem desgastado, devido à quantidade de pessoas que frequentavam o lugar, ele novamente teve um vislumbre de seu futuro.

“Eu peguei a chave e, quando entrei, olhei, parecia que estava desenhado para mim. Foquei nesse espaço aqui”, diz Afonso, apontando para a cadeira onde atende os clientes.

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Profissional reelembra como chegou ao endereço onde trabalha, em 2003.(Foto: Henrique Kawaminami)

As máquinas caça-níquel foram substituídas, a partir de setembro de 2003, por cadeiras, lavatórios e outros objetos e materiais que o profissional foi comprando aos poucos. “Comecei do zero praticamente, não tinha quase nada”, relembra.

Na contramão de empreendimentos que ocupam o lugar com mesa de bilhar, frigobar, grandes sofás e outros elementos meio exagerados, o salão é simples, igual ao dono. São através dos detalhes do salão que é possível conhecer um pouco mais sobre a história do profissional.

Em uma das paredes está o certificado da Dystak (Escola de Cabeleireiros e Similares), datado de 14 de junho de 1993. Em letras góticas, lê-se o nome de Afonso pigmentado pelas cores preta e vermelha.

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Na parede, diploma de 1993 mostra um dos cursos que o cabelereiro fez. (Foto: Henrique Kawaminami)
Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Cartaz na parede expõe uma das leis do lugar: "Não guardo a vez". (Foto: Henrique Kawaminami)

Nos 15 m² também cabem o lavatório, dois espelhos, a poltrona do barbeiro e as três cadeiras onde os clientes esperam por sua vez, sem direito a pedir para guardar lugar. Aliás, dentro do salão isso é uma lei e tem até cartaz oficializando: “Senhores clientes, não guardo a vez. Favor não insistir! Grato”, lê-se no papel pendurado.

Afonso explica que houve um tempo em que guardava a vez, mas precisou colocar fim a essa história para não desagradar nenhum cliente. Sobre a data em que o aviso está ali, ele responde que é “desde os tempos da internet” e que foi a filha que o ajudou a digitalizar.

Mas outros elementos ajudam a compor o cenário: o relógio grande de parede, um terço abaixo dele e, em outra ponta, uma televisão de tubo de 29 polegadas da Samsung. Há quem entre nesse salão e sinta um ar nostálgico.

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Televisão de tubo é um dos detalhes que provocam nostalgia em clientes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Em outro canto, o relógio de parede mostra a passagem das horas. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Corto cabelo com o Afonso desde criança. Parece que viajo no tempo toda vez que entro no seu salão, parece que tudo está lá e não mudou durante 20 anos. Eu e meu pai temos o costume de cortar o cabelo juntos, e meu pai corta com ele há mais de 30 anos”, conta um dos clientes que, por timidez, prefere não se identificar. Aliás, uma das poucas coisas que mudaram foi o preço do corte. De R$ 5, passou para R$ 30.

O exemplo desse cliente é um entre tantos na agenda do Gaúcho, que diz atender mais de uma geração. “Tem cliente que está trazendo o filho e agora está trazendo o neto. A história é assim, eu falo que meus clientes são mais que isso, são amigos de verdade”, destaca.

Enquanto os clientes são vistos com esse carinho, o salão onde está há 22 anos é descrito da mesma forma.

Em portinha de caça-níquel, Gaúcho viu seu futuro como cabeleireiro
Para Afonso, o salão é sua casa e clientes são verdadeiros amigos. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Aqui me sinto em casa. Sabe quando você tem o prazer de vir trabalhar, receber os clientes? É assim”, pontua.

O salão do Afonso, o famoso Gaúcho para os clientes, fica localizado na Avenida Crisântemos, 1474, Bairro Lar do Trabalhador. O horário de funcionamento é das 7h às 18h, de segunda a sábado, com intervalo para o almoço.

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