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Comportamento

Geração Z apanha do rodo e até passar roupa vira drama online

Dados mostram que entre bilhões de buscas, essa geração usa a internet para aprender tarefas simples de casa

Por Thailla Torres | 29/06/2025 09:21
Geração Z apanha do rodo e até passar roupa vira drama online
A Geração Z domina o digital como ninguém, mas tropeça em tarefas que para as gerações anteriores eram quase instintivas. (Foto: Imagem Gerada por IA)

Ontem (28), 89% dos leitores do Campo Grande News que participaram de nossa enquete responderam sem titubear: acham que a Geração Z é preguiçosa quando o assunto é cuidar da casa. Só 11% defenderam os jovens, dizendo que, na verdade, eles apenas têm outras prioridades. Mas será que é preguiça mesmo ou medo de não dar conta? Afinal, para quem nasceu deslizando o dedo em telas, qualquer vassoura pode parecer uma arma medieval.

A Geração Z, composta por quem nasceu entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010, domina o digital como ninguém, mas tropeça em tarefas que para as gerações anteriores eram quase instintivas: trocar o óleo do carro, usar um esfregão ou até passar roupa. Dados do Think with Google, divulgados em maio de 2025, mostram que eles lideram as bilhões de buscas diárias no site e boa parte dessas pesquisas é sobre como fazer coisas básicas do dia a dia.

Esse movimento expõe não só um jeito novo de aprender, mas também uma transformação cultural profunda. “Pessoas consideradas da Geração Z já nasceram inseridas no mundo da tecnologia, tendo acesso muito novas a celulares, tablets, notebooks, jogos eletrônicos, entre outras plataformas que facilitaram o contato com o mundo da internet”, explica a psicóloga Amanda Torres, professora da Estácio Campo Grande. Para ela, a exposição precoce tornou a internet uma aliada indispensável e, em muitos casos, criou uma dependência que molda a forma como esses jovens lidam com a vida prática.

Mais do que vontade de aprender, o que move a Geração Z a digitar “como limpar o micro-ondas” às 3h da manhã é uma pressa por respostas perfeitas e um pânico de errar. “Vivemos cercados de redes sociais onde pessoas se comparam o tempo todo, desvalidam vivências e experiências, onde a ansiedade não dá espaço para a espera e a vivência de processos; e o medo da autenticidade, dos julgamentos, bem como do erro, se tornam prevalentes. O que isso gera? Insegurança, medo de errar e, por consequência, a busca incessante por respostas rápidas”, afirma Amanda.

Essa busca solitária, que muitas vezes dispensa a troca com pais ou avós, fragiliza a autonomia, mesmo quando parece que o jovem está conquistando independência. “Há um desejo pela autonomia instrumental, por isso há uma mobilização pela busca por informações básicas sobre atividades do dia a dia. Contudo, a busca por esta autonomia estando sempre associada à internet gera uma autonomia fragilizada, demonstrando insegurança subjetiva importante e medo excessivo”, alerta a psicóloga.

E o que se perde quando se troca a conversa na cozinha com a avó por um tutorial no YouTube? “Recorrer a familiares, professores, entre outros, para adquirir algum aprendizado não diz respeito apenas à transmissão e obtenção de informações. Há também a mediação de afetos, sentimentos de pertencimento e validações. Se esses vínculos se enfraquecem, isso pode acarretar isolamento afetivo, ausência ou empobrecimento de trocas e vínculos afetivos”, explica Amanda.

A psicóloga lembra que a falta desse contato intergeracional não só empobrece o aprendizado, mas também mina a autoestima e aumenta a insegurança, dificultando o diálogo entre diferentes gerações. “Reconhecendo que a mediação humana continua sendo insubstituível para o amadurecimento emocional, ganho de autonomia e segurança”, pontua.

Enquanto isso, o Google, com algoritmos turbinados por inteligência artificial, se transforma em oráculo e babá dessa geração. Uma pesquisa com jovens em São Paulo, Curitiba e Recife revelou que, mesmo quando o assunto é varrer o chão, a Geração Z prefere o “ok Google” a perguntar à mãe.

Esse movimento não é só nosso: nos Estados Unidos, o Pew Research mostra que mais da metade dos usuários do YouTube usa a plataforma para “descobrir como fazer coisas que nunca fizeram antes”. E no TikTok, vídeos sobre limpeza e cuidados domésticos bombam entre os mais jovens, que fazem dancinha, mas também aprendem a desentupir pia em 15 segundos.

Conectada, ansiosa e com um celular sempre em mãos, a Geração Z, que representa cerca de 30% da população brasileira, ainda tenta equilibrar o medo do fracasso com o desejo de se virar sozinha. E, enquanto a tábua de passar continuar parecendo um enigma, o Google vai seguir como conselheiro, melhor amigo e, talvez, o maior aliado dessa nova forma de crescer.

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