Lado B aceita o convite, canta e dança ao lado de Pretos Velhos da umbanda
O lugar é cheio de significados. Nas estantes, cristais, imagens de divindades e signos difíceis de explicar a quem entra pela primeira vez. Era dia de festa e o salão estava enfeitado. No meio, uma bananeira, frutas, muitas folhas, até uma mandioca, para trazer um pouco da natureza para o espaço, como em um terreiro. Na frente, um pequeno altar com imagens.
As pessoas em circulo, algumas vestidas de branco e outros com um tecido xadrez. Todos da corrente são filhos de santo, mas só os com roupas diferenciadas são médiuns.
A sacerdotisa Tânia Mara, recebe Pai Gregório, puxa os cânticos e conduz a cerimônia da festa do “Preto Velho”. É a comemoração de uma data muito especial para as religiões afro, 13 de Maio data de assinatura da Lei Áurea, a abolição da escravatura no Brasil.
O Lado B foi convidado pela Tenda Divino Espírito Santo, no bairro Tijuca, para acompanhar a festa " e ver que Umbanda não é macumba", como muito teimam em simplificar. A visita rendeu lindas imagens do repórter fotográfico Fernando Antunes e uma sensação de tranquilidade.
Com muita música e fé, fomos recebidos com cânticos como “ Hoje tem alegria. A noite de hoje tem alegria!”. Nas letras, há muitas referências históricas. “Traga o seu cachimbo. Traga o vinho do vovô. Hoje é dia de festa o cativeiro acabou.“
Pretos velhos são entidades da umbanda, espíritos de africanos, alguns deles escravos que morreram no tronco. São conselheiros. A crença atribui a eles qualidades como sabedoria, paciência e a missão de trazer amor, fé e esperança aos “seus filhos”.
“O preto vem para a terra para fazer caridade, trazer uma mensagem de fé e amor”, pontua Mary Souza, que é umbandista há mais de 30 anos.
A comemoração é um pouco estranha para quem nunca teve contato mais de perto com a umbanda, mas muito envolvente. Quando a gente percebe, já está cantando.
Algumas pessoas da roda recebem os espíritos, imediatamente assumem as características das entidades, reproduzindo até dificuldade de se locomover.
Eles sentam em banquinhos e são servidos pelas cambonas (mulheres) que oferecem cachimbo e comida, como canjica, bolo de fubá e mandioca. Depois de comerem, vão embora.
A festa mobiliza todos os frequentadores do centro, que ajudam a preparar o lugar.
A cabeleireira Luciana Santos, de 31 anos, saiu de longe para participar da festa. Ela mora na Vila Jaci e sempre frequenta o centro as segundas-feiras.
“Esse centro trabalha com uma linha de cura e a gente vem para isso, para afastar as coisas ruins da gente. A festa de hoje é mais para os membros e para as entidades, mas é legal acompanhar é um momento de paz”, comenta.
Realmente, é um ótimo convite para está disposto a deixar qualquer preconceito de lado.