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Comportamento

Morrer após usar tadalafila é raro, mas dependência emocional já ficou comum

Vendas em farmácia da Capital subiram 70% e prometem "estourar" Carnaval, como sempre, prevê farmacêutica

Por Cassia Modena e Geniffer Valeriano | 08/01/2025 10:05
Morrer após usar tadalafila é raro, mas dependência emocional já ficou comum
"Se a vida te derruba, a tadalafila levanta!": No Instagram e no TikTok, funcionários de farmácia paranaense usam humor para anunciar promoção do medicamento (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Entre os homens mais jovens, ela se populariza quase como uma dipirona: seu nome é falado em conversas de amigos, está nas trends das redes e em letras de músicas.

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A tadalafila, medicamento para disfunção erétil, tem se popularizado entre jovens, sendo adquirida facilmente e a baixo custo, mesmo sem receita. Apesar de não causar dependência química, o uso frequente pode levar à dependência emocional, principalmente em homens jovens que não possuem diagnóstico de disfunção erétil, utilizando-a como "muleta" para a confiança sexual. Embora geralmente segura, seu uso requer cautela, especialmente em pacientes com problemas cardíacos ou que utilizam nitratos, e deve ser evitado sem orientação médica, pois a combinação com outras drogas ou doses elevadas pode ser perigosa. O uso indiscriminado também pode mascarar problemas emocionais e psicológicos subjacentes à disfunção erétil.

A tadalafila é um medicamento para quem tem dificuldade de ter ou manter ereção. Não é caro e pode ser comprado sem receita médica. Em uma rede de farmácia de Campo Grande que a reportagem consultou, as versões mais baratas custam entre R$ 10 e R$ 20.

Mas o uso prolongado pode gerar outro tipo de custo, o emocional. As pílulas não produzem qualquer efeito no cérebro que cause dependência química, porém, é possível ficar dependente emocionalmente delas.

Médico e terapeuta sexual, Ricardo Gomes explica que esse problema comportamental tem sido visto principalmente no jovem adulto, que está na faixa dos 25 aos 29 anos. Inclui também quem está na "casa" dos 30 anos.

“O medicamento é indicado para quem tem disfunção erétil e para o público mais velho, que tem dificuldade na ereção associada à idade. Só que, se formos falar numa certa dependência emocional da tadalafila, vamos falar dos homens mais novos que não têm necessariamente um diagnóstico”, diz.

Essa dependência consiste em usar a tadalafila “como muleta”, compara o terapeuta. Ele observa que pacientes relatam ficar mais calmos somente por ter o medicamento no bolso, mesmo não usando antes de uma relação sexual.

Morrer após usar tadalafila é raro, mas dependência emocional já ficou comum
Caixa de genérico do tadalafila vendida em farmácia de Campo Grande (Foto: Geniffer Valeriano)

Quando o prescreve no consultório, o médico recomenda que o paciente não diagnosticado com disfunção erétil tente evitar o uso. "Eu falo: é de caráter emocional [a sua dificuldade]. Anda com ele no bolso que, qualquer coisa, você já fica mais confiante e resolve o problema", diz.

Ricardo cita, ainda, o perfil que usa a tadalafila antes de qualquer relação, pelo medo de perder a ereção. "Para ele, é meio que fim de jogo. Acaba não explorando outras possibilidades sexuais como toques no corpo e sexo oral", continua.

Na comparação entre homens héteros, gays e transsexuais, o terapeuta considera que os primeiros são os que mais fazem uso e tendem a criar dependência. Percebe que os homossexuais têm menos medo. "O homem gay acaba sentindo menos esse medo da perda da ereção. Provavelmente, porque ele fica mais em posição passiva e [pode contar] com a ereção do parceiro", acrescenta.

Entre as questões que podem dificultar uma ereção e não são biológicas, estão o nervosismo antes de ter a relação sexual em si e até estresse e ansiedade causados por fatores externos, inclusive preocupações financeiras.

 Às vezes, o homem necessita muito mais de uma terapia ou uma medicação para ansiedade, além de tentar entender melhor como funciona o seu corpo", finaliza o médico.

"Vai estourar" no Carnaval - A farmacêutica Nathalia Sabino Bavia, 27, conta que o tadalafila sai bastante no local onde trabalha. Os mais jovens pedem entrega pelo WhatsApp e pelo Ifood. Geralmente, o incluem num combo que contém juntos uma caixa de dipirona de 1 grama, uma caixa de buscofem, lubrificante e um preservativo "para garantir que nada dê errado".

As vendas, que já são boas, cresceram 70% entre o fim do ano passado e o começo deste. A previsão dela é que "vão estourar" mais ainda no Carnaval.

Morrer após usar tadalafila é raro, mas dependência emocional já ficou comum
Público do Carnaval de rua do ano passado, na Capital; época de festas aumenta venda do medicamento, segundo farmacêutica (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Nathália observa que os mais jovens compram uma caixa por vez, enquanto os mais velhos costumam fazer estoque. Ela já chegou a atender um idoso que levou 16 caixas em uma única compra.

Perigoso para o coração? - No último fim de semana, um homem de 56 anos que tinha doença cardiovascular morreu após tomar um comprimido de tadalafila, segundo a testemunha não identificada que registrou boletim de ocorrência. O caso ocorreu na Capital.

A cardiologista Adriana Ferrachini explica que mortes associadas ao medicamento são raras. "Estudos internacionais têm mostrado que o uso desta classe de medicação não aumenta a mortalidade na população em geral. No entanto, o uso do tadalafila e de outras similares em pacientes com doenças do sistema cardiovascular precisa de cautela", resume.

A médica orienta que pacientes que já tomam medicamentos à base de nitratos, como os usados para controlar a pressão arterial, têm contraindicação para o tadalafila, o viagra e outros do mesmo gênero. "É que, misturados, os dois abaixam muito a pressão. Isso causa arritmia e faz com que o coração não seja irrigado completamente. Pode causar um infarto", alerta.

Os riscos de uma parada cardíaca não estão associados somente ao uso do medicamento e a atividade sexual. Adriana relata já ter atendido pacientes que infartaram após uma relação e não haviam tomado o comprido para estimular a ereção.

Morrer após usar tadalafila é raro, mas dependência emocional já ficou comum
Homem assiste a palestra sobre o Novembro Azul, campanha que estimula população masculina a cuidar da própria saúde (Foto: Clara Farias/Arquivo)

Não podemos esquecer que o ato sexual é um esforço físico, muitas vezes o paciente não sabia que tinha um problema no coração. A maioria das doenças do sistema cardiovascular tem início silencioso, se são diagnosticadas numa fase precoce, a chance de evoluírem para um problema mais grave como AVC (Acidente Vascular Cerebral), infarto ou insuficiência cardíaca, é menor. É necessário cuidar do coração para vida saudável e o sexo faz parte de uma vida saudável", finaliza.

Mistura com outros remédios, drogas e cigarros - O urologista João Juveniz destaca que o tadalafila e seus similares são prescritos a pacientes no tratamento da disfunção erétil e no aumento da próstata. Para isso, é considerada uma solução muito boa.

Os riscos do uso livre, sem orientação médica, incluem a dependência psicológica e problemas cardíacos, se associada a outros remédios como o sildenafil, drogas ilícitas e as lícitas como a bebida alcoólica, cigarro ou vape. Pode ser bastante perigosa essa mistura, avisa o especialista.

Doses muito altas são outro risco. "Pode ser prejudicial e potencializar os efeitos deletérios. Importante usar a dose correta, indicada pela Ciência ou pelo médico, e evitar associação com outras medicações", diz.

O urologista lembra que a ereção é um "fenômeno complexo" e que, se ela não ocorrer mesmo após uma dose, é importante observar outros fatores. "Há o emocional, é preciso um despertar mental, um estímulo visual. A tadalafila atua só na parte final, que é inibir uma enzima que degrada a vasodilatação e provocar maior irrigação no corpo cavernoso do pênis", conclui.

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