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Comportamento

Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia

Há 42 anos, família faz peças de artesanato na Aldeia Babaçu, em Miranda, com ritual de banho da planta

Por Natália Olliver e Aletheya Alves | 26/11/2025 06:30
Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia
Joanil de Oliveira faz cestos enquanto a mãe, Maria Fonseca, observa (Foto: Aletheya Alves)

Aos 71 anos, Maria Fonseca observa a filha, Joanil de Oliveira, de 53, fazer os cestos que ensinou ainda na infância da menina. A tradição na Aldeia Babaçu é herança deixada aos filhos, mas o que ninguém sabe é que, para fazer os artesanatos com a taboca, planta típica do local, a família precisa esperar a lua certa. No caso, a cheia ou a minguante.

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Na Aldeia Babaçu, em Miranda (MS), Maria Fonseca, de 71 anos, e sua filha Joanil de Oliveira, de 53, mantêm viva a tradição da cestaria indígena usando taboca. O artesanato, que segue rituais específicos, só pode ser feito durante as luas cheia ou minguante, e a colheita da matéria-prima deve ocorrer antes do nascer do sol.A atividade, que já foi principal fonte de renda da família quando Maria vendia os produtos na estação de trem em Aquidauana, hoje enfrenta desafios para sua continuidade. Joanil lamenta que os jovens não demonstrem interesse em aprender o ofício, ameaçando a sobrevivência desta tradição cultural que passa de geração em geração.

Além de colher no momento específico, ainda existe um ritual para que o material consiga ser usado, o chamado “banho na taboca”. O aviso é claro: só pode ser feito durante as luas citadas, senão não dá certo. Ela estraga e cria caruncho. Já o banho é essencial para conseguir trabalhar bem com a fibra. No processo ainda é preciso recolher a taboca antes do sol nascer para que ela não resseque.

Hoje, apesar da idade, Maria ainda faz os cestos para vender. Os produtos foram e ainda são o sustento da família, mas agora a situação é bem diferente de quando a indígena começou. Ali, cada família tem um tipo de costura, isso também é tradição no local.

Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia
Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia
Taboca só pode ser colhida na lua cheia e precisa passar por ritual de banho para dar certo (Foto: Aletheya Alves)

Para conseguir dinheiro, ela pegava um trem em Miranda, onde a aldeia está, rumo a Aquidauana. Juntava os cestos e produtos feitos com a ajuda do marido e vendia na estação e pelas ruas da cidade. Muitas vezes só deixava a estação quando tudo tivesse sido vendido.

“Aprendi a fazer com 29 anos e fui vendendo, consegui sustentar a família com o dinheiro da cestaria. A gente saía daqui umas 8h e, naquele tempo, ainda tinha trem de passageiro. A gente levava tudo na cabeça, levava meus filhos todos pequenininhos. Pegava o trem até Aquidauana. Dormíamos lá, às vezes ficávamos uns dias. Naqueles tempos ainda era bom a gente vender, a gente às vezes vendia tudo”.

Maria explica que ainda faz o trabalho, mas deixa a maior parte com a filha. Há alguns anos, por um problema de visão, ela teve que diminuir o ritmo.

Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia
Para fazer cestos de taboca, mãe e filha têm que esperar lua cheia
Família sobrevive com cestas feitas na aldeia Babaçu e vendida para turistas (Foto: Aletheya Alves)

“Aprendi com a minha mãe, mas já tinha minha filha. Eu precisava trabalhar. Na época ainda tinha o pai dela; ele entrava comigo no mato para pegar taboca. Hoje a venda diminuiu muito. Antes a gente levava na cidade e hoje tá muito difícil”.

Agora, para comprar as peças da família, as pessoas precisam ir até a Aldeia Babaçu. A visita é feita por meio do Projeto Etnocultural dos indígenas Jefferson e Edineia. A ideia é levar as pessoas para conhecer os encantos da Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda, no Pantanal Sul.

Durante a visita, Joanil ensina quem quer aprender a fazer as cestas. Com paciência, ela mostra cada ponto e onde coloca os novos filetes de taboca. Ela explica que ama o que faz e teme que a tradição acabe na geração dela.

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“Tinha 12 anos quando aprendi a fazer, minha mãe precisava disso, meu pai também. Hoje, infelizmente, os mais jovens não querem mais fazer, meus filhos nenhum sabe fazer. Eu falo: ‘estou aqui, vamos aprender’, porque um dia vou partir e vai acabar. Um dia vou partir, quem vai fazer minha cesta? Estou querendo ensinar, mas o celular está tirando eles das coisas que eram nossos deveres. Estou brigando para ver se ao menos uma começa”.

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