Fracas? Ninguém fala por que tantas meninas odeiam educação física
Chamadas de fracas ou lentas, a desistência da educação física reflete, e muito, no futuro dessas meninas

Na hora da educação física é ame ou odeie, e muita gente até desiste de fazer as aulas. As “desculpas” são inúmeras para não participar, principalmente as meninas. Mas será que a parcela que odeia realmente não gosta das atividades ou apenas da forma com que elas são feitas? Para mostrar o porquê das alunas não participarem da disciplina, o professor Guilherme Rodrigues, de 39 anos, resolveu usar as redes sociais e falar o que ninguém fala.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Professor usa redes sociais para explicar evasão de alunas nas aulas de educação física. Guilherme Rodrigues aponta que mudanças no corpo, como menstruação e desenvolvimento dos seios, associadas à comparação com meninos e comentários inapropriados, são os principais motivos. Aulas que ignoram essas questões e uniformes inadequados agravam o problema, levando meninas a abandonar a prática esportiva. Rodrigues defende a adaptação dos uniformes, a disponibilização de absorventes nas escolas e a conscientização sobre as mudanças no corpo feminino. O professor sugere aulas mais inclusivas, com opções além do futebol e com foco no bem-estar, em vez da performance. A postagem viralizou, com relatos de mulheres que compartilharam experiências negativas na educação física escolar.
Para ele, existem diversos fatores que fazem com que as meninas falem com todas as letras que detestam qualquer coisa na aula. A primeira delas é ser “forçada” a fazer atividades que não respeitam o corpo de uma adolescente, que passa por mudanças, inclusive hormonais, o que consequentemente afeta não só o desempenho, mas a vontade.
Isso inclui a menstruação e o volume dos seios, que atrapalham, e muito, as coisas. A outra é a constante comparação com os meninos e os comentários não solicitados sobre os corpos delas.
“Uma em cada 3 meninas larga as atividades quando tem 12 anos. O corpo feminino muda, mas a escola ignora que sutiã comum machuca quando corre, que a menstruação não é frescura e que compará-las com os meninos é injustiça. Elas acabam preferindo ficar no banco, inventar dor e até faltar para evitar essas situações, ouvir o quanto elas são ‘lentas’.”
O assunto foi tão bem aceito nas redes que o conteúdo viralizou, mesmo ele sendo um perfil pequeno. São mais de 1 mil comentários de mulheres que contam como odiavam a educação física justamente por isso e pelas aulas mal pensadas pelos professores.
Muitas relembram que se sentiam desconfortáveis com os uniformes da época, que eram muito justos ao corpo. Relatos de bullying feitos pelas próprias meninas também não faltam.
“Viralizou de uma forma que não esperava. Trabalho como professor do 1º ao 8º ano do fundamental já tem 10 anos. Resolvi trazer essa temática por observar que as meninas, quando chegam nessa idade, se fecham mais. No meu caso, por trabalhar em uma escola pequena e acolhedora, é mais fácil. Eu sempre acolhi essas adolescentes, nunca forçando elas a fazerem aulas, trazendo coisas que motivassem todos, não apenas aqueles alunos que gostam de se movimentar. Sempre em busca de incluir.”
Uma das soluções que o professor traz para a situação é adaptar o uniforme, disponibilizar absorventes em todas as escolas do país e parar de achar que TPM é frescura, ou que cólica é má vontade.
“Isso vira uma bola de neve, onde o abandono do esporte, o sedentarismo na vida adulta e o corpo é visto como inimigo. Mudar é possível, só basta sutiã esportivo no uniforme, kit de higiene nos banheiros, professores que escutem, aulas que incluam alongamento para cólica, opções sem ser de futebol e zero comentários sobre o corpo alheio.”
Ele conta que a recepção da postagem foi a melhor possível, que se surpreendeu com as pessoas comentando o quanto aquilo era necessário. “Eu acho que falta compreensão de alguns professores, mas também são tantas coisas que o professor tem que pensar e o de educação ainda pensa na falta de estrutura, então é algo que ainda atrapalha.”
O professor acrescenta que realmente são muitos pontos a serem pensados quando o docente vai montar a aula, mas que isso também vem da autoeducação de cada um.
“Eu me sinto feliz e sinto que tô indo pelo caminho certo, que os estudos e o trabalho vão por onde sempre quis: fazer a diferença na vida deles e também mostrar a eles uma perspectiva de vida que vai além do materialismo, que precisam ser seres humanos bons antes de tudo. Me sinto realizado.”
Para Guilherme, ouvir ou ler que um aluno o classifica como o melhor professor da vida não tem preço.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.