Senhas trocadas, receitas salvas e likes: a vida online das avós
Para acompanhar os netos, avós estão cada vez mais interessados no universo que tanto prende os mais novos
A aposentada Alzira Namiko Okumoto, de 72 anos, descobriu que ser avó na era digital tem seus desafios. O neto Samuel, de 11 anos, já lhe pregou uma peça. “Outro dia ele mudou a senha do meu iPhone. Fui ver e estava bloqueado. Ele falou que tinha trocado porque não estava conseguindo baixar não sei o quê", conta.
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Apesar da arte, ela fala com carinho da habilidade do menino com a tecnologia. “Parece que já nasce sabendo”, avalia. Embora não seja uma consumidora frequente, Alzira tem perfil em todas as redes sociais, onde aproveita para se atualizar sobre a vida da família. "Uso principalmente o Instagram. Tenho um filho que mora fora do Brasil, então, é uma maneira de estar mais perto dele", explica.
A verdade é que cada vez mais pessoas da terceira idade têm se aventurado nas redes sociais, criando perfis, consumindo conteúdos e, em muitos casos, se tornando criadores.
Seja pelo WhatsApp, Instagram, Facebook ou até mesmo o TikTok, onde avós influenciadoras somam milhões de seguidores, essa geração vem transformando o modo como envelhecemos e nos relacionamos com a tecnologia.
Aos 62 anos e avó de dois netos, Sueli de Freitas decidiu que não ficaria para trás no quesito conectividade. De tanto ver os netos assistindo e compartilhando conteúdos, foi lá e vez até perfil no TikTok. "Eu não posto vídeos, mas aprendi a mexer e de vez enquanto paro para ver uns vídeo. Eu me divirto", comenta.
Segundo ela, os vídeos de receitas são os preferimos. "Mas vejo o que meus netos colocam, coisas que falem de Deus", detalha.
Aos 61 anos, Mônica Ilia conta que não tem TikTok, mas está presente nas redes que considera úteis. “Tenho WhatsApp, Instagram, Facebook. A gente patina, mas vai aprendendo. Hoje, estamos rm um tempo em que você tem que mandar mensagem antes de ligar”, analisa.
Como assistente social, ela se interessa por conteúdos sobre política, assistência e envelhecimento, e se diz atenta a notícias falsas. “Desconfio de tudo que é suspeito, pesquiso ou pergunto se aquilo é verídico”, garante.
Já Zirleide Barbosa, de 67 anos, trabalha com políticas públicas para pessoas idosas e acompanha de perto o comportamento da própria geração. “Muitas pessoas idosas estão fazendo uso dessas ferramentas. Não é pequeno o número. Estão acessando, aprendendo a lidar”, pontua.
No dia a dia, ela consome conteúdos sobre cultura e envelhecimento. “Eu pesquiso bastante, uso muito o Instagram, mas sempre estou alertando minha neta para usar menos. É importante também ter tempo para leitura e brincadeiras”, afirma.
Na outra ponta, a relação com o digital é mais distante para Marinete Sousa Ramos de Jesus, de 89 anos. Ela usa o WhatsApp para falar com a filha que mora longe. De outra geração, ela admite que nem sabe o que é TikTok. “Esse negócio de jogo em celar e fazer vídeo, eu nem sei disso. Fui criada na roça, sempre trabalhando”, explica.
Com sete netos e oito bisnetos, ela diz que tem incentivo para mexer nas redes. "Eles que ensinam tudo. A gente vê eles mexendo e tenta aprender junto”, comenta. Para ela, é uma troca intergeracional que redefine vínculos com o digital.
Para especialistas, o contato com redes sociais pode ser benéfico para a saúde mental dos idosos, ajudando na socialização, autoestima e até no estímulo cognitivo. Mas há ressalvas e o uso deve vir acompanhado de orientação, especialmente quanto ao tempo de exposição e ao risco de golpes e desinformação.
Apesar de não se sentirem nativas digitais, essas avós mostram que nunca é tarde para se adaptar, e que tecnologia e afeto podem andar lado a lado. Como resume Mônica. “Minha obrigação agora é curtir os netos e que eles me amem muito. O resto, a gente vai aprendendo pra se enturmar", finaliza.
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