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Comportamento

Treinamento ensina moradores a não brigar com os vizinhos em novo residencial

Elverson Cardozo | 06/07/2014 07:11
Subsíndica do Tulipa, Andreia, e o marido, Fabiano, ainda estão se acostumando com a nova realidade. (Foto: Marcelo Victor)
Subsíndica do Tulipa, Andreia, e o marido, Fabiano, ainda estão se acostumando com a nova realidade. (Foto: Marcelo Victor)

O eletricista Djosney Castro da Silva, de 27 anos, morou, na última década, em uma casa no Jardim Aeroporto, mas há menos de um mês passou a viver em um apartamento no residencial Nelson Trad, Jardim Carioca, em Campo Grande. O condomínio “dele”, o Tulipa, é um dos 10 entregues pelo governo de Mato Grosso do Sul dentro do programa “Minha Casa Minha Vida”. O sonho da casa própria virou realidade, mas a rotina agora é outra.

Viver em comunidade, com os “vizinhos” dividindo o mesmo quintal, é algo que se aprende com o tempo e, para se acostumar, é preciso estar atento. “Não dá para andar pelado, fazer amor ou urinar com a janela aberta”, reclama.

Condômino de primeira viagem, Djosney já coleciona algumas gafes. “Esses dias saí do banheiro pelado e a vizinha me viu da sacada”, conta. Não foi só ele. Até a subsíndica, Andreia da Silva Muniz, de 37 anos, exibiu as curvas sem querer.

“Fui trocar de roupa perto da janela de vidro que é transparente e estava sem cortina. O vizinho que estava do outro lado me viu, mas disfarçou”.

Djosney e a esposa sempre viveram em casa e agora se sentem em um Big Brother. (Foto: Marcelo Victor)
Djosney e a esposa sempre viveram em casa e agora se sentem em um Big Brother. (Foto: Marcelo Victor)

“Aqui é como se fosse um Big Brother, mas já me acostumei”, garante o eletricista que, no condomínio, ocupa a função de segurança. O que ele mais sentiu falta, nesse primeiro mês de convivência, foi da liberdade que tinha. “A gente tem regras e tudo tem limite. Não é igual o quintal da nossa casa”, completa.

Não é igual, mas alguns, por falta de educação e consciência, não colaboram. “Já estão jogando bitucas de cigarro. Não pode”, protesta. Também é proibido circular com animais pelas áreas sociais, mas a vicê-presidente do conselho gestor, Adriana Moreira, de 35 anos, estava com “Xurinha”, sua gata, bem em frente à churrasqueira.

“Não podem proibir uma lei federal e enquanto não votarmos as normas ela pode tomar meia hora de sol. Até os presos tem direito”, brinca.

O síndico, Donizete Correa da Silva, de 44 anos, sabe da lei, mas percebeu o assunto gera discussão. “Uns querem cachorro e outros não. A gente vai ter de se valer do regulamento interno, mas vai ter uma votação sobre isso”, adianta.

No condomínio, quintal é divido. (Foto: Marcelo Victor)
No condomínio, quintal é divido. (Foto: Marcelo Victor)

Projeto - A votação pode por fim a problemas como esse, mas um treinamento específico, denominado “Projeto Conviver”, promete facilitar o relacionamento entre as famílias. A capacitação ficou à cargo da Ehma (Agência Municipal de Habitação) de Campo Grande.

É destinada ao corpo diretivo (síndicos, subsíndicos, presidente, secretário e conselheiro) e aos moradores que manifestarem interesse, pelo menos 25 de cada condomínio. “Mas a lista tem mais. O povo se interessou”, contou Andréia, a subsíndica.

O curso será longo. Terá duração de um ano e vai abranger vários pontos importantes para a boa convivência entre os 808 novos mutuários.

O módulo 1, por exemplo, tem o objetivo de explicar a origem e criação do condomínio, mostrar como funciona as partes comuns e privadas e, entre outras coisas, explicar o regimento interno. Também há informações sobre direitos e obrigações, realidade e necessidades e, inclusive, conhecimento sobre administração, atualizado de acordo com o novo Código Civil.

Ambientes de uso geral são disputados. (Foto: Marcelo Victor)
Ambientes de uso geral são disputados. (Foto: Marcelo Victor)

O treinamento será realizado por um grupo de profissionais ligados ao Ministério Público e à Consultoria em Projetos Sociais da Ehma. “É uma capacitação longa, mas muito importante”, avalia a síndica do Bromélia, Karen Patrícia Meneguetti, de 30.

Por mais de duas décadas ela também morou em casa, no Nova Campo Grande, e quando se mudou para o apartamento estranhou. “Aqui você não tem a mesma liberdade. É limitado e você é obrigado a conviver com todos os tipos de pessoas, mesmo as que não conhece. Na casa não. Cada um fica no seu canto”, afirma.

Apesar do pouco tempo de convivência coletiva, ela já tem histórias para contar. “Teve um probleminha. A vizinha não permitiu que instalasse uma antena de TV na parede tela porque tem que ser atrás, mas estamos entrando em um acordo”.

“O ser humano é complicado mesmo. Falando de uma forma grotesca, é mais fácil mexer com bois do que com gente”, resume Donizete, síndico do Tulipa.

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