Virou moda o "jomo", o novo luxo de quem cansou da vida social
Termo tem ganhado as redes e o coração da nova geração que cansou e só quer se desconectar

Se você é uma das pessoas que está se esbarrando com o termo 'JOMO' nas redes sociais e não faz ideia do que é isso, o Lado B trouxe duas psicólogas para explicar por que ele tem ganhado o coração da nova geração, que cansou da vida social e só quer desconectar. A sigla vem do inglês “Joy of Missing Out”, ou “a alegria de ficar de fora”, e chegou como resposta à síndrome 'FOMO', que é justamente o contrário: o medo de estar de fora, ou “Fear of Missing Out”.
RESUMO
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O fenômeno JOMO (Joy of Missing Out) tem ganhado destaque como contraponto ao FOMO (Fear of Missing Out), representando a alegria de ficar desconectado das redes sociais e eventos sociais. Especialistas explicam que essa tendência surge como resposta à saturação da vida digital e à constante necessidade de compartilhar experiências. Psicólogos alertam que, embora o JOMO seja benéfico para a saúde mental, é importante encontrar equilíbrio para não transformar o recolhimento em isolamento social. A prática envolve desintoxicação digital consciente, com pequenos intervalos de desconexão ao longo do dia, permitindo maior conexão consigo mesmo e experiências mais autênticas.
Não é de hoje que o cotidiano virou vitrine. O café, o treino, o pôr do sol, tudo precisa ser mostrado, provado e exibido. Há uma pressa em viver e registrar, como se o fato de não compartilhar fosse o mesmo que não existir. Mas, ironicamente, é justamente essa saturação que tem levado tanta gente a querer o contrário: o recolhimento.
A psicóloga Cristiane Lang explica que é possível treinar a mente para sentir prazer em estar desconectado, mas que isso não surge de repente. Ele vem de um processo de desaceleração, quase um reaprender a estar só.
No começo, o silêncio parece incômodo; o celular longe soa como abandono. O cérebro, acostumado às doses de dopamina das notificações, entra em abstinência. Mas, com o tempo, o barulho de fora cede espaço ao som de dentro.
“O Jomo é o prazer de não estar onde todos estão, de simplesmente viver o que é seu. É a alegria de desligar o celular e mergulhar num livro, de recusar um convite sem culpa, de saborear o presente sem precisar provar nada a ninguém”, explica Cristiane.
Com o tempo, quando substituímos esses estímulos rápidos por experiências reais, como ler, caminhar, conversar, observar, respirar, começamos a redescobrir outro tipo de prazer: o prazer lento.
“Treinar a mente para isso é um ato de coragem em tempos de exposição. É escolher a profundidade no lugar da pressa, a presença no lugar da comparação, o real no lugar do virtual. E, quando essa escolha se torna natural, você descobre algo libertador.”
A psicanalista Hilza Ferri chama atenção para o outro lado da história e diz que não há problema em se desligar e não querer estar mais em todos os lugares, ir a todas as festas, bares, saber de todas as fofocas e brigas que acontecem entre famosos e subcelebridades. O prejudicial é levar isso ao extremo.
“Estou vendo isso na geração nova, de pensarem mais, não quererem estar em tudo, se desligarem um pouco das redes, olharem para si. Isso é poder estar em falta e lidar com ela. Tem que tomar cuidado para não virar uma nova moda: ficar sempre zen, não ligar para o outro, não fazer nada além de mim. A gente precisa do outro para fazer troca, mas ele não pode ser tudo".
Cristiane pondera que o Jomo pode ser confundido com isolamento ou desinteresse social, especialmente por quem ainda associa estar presente apenas ao estar online ou disponível o tempo todo.
“Há uma diferença profunda entre se isolar do mundo e escolher viver com presença. O Jomo não é fuga, é filtro. Não é se afastar das pessoas, é se aproximar de si. Não é desprezo pela convivência, é discernimento sobre o que realmente vale sua energia.”
Segundo ela, quem vive o novo termo não rejeita o contato, apenas recusa o excesso. “É alguém que entende que a vida precisa de pausas, e que estar desconectado por um tempo não é o mesmo que estar ausente. O isolamento nasce do medo ou da dor; o Jomo, da consciência e da escolha.”
O equilíbrio está justamente em não transformar o recolhimento em fuga permanente. O segredo é observar a intenção. Se você está se desconectando para se nutrir ou para se esconder. Está escolhendo o descanso ou evitando o mundo? É aí que mora o perigo, segundo ela.
Hilza ressalta que esse movimento de estar cronicamente disponível é reflexo direto da tela e do prazer exagerado de querer estar em todos os lugares, saber de tudo e estar 100% conectado.
“São conceitos novos e extremamente complexos, pessoas cansadas. Isso tem uma relação com a falta, em não poder faltar, que vem muito do discurso capitalista do ter, de aproveitar o agora, de que ali é a felicidade. Isso coloca o sujeito em um lugar que nunca acaba, porque a falta nunca acaba. É sempre muito escravo desse olhar do outro, e a nossa geração é muito do imaginário. Para eles, a grama do vizinho é sempre mais verde. Isso achata a particularidade do sujeito.”
Desintoxicar
Cristiane ressalta que a primeira prática é a desintoxicação digital consciente e que não precisa ser radical, basta criar pequenos intervalos de desconexão ao longo do dia. Tomar café sem o celular, deixar o aparelho longe durante uma conversa, evitar o uso antes de dormir.
“Essas pausas silenciosas treinam o cérebro a não buscar constantemente estímulos rápidos e a se sentir confortável na ausência de ruído. Outra prática é o uso intencional da tecnologia. Em vez de entrar nas redes de forma automática, a gente se perguntar o ‘Por que estou acessando isso agora? O que espero encontrar aqui?’. Essa simples pausa entre o impulso e a ação reprograma o comportamento e devolve a você o controle da atenção.”
Ela explica que é fundamental reaprender a se entediar e, que o tédio que muitos evitam a qualquer custo, é um campo fértil de criatividade e reflexão.
“Quando você suporta o vazio sem corrê-lo, começa a perceber que a alegria não está no excesso de estímulos, mas na calma de poder escolher o que vale sua atenção. Do ponto de vista psicológico, o silêncio atua como uma espécie de ‘limpeza mental’.
No geral, o Jomo é um ato de autoproteção mental, uma tentativa de recuperar o espaço interior perdido entre notificações, feeds infinitos e a cobrança de estar sempre disponível. "É a decisão de não competir pela atenção alheia, de não transformar cada instante em conteúdo, de não medir o próprio valor pela repercussão.”
Posso estar com FOMO?
Um dos primeiros sinais de que você pode estar com a síndrome FOMO (estar conectada demais e com medo de perder as coisas) é a ansiedade constante por estar atualizada nas redes a cada minuto.
Segundo a psicóloga, essa urgência em se manter conectada é um sintoma de desconexão interna. Outro sinal é a fadiga mental disfarçada de distração. O foco diminui, a mente se dispersa com facilidade, e o simples ato de estar sozinha sem o celular se torna incômodo.
“É o cérebro pedindo descanso, mas o hábito o empurrando de volta ao barulho. Há também a comparação crônica: o olhar viciado em medir a própria vida pelas vidas exibidas nas redes. Isso gera um sentimento constante de insuficiência, quando o prazer do momento real depende de registro ou validação. Isso é sinal de que o Jomo precisa entrar em cena.”
Outro indício é o esvaziamento emocional. Mesmo com tanta conexão, a pessoa se sente desconectada de si, exausta, sem entusiasmo. Tudo parece muito, mas nada satisfaz.
“É o paradoxo da hiperexposição, quanto mais se mostra, menos se sente. E há, por fim, o incômodo com o silêncio, a incapacidade de simplesmente estar, de não fazer nada, de não ver ninguém, de não postar. Quando o tédio se torna insuportável, é porque o corpo desaprendeu a descansar.”
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