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Diversão

Após 34 anos, Picarelli, o dono do "não assine nada sem ler", abandona a TV

Paula Maciulevicius | 31/05/2016 06:05
Donos dos jargões mais propagados entre os telespectadores, Picarelli passou 34 anos no ar. (Foto: Alcides Neto)
Donos dos jargões mais propagados entre os telespectadores, Picarelli passou 34 anos no ar. (Foto: Alcides Neto)

Nessa segunda-feira (30) foi ao ar o último programa de televisão comandando pelo deputado estadual Maurício Picarelli (PSDB). Dos 69 anos de vida, 34 foram em frente às câmeras, mostrando as notícias policiais do Estado. Donos dos jargões mais populares entre os telespectadores, Picarelli sempre teve a equipe mais esperada na periferia de Campo Grande, mas agora isso é passado.

Foram 90 minutos de despedida do Cidade Alerta, programa da Record comandado por Picarelli depois de tantos outros. No início do ano, a afiliada da rede no Estado já havia cancelado o "Picarelli com Você", depois de sete anos no canal. 

"Minha comadre, meus amigos? Isso tem 50 anos, veio de quando eu fazia um programa de rádio em São Paulo", conta Maurício Picarelli ao Lado B. "O não assine nada sem ler é uma máxima, sendo usada nos tribunais", completa. É impossível ler tais frases sem lembrar da locução do apresentador que emendava com o "não pague nada sem recibo, quem avisa, amigo é".

Apresentador coloca família e a política como justificativas para deixar TV. (Foto: Alcides Neto)
Apresentador coloca família e a política como justificativas para deixar TV. (Foto: Alcides Neto)

Picarelli chegou a Mato Grosso do Sul em 1982, para apresentar um programa de rádio na AM Cultura e 29 dias depois, já estava à frente do "Povo na TV", do SBT. "Ele já existia com o Jonathan Barbosa, que ficou seis meses e depois eu substituí ele e fiquei 25 anos", conta.

O formato do programa popular ele afirma que saiu da própria cabeça. "Não tinha equipe de reportagem. Eu tinha que falar com o povo, que me comunicar e eram 2, 3h de duração. Eu tive que criar várias coisas: entrevistar, interagir com o público", relata.

Desde que entrou no ar, Picarelli nunca teve um programa com menos de 1h, sempre no tom sensacionalista. E quem faz televisão sabe o quanto isso é difícil. "E o meu? Nunca usei teleprompter, sai tudo da cabeça mesmo. É um dom que Deus me deu e também tenho uma diretora boa", elogia.

As matérias eram, em sua maioria, feitas pelos cinegrafistas que o acompanham há décadas. As fontes policiais levavam os repórteres a pegar o "último suspiro" da vítima.

Nas ruas, qualquer que fosse o veículo de comunicação, era chegar numa cena de crime ou de problemas quanto à infraestrutura de bairro, que se ouvia dos moradores: "É do Picarelli?" ou "Picarelli do céu".

"Isso é reflexo de 34 anos fazendo programa, sempre atendendo à população", justifica o apresentador.

Picarelli havia migrado para a Record em 2009, depois de passar pelo SBT e TV Guanandy. Nos últimos quatro meses, já havia deixado o programa da hora do almoço por decisão da casa.

"Quando voltamos de férias, a direção suspendeu e eu fiquei só à noite. Porque tinha de colocar o Balanço Geral e não dava para ficar com o Picarelli na TV. Se o público sentiu? Sentiu muito e sente até hoje", descreve.

Paralelo ao trabalho na televisão, Picarelli acumula oito mandatos como deputado estadual. Eleito desde 1987, ele não atribui aos programas a popularidade suficiente para elegê-lo. "Eu saí candidato e ganhei e estou até hoje não por causa da comunicação, mas pelo trabalho que existe", afirma.

Ao se despedir ao vivo, Picarelli explicou que passou cinco dias chorando. A decisão, segundo ele, vem por conta do tempo dedicado à televisão.

"Estou com uma idade que tenho que pensar na família e na verdade o programa, do jeito que é feito, toma muito tempo, não é só vir aqui e apresentar. É uma decisão muito difícil, mas chega um momento que... Eu tenho muito trabalho na Assembleia Legislativa e isso estava me deixando estressado. Foram esses os principais motivos", frisa o apresentador. 

Despedida foi ao vivo, em programa nessa segunda-feira. (Foto: Alcides Neto)
Despedida foi ao vivo, em programa nessa segunda-feira. (Foto: Alcides Neto)

O deputado falou de novos e "grandes" projetos, até mesmo na política. Filiado ao PSDB, explicou está à disposição do partido, agora para as eleições municipais. 

"Se o partido achar que devo ocupar algum cargo... É uma escolha do partido, não pessoal", frisou. Questionado se acha que longe das telas ele pode não se eleger novamente, Picarelli diz que "enquanto Deus permitir, serei candidato" e que nada o impede de fazer um programa de rádio em qualquer emissora.

Como pegou todos de surpresa, o apresentador fala que ainda não recebeu convites por este motivo. "Todo mundo está sabendo hoje", justificou. Mas diz que para TV não volta mais.

Porque numa segunda-feira? Picarelli respondeu que poderia ter deixado na última sexta, mas queria encerrar a carreira fazendo o sorteio de uma motocicleta, que só seria revelado nesse programa. 

A despedida ao vivo levou o público a mandar centenas de mensagens via WhatsApp. "O povo é maravilhoso. É muito gratificante encontrar pessoas adultas na rua que falam que te assistem desde pequena. Eu não vou deixar as câmeras, porque tem internet agora: tem Facebook, Youtube e eu continuo no ar", encerra. 

Picarelli diz que tem a intenção de por no ar um programa de entrevistas na internet, através de um aplicativo e que deve começar a gravar em 20 dias. "Sempre ao lado da Justiça, do Direito e da verdade, com muita fé e vencendo sempre..."

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