Investimento em ciência no agro de MS triplica e mira carne bovina sustentável
Projetos com foco em biotecnologia, mudanças climáticas e rastreabilidade recebem recursos de fundo nacional
Os investimentos públicos em ciência e tecnologia destinados à inovação do agronegócio de Mato Grosso do Sul mais do que dobram este ano em relação a 2024, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), encaminhados ao Campo Grande News. Os recursos voltados a essa finalidade somaram R$ 16,8 milhões no ano passado e saltaram para R$ 45 milhões este ano, conforme informações do consultor da entidade, Diego Guidolin.
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Os valores são provenientes de convênio entre a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Com o avanço em ciência e tecnologia, conforme os dados da Famasul, a área de pastagem vem diminuindo, impulsionada pela intensificação da pecuária e pela diversificação de outras culturas agrícolas. Em 15 anos, desde 2010, a pecuária deixou de ocupar 4,5 milhões de hectare, sendo 370 mil hectares apenas entre 2023 e 2024. “O cenário demonstra a sustentabilidade de culturas como grãos, eucalipto e cana, que crescem, sobretudo, através da conversão dessas áreas de pastagem”, disse Guidolin.
Foco dos investimentos
O titular da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), Márcio de Araújo Pereira, destaca a evolução científico-tecnológica do Estado, acompanhando os crescentes recursos captados pela fundação. Segundo ele, a totalidade dos recursos previstos para este ano visa superar desafios relacionados à ampliação da competitividade e sustentabilidade da carne bovina brasileira.
Conforme adiantou Pereira, um montante de R$ 40 milhões (exatos R$ 39.639.045,89) será publicado nesta terça-feira, 30 de julho, no Diário Oficial da União, via CNPq, para ampliação da infraestrutura de três Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) no estado. Cada instituto deve receber entre R$ 13 milhões e R$ 15 milhões.
A parceria, já oficializada com o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, prevê R$ 27,519 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fundo de fomento à ciência do país, vinculado ao MCTI. Outros R$ 11,433 milhões virão por meio da Fundect, além de R$ 685,9 mil da Capes.
Na prática, os recursos servirão para enfrentar os desafios do Brasil em garantir a competitividade e a sustentabilidade da carne bovina, especialmente em Mato Grosso do Sul, um dos principais estados pecuaristas do país. Os investimentos contemplam os INCTs da Embrapa Gado de Corte; do Bioinspir, centro de pesquisa que vem destacando no estado no mapa da biotecnologia mundial – com foco na produção de moléculas bioinspiradas como soluções para desafios agropecuários; e do PantaClima, o Centro de Pesquisa em Sustentabilidade e Mudanças Climáticas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
“Os recursos serão para criar uma infraestrutura de pesquisa altamente avançada. Inclusive, lá na UEMS será o PantaClima, para fazer o monitoramento do extremo climático no Pantanal”, disse Pereira, que também preside o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP), que reúne 27 entidades estaduais.
“Os desafios de sempre são de alinhar o crescimento econômico com a proteção e conservação ambiental”, disse.
Para o dirigente da Fundect, Mato Grosso do Sul é um dos estados que mais investem na qualificação de pessoas, desde o ensino médio até a pós-graduação, incluindo bolsas de trainees e programas de estágio do governo estadual. “Todas essas ações demonstram que Mato Grosso do Sul investe seriamente na qualificação, na infraestrutura de pesquisa e na inovação”, afirmou.
Do total de recursos aplicados em ciência e tecnologia no ano passado, de R$ 16,8 milhões, uma parcela considerável de R$ 11,8 milhões foi investida em bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado, segundo o consultor da Famasul. Outros R$ 5 milhões foram destinados ao custeio de projetos voltados à bioeconomia, biotecnologia, biodiversidade e agronegócio.
Além das bolsas de pós-graduação, também têm sido financiadas bolsas de iniciação científica e tecnológica, com destaque para ações do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), que em 2024 recebeu R$ 1,5 milhão para apoiar projetos inovadores voltados ao campo. Também foram lançados editais para estudantes do ensino médio (como o Pictec) e para startups rurais (como o Centelha 2), somando R$ 10 milhões em 2023. “Esses recursos visam fomentar novas soluções tecnológicas em áreas como agricultura de precisão, sensoriamento remoto, genética aplicada e rastreabilidade de cadeias produtivas”, reforça o consultor.
Atualmente, Mato Grosso do Sul conta com 1.745 bolsas concedidas pela Capes, distribuídas entre programas de mestrado, doutorado, pós-doutorado e professor visitante, apontam os dados da Famasul. Dessas, 230 estão vinculadas à área de Ciências Agrárias, com destaque para 116 bolsas de mestrado, 99 de doutorado e 15 de pós-doutorado. Em âmbito nacional, a Capes mantém cerca de 103 mil bolsas ativas, sendo pouco mais de 12 mil destinadas às Ciências Agrárias. No estado, a Fundect registra 2.335 bolsas em diferentes áreas do conhecimento, sendo 306 para Ciências Agrárias.
Produtividade no campo
Segundo o consultor da Famasul, os investimentos em ciência e tecnologia no setor agropecuário de Mato Grosso do Sul são, em sua maioria, de origem pública, com destaque para os recursos da Fundect, Capes e CNPq. “A ciência e a tecnologia têm contribuído de forma decisiva para o aumento da produtividade no campo em Mato Grosso do Sul, refletindo-se diretamente no crescimento das principais cadeias agropecuárias do estado ao longo das últimas décadas”, disse.
Entre os fatores que explicam esse desempenho positivo estão a adoção de sistemas produtivos mais eficientes, o uso de genética avançada, o fortalecimento da pesquisa e extensão rural e a incorporação de tecnologias digitais e industriais.
Na pecuária de corte, por exemplo, entre 2011 e 2024, a produção de carne bovina no estado cresceu 44,2%, alcançando 1,019 milhão de toneladas, mesmo com uma redução de 14% no rebanho bovino, disse o consultor citando dados do Ministério da Agricultura (MAPA) e do IBGE. Esse avanço está relacionado à intensificação das pastagens, ao investimento em genética animal e à adoção de sistemas como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em que o estado lidera em área no país.
No mesmo período, a produção de carne suína cresceu 177,8%, com aumento de 163,8% nos abates e 32,5% no rebanho, consolidando Mato Grosso do Sul como o sexto maior exportador nacional de carne suína. Já na avicultura, o crescimento foi de 35,3% no plantel, 25,3% nos abates e 21,1% na produção, com exportações de carne de frango que alcançaram 178,8 mil toneladas e geraram receita de US$ 359,3 milhões em 2024.