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Meio Ambiente

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas

Iniciativa em escola agrícola ensina na prática sobre a reutilização de recursos hídricos

Por Geniffer Valeriano | 12/10/2025 11:10
De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Projetada pelos próprios alunos, água da pia passará por filtragem para ser reutilizada (Foto: Marcos Maluf)

Entre hortas, abelhas e tanques de peixes, os alunos da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco, no distrito de Rochedinho, aprenderam que cuidar da natureza também pode transformar o ambiente em que vivem. Foi assim que, com criatividade e trabalho em grupo, eles ergueram o próprio refeitório sustentável, feito com materiais reaproveitados e um sistema próprio de filtragem das chamadas águas cinzas.

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Alunos da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco, em Rochedinho, construíram um refeitório sustentável utilizando materiais reaproveitados e um sistema de filtragem de águas cinzas. O projeto, desenvolvido dentro do programa “Controlador Jovem em Ação”, promoveu o protagonismo estudantil e a conscientização ambiental. Os estudantes aprenderam sobre reutilização de água e compartilharam o conhecimento com a comunidade. Além disso, a escola implementou uma estação de tratamento de esgoto, melhorando a qualidade de vida e ampliando a produção na cozinha experimental. A iniciativa reforça a importância da sustentabilidade e da preservação ambiental no cotidiano escolar.

A ideia surgiu dentro do projeto “Controlador Jovem em Ação”, que incentiva o protagonismo estudantil. Neste ano, os 20 participantes decidiram enfrentar um desafio: construir um espaço adequado para as refeições.

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Ao lado dos professores, alunos de quatro turmas trabalham para terminar o refeitório sustentável (Foto: Marcos Maluf)

“Eles escolheram esse refeitório porque eles não têm um espaço adequado para almoçar. A gente aqui é uma escola de tempo integral e eles almoçam cada turma na sua sala. Eles vêm, servem e voltam para a sala. Eles não tinham aquele local aconchegante. Então eles falaram assim: ‘a gente quer um refeitório’”, relembra a professora e orientadora do projeto, Crissia Fernandes Tapeti.

A estudante Bianca Coelho, de 14 anos, conta que participou de todas as etapas e atuou como executora. “Participamos de tudo, desde escolher o projeto até auxiliá-los. Nós fizemos uma análise para ver do que precisávamos na escola e, no final, decidimos pelo refeitório sustentável, algo de que a gente precisava aqui na escola.”

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Bianca já reutilizava as águas cinzas, mesmo sem saber da existência da nomeclatura (Foto: Marcos Maluf)

Todos os materiais usados foram doados, mas havia uma exigência: tudo deveria ser sustentável. Assim, as telhas tradicionais deram lugar a folhas de bacuri; a pia foi feita de um cocho de madeira reaproveitada e o chão recebeu paletes em vez de pisos e cimento.

Durante a execução, os estudantes decidiram que a água usada na pia seria reaproveitada. O processo de filtragem é dividido em cinco etapas, em declive de terreno. A água passa primeiro por um decantador e depois por três camadas de filtragem, com brita, areia e carvão, até chegar à cisterna, onde é armazenada para reutilização.

“Os alunos ajudaram: eles vieram aqui, viram, trouxeram as caixas e conferiram como é o sistema. É mais fácil para a gente, adultos, chegar e fazer, mas, quando eu faço isso, deixo de criar amor naquilo que a criança está produzindo, para ela dizer que é dela também, porque, quando uma coisa é minha, eu cuido com o melhor cuidado e maior atenção”, explica Regivaldo Ortega, coordenador do campo.

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Água da pia e da chuva serão reaproveitadas após execução do projeto dos alunos (Foto: Marcos Maluf)

Foi durante a obra que os alunos conheceram o conceito das chamadas “águas cinzas”, que são aquelas que podem ser reutilizadas após o uso doméstico, como as da pia e da máquina de lavar.

“Eu achei muito interessante porque é uma água que a gente não precisa tratar para ser utilizada. E muitas vezes a gente a utiliza sem nem saber. Por exemplo, na minha casa, a minha mãe pega a água da máquina e joga na calçada para lavar também, e eu não sabia que tinha um nome e que era uma prática realmente sustentável”, conta Bianca.

Para Ana Lia Teodoro, de 13 anos, que desenhou a planta do refeitório, a descoberta também foi uma surpresa. “Eu pensei: ‘caraca, água pode ser reutilizada desse jeito?’ Achei muito legal. Eu contei pra todo mundo. Minha família inteira já reutilizava a água e quando eles souberam o nome, ficaram: ‘nossa, isso tem nome’. Foi muito legal”, diz animada.

O aprendizado não ficou apenas dentro da escola. Os alunos percorreram as ruas de Rochedinho para ensinar à comunidade sobre as águas cinzas e o reuso da água. “Levamos para todo lugar, porque esse projeto vai muito além da escola, nos prepara para a nossa vida em comunidade”, afirma Marcela Rocha, de 12 anos.

Além do refeitório, os estudantes aprendem na prática o manejo rural e participam de atividades de campo, como o cultivo de hortaliças, flores, plantas medicinais e a criação de peixes e bovinos. Eles também têm aulas práticas de inseminação em gado, conhecem o funcionamento de um meliponário e cuidam de um minhocário.

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Alunos também reaproveitam água do tanques de peixes para rega de horta (Foto: Marcos Maluf)

Quando os tanques de peixes são limpos, a água retirada é armazenada e usada na irrigação da horta. Os alimentos cultivados servem para o consumo dos próprios alunos e para a produção de geleias, que são vendidas na comunidade. O mesmo acontece com o leite, transformado em doce na cozinha experimental, também criada pelos alunos em uma edição anterior do projeto “Controlador Jovem em Ação”.

“Depois que eles aprendem a fazer os doces e geleias, eles dizem que está barato demais, mas isso ocorre porque perceberam quanto tempo leva para fazer e o trabalho que dá. Aqui, ensinamos a eles a produzir e calcular o lucro”, conta Regivaldo.

O diretor Francisley Galdino lembra que nem sempre a escola foi exemplo de sustentabilidade. Durante anos, o acúmulo de resíduos em fossas causava mau cheiro e contaminava o solo.

De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Para o diretor Francisley Galdino o projeto sustentável dos alunos também ensinou os alunos (Foto: Marcos Maluf)

“De tempos em tempos, a gente tinha problemas no sistema de água da cozinha e do banheiro. A fossa enchia e transbordava, e precisávamos deslocar um caminhão de Campo Grande para cá, para esvaziar e limpar o reservatório. Tínhamos muito trabalho com isso, além do mau cheiro e dos impactos ao meio ambiente, que comprometiam a qualidade de vida e a saúde das pessoas”, relembra.

Em julho de 2024, a situação mudou com a chegada de uma estação de tratamento de água e esgoto, implantada em parceria com a Semed (Secretaria Municipal de Educação) e a Águas Guariroba. O sistema passou a atender tanto a escola quanto o posto de saúde do distrito.

“Eles [as crianças] acompanharam todo o processo; viram como tudo foi feito desde aqui de dentro até a estação de tratamento e participaram também da conscientização, o que faz diferença para eles e para a comunidade em termos de qualidade de vida e proteção do meio ambiente”, relata o diretor.

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Após anos sem tratamento de esgoto, estação foi instalada dentro da escola (Foto: Marcos Maluf)

Com a nova rede, a escola ganhou qualidade de vida e também ampliou a produção na cozinha experimental. “A gente conseguiu aumentar a produção porque agora a gente tem mais tranquilidade para fazer sabendo para onde vai esse resíduo que fica depois dessa produção. Então a gente conseguiu agregar qualidade na produção, conseguimos agregar mais saúde, conseguimos agregar a forma correta de produzir e uma forma politicamente correta de fazer com aquilo que é o descarte da produção”, complementa Francisley.

Hoje, a sustentabilidade faz parte do cotidiano da unidade. “Como estamos inseridos no campo, acreditamos muito que essa preservação e essa consciência são muito importantes. Então toda a escola já trabalha nesse contexto de sustentabilidade e proteção daquilo que é o nosso bem maior, a natureza”, afirma o diretor.


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