De olho no futuro, alunos criam refeitório sustentável com reuso de águas cinzas
Iniciativa em escola agrícola ensina na prática sobre a reutilização de recursos hídricos

Entre hortas, abelhas e tanques de peixes, os alunos da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco, no distrito de Rochedinho, aprenderam que cuidar da natureza também pode transformar o ambiente em que vivem. Foi assim que, com criatividade e trabalho em grupo, eles ergueram o próprio refeitório sustentável, feito com materiais reaproveitados e um sistema próprio de filtragem das chamadas águas cinzas.
RESUMO
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Alunos da Escola Municipal Agrícola Barão do Rio Branco, em Rochedinho, construíram um refeitório sustentável utilizando materiais reaproveitados e um sistema de filtragem de águas cinzas. O projeto, desenvolvido dentro do programa “Controlador Jovem em Ação”, promoveu o protagonismo estudantil e a conscientização ambiental. Os estudantes aprenderam sobre reutilização de água e compartilharam o conhecimento com a comunidade. Além disso, a escola implementou uma estação de tratamento de esgoto, melhorando a qualidade de vida e ampliando a produção na cozinha experimental. A iniciativa reforça a importância da sustentabilidade e da preservação ambiental no cotidiano escolar.
A ideia surgiu dentro do projeto “Controlador Jovem em Ação”, que incentiva o protagonismo estudantil. Neste ano, os 20 participantes decidiram enfrentar um desafio: construir um espaço adequado para as refeições.

“Eles escolheram esse refeitório porque eles não têm um espaço adequado para almoçar. A gente aqui é uma escola de tempo integral e eles almoçam cada turma na sua sala. Eles vêm, servem e voltam para a sala. Eles não tinham aquele local aconchegante. Então eles falaram assim: ‘a gente quer um refeitório’”, relembra a professora e orientadora do projeto, Crissia Fernandes Tapeti.
A estudante Bianca Coelho, de 14 anos, conta que participou de todas as etapas e atuou como executora. “Participamos de tudo, desde escolher o projeto até auxiliá-los. Nós fizemos uma análise para ver do que precisávamos na escola e, no final, decidimos pelo refeitório sustentável, algo de que a gente precisava aqui na escola.”

Todos os materiais usados foram doados, mas havia uma exigência: tudo deveria ser sustentável. Assim, as telhas tradicionais deram lugar a folhas de bacuri; a pia foi feita de um cocho de madeira reaproveitada e o chão recebeu paletes em vez de pisos e cimento.
Durante a execução, os estudantes decidiram que a água usada na pia seria reaproveitada. O processo de filtragem é dividido em cinco etapas, em declive de terreno. A água passa primeiro por um decantador e depois por três camadas de filtragem, com brita, areia e carvão, até chegar à cisterna, onde é armazenada para reutilização.
“Os alunos ajudaram: eles vieram aqui, viram, trouxeram as caixas e conferiram como é o sistema. É mais fácil para a gente, adultos, chegar e fazer, mas, quando eu faço isso, deixo de criar amor naquilo que a criança está produzindo, para ela dizer que é dela também, porque, quando uma coisa é minha, eu cuido com o melhor cuidado e maior atenção”, explica Regivaldo Ortega, coordenador do campo.

Foi durante a obra que os alunos conheceram o conceito das chamadas “águas cinzas”, que são aquelas que podem ser reutilizadas após o uso doméstico, como as da pia e da máquina de lavar.
“Eu achei muito interessante porque é uma água que a gente não precisa tratar para ser utilizada. E muitas vezes a gente a utiliza sem nem saber. Por exemplo, na minha casa, a minha mãe pega a água da máquina e joga na calçada para lavar também, e eu não sabia que tinha um nome e que era uma prática realmente sustentável”, conta Bianca.
Para Ana Lia Teodoro, de 13 anos, que desenhou a planta do refeitório, a descoberta também foi uma surpresa. “Eu pensei: ‘caraca, água pode ser reutilizada desse jeito?’ Achei muito legal. Eu contei pra todo mundo. Minha família inteira já reutilizava a água e quando eles souberam o nome, ficaram: ‘nossa, isso tem nome’. Foi muito legal”, diz animada.
O aprendizado não ficou apenas dentro da escola. Os alunos percorreram as ruas de Rochedinho para ensinar à comunidade sobre as águas cinzas e o reuso da água. “Levamos para todo lugar, porque esse projeto vai muito além da escola, nos prepara para a nossa vida em comunidade”, afirma Marcela Rocha, de 12 anos.
Além do refeitório, os estudantes aprendem na prática o manejo rural e participam de atividades de campo, como o cultivo de hortaliças, flores, plantas medicinais e a criação de peixes e bovinos. Eles também têm aulas práticas de inseminação em gado, conhecem o funcionamento de um meliponário e cuidam de um minhocário.
Quando os tanques de peixes são limpos, a água retirada é armazenada e usada na irrigação da horta. Os alimentos cultivados servem para o consumo dos próprios alunos e para a produção de geleias, que são vendidas na comunidade. O mesmo acontece com o leite, transformado em doce na cozinha experimental, também criada pelos alunos em uma edição anterior do projeto “Controlador Jovem em Ação”.
“Depois que eles aprendem a fazer os doces e geleias, eles dizem que está barato demais, mas isso ocorre porque perceberam quanto tempo leva para fazer e o trabalho que dá. Aqui, ensinamos a eles a produzir e calcular o lucro”, conta Regivaldo.
O diretor Francisley Galdino lembra que nem sempre a escola foi exemplo de sustentabilidade. Durante anos, o acúmulo de resíduos em fossas causava mau cheiro e contaminava o solo.

“De tempos em tempos, a gente tinha problemas no sistema de água da cozinha e do banheiro. A fossa enchia e transbordava, e precisávamos deslocar um caminhão de Campo Grande para cá, para esvaziar e limpar o reservatório. Tínhamos muito trabalho com isso, além do mau cheiro e dos impactos ao meio ambiente, que comprometiam a qualidade de vida e a saúde das pessoas”, relembra.
Em julho de 2024, a situação mudou com a chegada de uma estação de tratamento de água e esgoto, implantada em parceria com a Semed (Secretaria Municipal de Educação) e a Águas Guariroba. O sistema passou a atender tanto a escola quanto o posto de saúde do distrito.
“Eles [as crianças] acompanharam todo o processo; viram como tudo foi feito desde aqui de dentro até a estação de tratamento e participaram também da conscientização, o que faz diferença para eles e para a comunidade em termos de qualidade de vida e proteção do meio ambiente”, relata o diretor.
Com a nova rede, a escola ganhou qualidade de vida e também ampliou a produção na cozinha experimental. “A gente conseguiu aumentar a produção porque agora a gente tem mais tranquilidade para fazer sabendo para onde vai esse resíduo que fica depois dessa produção. Então a gente conseguiu agregar qualidade na produção, conseguimos agregar mais saúde, conseguimos agregar a forma correta de produzir e uma forma politicamente correta de fazer com aquilo que é o descarte da produção”, complementa Francisley.
Hoje, a sustentabilidade faz parte do cotidiano da unidade. “Como estamos inseridos no campo, acreditamos muito que essa preservação e essa consciência são muito importantes. Então toda a escola já trabalha nesse contexto de sustentabilidade e proteção daquilo que é o nosso bem maior, a natureza”, afirma o diretor.
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