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Meio Ambiente

Degradação do rio Taquari custa R$ 2 bilhões para a economia de MS

Aline dos Santos | 16/09/2013 08:47
Assoreamento faz surgir desertos de água às margens de rio. (Foto: João Vila)
Assoreamento faz surgir desertos de água às margens de rio. (Foto: João Vila)

A agonia do rio Taquari, protagonista do maior desastre ambiental de Mato Grosso do Sul, custa caro. “Desde que começou a degradação, o prejuízo de não produção de gado é maior que R$ 2 bilhões e se deixou de arrecadar mais de R$ 70 milhões de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias de Serviços]”, afirma a chefe-geral da Embrapa Pantanal, Emiko Resende. A instituição tem um plano de recuperação para o rio.

Recentemente, a Justiça Federal suspendeu a concessão de licenças ambientais (prévia, de instalação e de operação) até que o governo apresentasse um cronograma de ações. O relatório não foi apresentado no prazo de 90 dias e, agora, segundo os prefeitos, a liminar trava a economia de nove municípios: Sonora, Pedro Gomes, Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, São Gabriel do Oeste, Camapuã, Figueirão, Costa Rica e Alcinópolis. Além de ameaçar a construção de 600 casas do MS Forte.

Conforme a Justiça Federal, a proibição de emissão de novas licenças ambientais vai de Mato Grosso até Coxim. Já do município até o rio Paraguai – médio e baixo Taquari - estão suspensas licenças de renovação e concessão para arrombados (aberturas de canais no leito). Situação que pode ser reavaliada se o pedido trouxer estudo de impacto ambiental.

Já o preço para recuperação, não tem valor definido. “Existem várias estimativas que necessitam ser avaliadas, dependendo de como for feita a recuperação. Mas certamente é muito menor do que o valor que se deixou de arrecadar através das atividades produtivas que poderiam ter sido desenvolvidas”, salienta a pesquisadora.

O titular da Semac (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia), Carlos Alberto Negreiros Said Menezes, calcula que o investimento no planalto, o Alto Taquari, chegue a R$ 100 milhões. O custo das intervenções para combater o assoreamento e devolver o curso d’água ao leito na região de planície não foi mensurado. “São centenas de milhões de reais”, afirma Carlos Alberto.

O estudo da Embrapa revela impacto “sem precedentes” na planície pantaneira, tanto para a natureza, quanto para as atividades produtivas. “As inundações permanentes impedem a produção de alimentos para os peixes e de pasto para o gado, ou seja, é um impacto altamente negativo para a fauna e flora da região bem como a inviabilização da atividade pecuária”, salienta Emiko Resende.

Degradação do rio Taquari começou na década de 70, com plano presidencial de expansão agrícola. (Foto: Divulgação/MPF)
Degradação do rio Taquari começou na década de 70, com plano presidencial de expansão agrícola. (Foto: Divulgação/MPF)

Sem intervenções, a tendência é que o cenário piore. De acordo com a pesquisadora, se nada for feito, em alguns anos o rio pode parar de correr abaixo do arrombado do Caronal. “O que tem duas implicações claras: como será o transporte para a região se, mesmo com o rio quase não navegável nos dias de hoje, o transporte de pessoas e produtos ainda é feito por ele. Vai aumentar o fluxo de água pelo Caronal e novos arrombados surgirão, aumentando a área de inundação permanente”, enfatiza Emiko. Desta forma, novas fazendas serão alagadas, ampliando a extensão do problema econômico e social.

O João garante - O assoreamento do rio que nasce no Mato Grosso, passa pelo Estado e chega ao Pantanal, começou na década de 1970, vindo a reboque do slogan “Plante que o João Garante”. O projeto de incentivo à agricultura, que remonta ao governo do presidente João Figueiredo, é apontado como responsável pelos problemas que até hoje afetam o Taquari.

Contenção de voçoroca faz parte de plano para recuperar bacia do Taquari.
Contenção de voçoroca faz parte de plano para recuperar bacia do Taquari.

Asfixiado pela terra, o rio saiu do leito e se espalha pelas propriedades rurais, inviabilizando a produção, num verdadeiro deserto líquido. Em Corumbá, por exemplo, um milhão e meio de hectares estão debaixo de água. Diferente de qualquer outro do mundo, o rio Taquari tem peculiaridades que exigem soluções únicas.

Para a área de Planalto, o relatório da Embrapa aponta uma série de medidas, como: programas de conservação de solos com atividades produtivas que aumentem a cobertura, contenção de voçorocas, implantação de programa de preservação e recuperação de mata ciliar no alto rio Taquari, recuperação e manejo adequado das pastagens, recuperar e manter as estradas para evitar o agravamento e surgimento de erosões.

Parte da ação de recuperação das propriedades no planalto poderá ser feito com a implantação do plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) do governo federal, administrado pelo Banco do Brasil.

Na planície, devem ser feitas dragagens para restaurar os padrões de inundação anteriores às erosões e a manutenção das barrancas do rio em pontos críticos na planície pantaneira, para evitar a formação de novos arrombados.

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