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Meio Ambiente

Entenda por que onça-pintada que matou caseiro será mantida em cativeiro

Decisão foi informada pelo ICMBio e pelo Governo de Mato Grosso do Sul nesta semana

Por Cassia Modena | 26/04/2025 17:51
Entenda por que onça-pintada que matou caseiro será mantida em cativeiro
Onça anestesiada é examinada no CRAS de Campo Grande (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

A onça-pintada que atacou e matou um caseiro no Pantanal de Mato Grosso do Sul foi capturada e deverá ser mantida em cativeiro. Representante do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) falou sobre isso na última quarta-feira (23).

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Uma onça-pintada que matou um caseiro no Pantanal de Mato Grosso do Sul será mantida em cativeiro devido à alteração em seu comportamento. O animal, que apresenta sinais de habituação com humanos, foi encontrado debilitado, pesando 94 kg, quando deveria ter cerca de 120 kg. Segundo especialistas, a aproximação do felino com pessoas pode ter sido causada pela prática ilegal de ceva - oferta de alimentos para atrair animais silvestres. O Instituto Homem Pantaneiro já alertava desde 2020 sobre essa prática na região do Touro Morto, onde ocorreu o ataque que vitimou Jorge Ávalo, de 60 anos.

Mas por quê? Embora contrária à ideia de que o lugar de bicho é a natureza, a decisão é justificada pela alteração do comportamento do animal, possivelmente provocada pela ceva.

A ceva é a oferta de comida para atrair animais silvestres e facilitar a aproximação com humanos. É crime de maus-tratos e pode ser penalizada com prisão e pagamento de multa.

Rogério Cunha de Paula coordena o Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros), ligado ao ICMBio, e foi quem comentou com a reportagem o que será da onça.

A justificativa da remoção é porque é um animal que está apresentando indícios de alta habituação ao ser humano, então, isso traria grandes riscos aos pescadores, aos turistas e aos moradores”, frisou.

Durante coletiva de imprensa realizada após a captura, o veterinário e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) doutor em reprodução animal, Gediendson Ribeiro de Araújo, disse que o caso está diretamente relacionado à aceitação da presença humana entre os animais silvestres.

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Animal "dorme" sob efeito de tranquilizante para ser tirado de caminhonete e levado até o hospital veterinário do CRAS (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

O animal perdeu o medo do ser humano e isso é incomum. Não é normal que uma onça se aproxime tanto, com o barulho das chalanas e toda a movimentação. Infelizmente, vemos alguns casos de locais onde é feita a ceva, mas isso acaba causando conflito porque o animal vê a pessoa que dá a comida como alguém que não é perigoso", falou o especialista.

Aviso foi dado - O IHP (Instituto Homem Pantaneiro) alerta desde 2020 sobre a prática nos pesqueiros da mesma região onde o homem foi morto pelo felino, que é conhecida como Touro Morto e fica no encontro dos rios Miranda e Aquidauana.

“Não é natural que a onça seja alimentada por humanos. Isso não é correto e aumenta muito a possibilidade de acidentes”, falou também nesta semana ao Campo Grande News o biólogo Fernando Torquato, da ONG Panthera Brasil, que atua na proteção aos felinos silvestres.

A onça não pode se sentir confortável em ambientes com presença humana. Esses animais não são pets”, alertou ainda Torquato.

Magra e debilitada - A onça-pintada foi capturada pela PMA (Polícia Militar Ambiental) por volta das 3h de quinta-feira e levada ao CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) no mesmo dia pela manhã.

O felino demonstrou irritação ao ser filmado por alguém da equipe quando a tampa da carroceria da caminhonete onde estava foi abaixada: rugiu, deu um salto limitado à altura da jaula e colocou a pata nas grades.

Ele está magro. É um macho adulto de 94 kg que deveria estar pesando 120 kg. Passou por diversos exames veterinários ao chegar no local, que apontaram "desidratação, alterações hepáticas, renais e gastrointestinais", segundo boletim médico divulgado. Avaliações complementares foram feitas, mas os resultados ainda não saíram.

O documento ainda informou que a onça está "debilitada" e "combalida", porém, "apresenta comportamento dentro da normalidade" e reagiu bem à anestesia aplicada para ser examinada.

Transferência para instituição - Responsável pelo CRAS, o Governo de Mato Grosso do Sul informou que ele ficará em uma unidade de monitoramento do Governo Federal.

Por enquanto, segue num recinto com grades, seguro para animais e para o manejo feito por veterinários.

O animal será direcionado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para uma instituição de preservação. Essa é uma situação absolutamente atípica. É a primeira onça-pintada no Brasil a ser capturada após ataque a humano, sem dúvidas haverá muita demanda para estudar esse animal. Precisamos entender essa dinâmica”, disse o secretário-executivo estadual de Meio Ambiente, Arthur Falcette.

O caso - A vítima é Jorge Ávalo, 60, chamado de Jorginho pelos conhecidos. Ele trabalhava no pesqueiro Touro Morto há aproximadamente 20 anos e costumava mandar fotos e vídeos de onças que rondavam o local.

O homem desapareceu na segunda-feira (21), conforme relato de pescador que foi até o local comprar mel. Seus restos mortais foram encontrados no dia seguinte, em área 300 metros distante do local do ataque.

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A vítima: Jorge Ávalos, de 60 anos, caseiro em pesqueiro (Foto: arquivo pessoal)

O delegado Luis Fernando Mesquita da Delegacia de Polícia Civil de Aquidauana, onde o caso começou a ser investigado, afirmou que "não há duvida nenhuma que o ataque foi de animal de grande porte" e que não há crime envolvido.

Conscientização - O biólogo Gustavo Figueroa, especialista em manejo de fauna e diretor da SOS Pantanal, defendeu que um trabalho de conscientização seja realizado nos pesqueiros do Pantanal.

Ele lembra que o animal não deve ser recriminado pela morte do caseiro.

Elas não são vilãs, elas não estão atrás do ser humano para comer, mas se a gente interfere nesse equilíbrio, não respeita essas regras de coexistência, abre brechas para esse tipo de acidente acontecer", disse.

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Felino anestesiado e com olhos tampados, chegando ao hospital (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

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