Expedições em fazendas unem lazer, aprendizado e conservação ambiental
Pesquisadores transformam propriedades em espaços que aliam estudo e turismo
Expedições em fazendas de Mato Grosso do Sul oferecem aos turistas uma experiência única. Elas combinam lazer, aprendizado e a responsabilidade ambiental. A modalidade, conhecida como turismo científico, tem se popularizado, atraindo visitantes de diversas partes do mundo.
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O turismo científico ganha força em fazendas de Mato Grosso do Sul, combinando experiências de lazer com pesquisa e conservação ambiental. Os visitantes podem acompanhar cientistas em projetos de preservação de espécies como onça-pintada, jaguatirica e tatu-canastra, participando de expedições e manejos de animais. As propriedades rurais, como a Fazenda San Francisco, o Refúgio Ecológico Caiman e a Baía das Pedras, servem de base para pesquisadores e atraem principalmente turistas estrangeiros. A modalidade tem se mostrado tão promissora que algumas fazendas já possuem reservas até 2027, especialmente de grupos norte-americanos interessados nessa experiência única.
Além da hospedagem, os hotéis-fazenda, geralmente, oferecem safáris fotográficos, caminhada ecológica e focagem noturna. No entanto, a presença de pesquisadores tem sido um diferencial. Eles não moram na localidade, mas utilizam as instalações como base para monitoramento das mais diversas espécies do bioma.
No Pantanal de Miranda, por exemplo, a Fazenda San Francisco Agro Ecoturismo, criou um pacote turístico especial para as pessoas interessadas em conhecer o projeto Jaguatirica, desenvolvido em parceria com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Segundo a assessoria de comunicação, o turista já chega com o propósito de acompanhar os cientistas. O passeio, que começa com uma palestra sobre os hábitos e características do animal, inclui a participação em expedições com os pesquisadores, permitindo aos visitantes conhecer de perto a rotina de trabalho, como a identificação de pegadas.
Também em Miranda, o Refúgio Ecológico Caiman tem sido a base dos projetos Instituto Arara Azul, Onçafari (onça pintada), Instituto Tamanduá , Papagaio Verdadeiro e Projeto Tapirapé (anta). As experiências imersivas unem a pesquisa científica, ecoturismo e educação ambiental.
Os turistas acompanham o trabalho dos pesquisadores como observadores. No hotel-fazenda Baía das Pedras, no Pantanal da Nhecolândia, este diferencial é oferecido como algo a mais na rotina, sem custos adicionais.
Estudante de Psicologia, Vitória Gomes da Silva teve a oportunidade de vivenciar essa experiência de forma inesperada. Enquanto estava hospedada na fazenda, ela foi convidada a acompanhar o manejo do tatu-canastra, animal que é tema de um dos projetos de conservação.
“Acompanhei os cuidados que eles têm com o tatu. Pude conhecer um animal que queria há muitos anos e fiquei boquiaberta com o tamanho do tatu-canastra”, conta.
A fazenda Baía das Pedras recebe regularmente dois projetos científicos: o Incab-Ipê (Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira) e o Tatu Canastra. Por isso, a visita de pessoas interessadas em ciência é comum.
Em sua mais recente expedição em julho, a equipe da Incab-Ipê recebeu 42 pessoas. Durante o período, os visitantes acompanharam a captura e o manejo das antas. Todos foram orientados a manterem silêncio para não estressar os animais, que estavam sedados.
“Muitos diziam ‘estou me sentindo em um documentário do Discovery Channel’”, comenta a pesquisadora Patrícia Médici, coordenadora da Incab-Ipê.
Segundo ela, a experiência é uma forma valiosa de sensibilização, pois os visitantes conhecem a causa da conservação ambiental e se sentem motivados a multiplicar o que aprendem.
Estrangeiros lideram a procura por vivências científicas - A gerente administrativa da Baía das Pedras, Izabel Jurgielewicz Cavalheiro, explica que o viajante que mais se interessa pelo turismo científico é o estrangeiro. Tendência que ocorre também na Fazenda San Francisco e Recanto Ecológico Caiman.
A Baía das Pedras já tem reservas agendadas até 2027 com quatro grupos de americanos que a visitam regularmente. Em agosto, a propriedade ainda deve receber duas inglesas, mãe e filha, que virão para conhecer o projeto do Tatu Canastra, já que a jovem tem interesse em cursar biologia.
Coordenador do Projeto Jaguatiricas, o biólogo Henrique Concone informou que a iniciativa tem recebido turistas duas vezes ao ano na Fazenda San Francisco. A maioria dos visitantes vem dos Estados Unidos.
Eles acompanham o trabalho de campo, que inclui atividades de observação e monitoramento de animais até a colocação de rádio colares.
O projeto estuda a ecologia da jaguatirica e de outros carnívoros de porte médio do Pantanal e áreas naturais, principalmente locais de uso humano, como lavouras e pecuária.