Ministro diz que crítica ao Inpe é igual questionar conta de água
Na SBPC, ministro foi perguntado sobre questionamentos do presidente do Inpe, responsável pela divulgação dos dados
Indagado diversas vezes nesta sexta-feira (26), pelos jornalistas e pelo público, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, usou a comparação com o orçamento doméstico para classificar como normal questionamento feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), e apoiado por ele, sobre dados indicando aumento vertiginoso do desmatamento da Amazônia, divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). “Você paga 50 reais de conta de água, uma média, de repente em um mês vem 200 reais, você vai ficar quieto? Não”, afirmou.
No raciocínio do ministro, o cliente vai procurar a empresa, vai querer saber o que houve de errado, se a medição está certa, se não há algum tipo de vazamento. De acordo com ele, com dados científicos é a mesma coisa. “Questionamento é algo natural na ciência”, disse. No diálogo, o ex-astronauta afirmou que tem proximidade com o Inpe, justamente pela área de atuação.
Pontes veio a Campo Grande para a reunião anual da SPBC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que começou no domingo passado e vai até amanhã, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). As indagações sobre as críticas do presidente à divulgação de dados de desmatamento do Inpe foram feitas logo na chegada de Marcos Pontes, na avenida da Ciência, durante a apresentação dele, quando houve abertura a perguntas, e na entrevista aos jornalistas.
Checagem de dados - Pontes explicou que diante da estranheza sobre a revelação de um aumento muito grande no desmatamento na região amazônica, solicitou relatório do Inpe. Já recebeu, mas disse ainda não ter tido tempo de analisar as informações.
A priori, segundo ele, já foi identificado um erro na forma como os dados de satélites foram divulgados pelo Inpe, em um artigo. Segundo a explicação do ministro, o monitoramento é feito diariamente e traz alertas sobre risco de desmatamento. Na divulgação, diz, o que era alerta foi descrito como desmatamento já ocorrido. O aumento, conforme o Inpe, foi de 88% em relação ao ano passado.
O presidente criticou os dados, disse que a divulgação, sem consulta anterior, atrapalha o Brasil internacionalmente e cobrou checagem dos dados.
Em resposta, o presidente do instituto, Ricardo Magnus Osório Galvão, rebateu as críticas e reafirmou as informações. Disse, ainda, que não vai pedir demissão.
“Não sei” – Sobre a continuação de Galvão no cargo, o ministro disse que o fato dele ter rebatido o presidente pela imprensa criou situação “complexa, desconfortável”. A postura correta, avalia, seria conversar com o “chefe” e não criticá-lo publicamente.
“Para ser bem sincero eu não sei se ele fica ou se não fica. Se ele mesmo vai ter clima para ficar”, afirmou.