ONG reúne especialistas em desenvolvimento para levar vida digna a ribeirinhos
Projetos sustentáveis serão direcionados para produção, saneamento, educação e ecoturismo

Criado em 2018, com foco no assoreamento que se alastra pelos rios do Pantanal, notadamente no Taquari, onde ocorreu um dos maiores desastres ambientais devido ao mau uso do solo no Cerrado, o Instituto Agwa Soluções Sustentáveis montou um grupo de trabalho técnico-científico para desenvolver as comunidades ribeirinhas situadas no entorno do Paraguai-Mirim, afluente do Rio Paraguai, em Corumbá. Trata-se de um lugar remoto, sem a presença ativa do poder público.
RESUMO
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O Instituto Agwa Soluções Sustentáveis formou um grupo técnico-científico para desenvolver comunidades ribeirinhas no Paraguai-Mirim, em Corumbá. A região, conhecida como Payaguás dos Xarayes, abriga mais de três mil pessoas em situação vulnerável que sobrevivem da pesca e coleta de iscas. A organização, transformada em Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação, planeja implementar projetos de saneamento básico, educação e turismo sustentável. Uma parceria com o Itaju Eco Hotel já gerou 20 empregos locais, e há planos para instalar um mercado com produtos a preço de custo para beneficiar os moradores.
A região denominada Payaguás dos Xarayés tornou-se um território alagado pelo Taquari a partir da década de 1980, formado por baías de águas cristalinas, que abrigam cardumes de tucunarés (espécie exótica) e outros peixes, além de uma vegetação exuberante, atraindo pescadores e amantes da natureza. Ali vivem mais de três mil pessoas em situação vulnerável e sem perspectivas, ganhando a vida com a escassa pesca e a insalubre atividade de coleta de isca viva.

Biólogos, engenheiros, pesquisadores, professores, produtores culturais e gestores, com formação nas áreas sociais, ambientais, administrativas e econômicas, com a participação de órgãos de fomento e parceiros privados, têm o desafio de mudar a realidade atual do Paraguai-Mirim. A proposta está centrada em projetos de inovação e sustentabilidade, com geração de renda a partir da formação técnica e educacional e preservação da cultura e do ambiente.
Um novo olhar - Fundada pelo ambientalista, advogado e escritor Nelson Araujo Filho, o Agwa mudou seu modelo de atuação, transformando-se em um Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICT), com a missão de gerar conhecimento e soluções inclusivas em benefício da comunidade. Com o novo perfil, a ong será credenciada a captar recursos, por meio de financiamentos e incentivos fiscais, para desenvolver projetos e contratação de bolsistas.

“Não é um pensamento romântico em cima do meio ambiente, mas ações propositivas e projetos executáveis para melhorar a vida dos ribeirinhos, pensando no homem pantaneiro. São eles que cuidam do Pantanal”, define Moacir Lacerda, músico integrante do Grupo Acaba, engenheiro e nascido nas barrancas do Rio Paraguai, no distrito de Porto Esperança. “É uma nova visão, novos valores e crenças, com educação, saúde, produção vocacional e turismo.”
Lacerda integra o grupo de trabalho, que terá a coordenação de uma Diretoria de Inovação e Sustentabilidade chefiada por Nilde Brun, formada em Ciências Econômicas, turismóloga, com passagem pela iniciativa privada e pela Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Na mudança do Agwa para o ICT, foi eleita uma nova diretoria executiva, sob a presidência do jornalista Alex Fraga, com o vice Flávio Fontoura e a diretora financeira Rosângela Moreira.

Saneamento - Na primeira visita dos novos gestores ao Paraguai Mirim (a base da ong fica situada a 130 km por água ao Norte de Corumbá), a realidade local veio à tona. A escola municipal ensina o fundamental, o analfabetismo é alto e os jovens não tem perspectivas por falta de formação técnica. Os ribeirinhos – são famílias numerosas – vivem ali há décadas da pequena renda da pesca e catação de isca e lavoura de subsistência, com algum benefício social.
“Já enxergamos as demandas, mas faremos um diagnóstico para subsidiar projetos sustentáveis que tragam dignidade para essas pessoas e oportunidades para os jovens, evitando o êxodo, traumático pela falta de formação e vivência na cidade”, aponta Nilde Brun. Sua equipe é integrada pelas gestoras em desenvolvimento Regina Ferro, ex-diretora da Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul), e Maria Auxiliadora Martins Rosa, com atuação em planejamento estratégico e captação de recursos.

Alex Fraga adiantou que uma das primeiras intervenções será a execução do projeto de saneamento básico, dotando as comunidades de água potável e esgoto. “Vamos atuar fortemente na preservação e no desenvolvimento da região, envolvendo as pessoas”, disse, acentuando que a chegada da energia solar, implantada pelo Governo do Estado e pela Energisa, tem feito muita diferença. “A convivência com a onça também requer uma ação específica e urgente.”
Turismo – A exploração dos recursos naturais na região é uma das alternativas para envolver os ribeirinhos e gerar renda. A iniciativa do Agwa em abrir sua estrutura no Paraguai-Mirim para uma parceria com um empreendedor turístico está dando os primeiros resultados. A base tinha uma capacidade de leitos ociosa, ocupada ocasionalmente pela sua diretoria e pesquisadores, e agora é utilizada como uma unidade avançada da Itaju Eco Hotel, de Aquidauana.

Além de gerar renda para o instituto, a pousada já empregou 20 ribeirinhos, entre piloteiros, cozinheiras e camareiras. “É um projeto social, onde estamos nos ajudando, nós e o instituto, a gerar emprego local e desenvolvendo um turismo sustentável. A região tem potencial para a pesca (pesque e solte) e contemplação da natureza, atraindo muitos estrangeiros”, diz o empresário Daisson Reis. O “hotel” tem 20 leitos, com perspectivas de ampliação.
A parceria vai muito além: o próximo passo será a instalação de um pequeno mercado, com o apoio de uma rede de supermercados de Corumbá, para vender produtos alimentícios a preço de custo. Os ribeirinhos pagam o triplo pelo quilo do arroz, do feijão e de outros itens da cesta básica levados pelos mascates fluviais. “Vai ajudar muito, a gente precisava desse apoio. Tudo aqui é difícil; a pesca não dá mais o sustento”, diz a ribeirinha Francilene Silva, 33 anos, sete filhos.
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