Pantanal recebe evento inédito que resgata uso tradicional do fogo como aliado
Iniciativa busca integrar saberes tradicionais, ciência e políticas públicas para o manejo sustentável do fogo

Entre os dias 3 e 5 de abril, o coração do Pantanal sul-mato-grossense foi palco da primeira edição dos “Dias de Campo: para Resgate do uso tradicional do fogo no Pantanal”, evento pioneiro que reuniu mais de 50 participantes — entre brigadistas, fazendeiros, comunidades locais, pesquisadores, organizações públicas e não-governamentais — para debater e vivenciar o uso do fogo como ferramenta de manejo sustentável no bioma.
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O Pantanal sediou o evento "Dias de Campo: para Resgate do uso tradicional do fogo no Pantanal", de 3 a 5 de abril, reunindo mais de 50 participantes, incluindo brigadistas, fazendeiros e pesquisadores. O encontro, realizado nas Fazendas Xaraés e Alegria, visou resgatar o uso tradicional do fogo como ferramenta de manejo sustentável. O evento destacou o "fogo prescrito" como aliado na conservação, controle de espécies invasoras e redução de material inflamável. Com apoio de instituições como Wetlands International Brasil e Imasul, o evento promoveu práticas de manejo e capacitação, buscando integrar saberes tradicionais e políticas públicas para prevenir incêndios.
O encontro aconteceu nas Fazendas Xaraés e Alegria, localizadas nas regiões de Miranda-Abobral e Nhecolândia (MS), e teve como foco o resgate da sabedoria tradicional sobre o uso do fogo, a troca de experiências e a construção coletiva de soluções frente aos incêndios florestais cada vez mais frequentes e intensos no Pantanal.
Por décadas, o fogo foi tratado unicamente como vilão nas campanhas ambientais. No entanto, estudos científicos e práticas tradicionais têm mostrado que, quando bem manejado, o "fogo prescrito" pode cumprir papéis fundamentais, como o controle de espécies invasoras, a renovação de pastagens e a redução de material inflamável que alimenta grandes incêndios.

“O fogo, quando controlado e prescrito, pode ser um aliado da conservação no Pantanal. Esse encontro buscou justamente resgatar a relação entre quem vive no bioma e o uso tradicional do fogo, promovendo o entendimento de como utilizá-lo de forma estratégica e sustentável”, explicou Rafaela Nicola, diretora-executiva da Wetlands International Brasil e coordenadora científica da Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal.
Idealizado por Reinaldo Lourival, diretor-executivo do Instituto Terra Brasilis, o evento foi uma continuidade dos esforços iniciados nos anos 2000 com a formação de brigadas pantaneiras. Segundo ele, diante da atual crise climática, o momento exige novas abordagens: “Estamos vivendo uma emergência, com aumento do volume, frequência e intensidade de eventos extremos. O manejo do fogo se torna essencial.”

O evento contou ainda com a participação do pesquisador português Emanuel de Oliveira, que compartilhou as lições aprendidas com o Manejo Integrado do Fogo em Portugal. Em 2017, o país enfrentou um trágico incêndio florestal que resultou na morte de mais de 100 pessoas. “Foi um ponto de virada. Entendemos que não dá para enfrentar uma crise climática com estratégias do passado”, afirmou.
Durante os três dias de atividades, os participantes vivenciaram práticas de manejo, rodas de conversa e uma demonstração de queima prescrita conduzida pelos brigadistas indígenas kadiwéu Mesaque Rocha e Rubens Ferraz, reconhecidos pelo trabalho exemplar na Terra Indígena Kadiwéu. A queima foi realizada em um hectare da Fazenda Alegria, sob condições climáticas controladas e com todos os protocolos de segurança.

No último dia, houve ainda uma capacitação com proprietários e colaboradores da região, no modelo tradicional do “trabalho de gado”, um mutirão comunitário. A ação foi coordenada por Heitor Miraglia Herrera e sua filha Bruna Paes Herrera, e marcou a entrega de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e equipamentos de combate ao fogo para a brigada voluntária da Fazenda Alegria.
Representantes de instituições como Imasul, Prevfogo-Ibama, Corpo de Bombeiros de MS e o Sindicato Rural de Corumbá destacaram a importância da integração entre sociedade civil, órgãos públicos e comunidades locais para evitar tragédias como as de 2020, quando o Pantanal enfrentou sua pior temporada de incêndios da história.
“A gente buscou essas parcerias para combater os incêndios na região do Pantanal. Estamos entrando no período seco e a expectativa é que, com preparo e integração, não se repitam os danos do passado”, reforçou Luciano Leite, diretor do Sindicato Rural de Corumbá.
Áurea Garcia, diretora da Mupan e coordenadora de políticas da Wetlands International Brasil, afirmou que o evento foi também um espaço de construção de políticas públicas: “Precisamos incorporar os saberes tradicionais e garantir a participação das comunidades nas estratégias de prevenção e resposta aos incêndios”.

O evento encerrou-se com o compromisso coletivo de dar continuidade e ampliar as ações conjuntas em defesa do Pantanal. O fogo, antes tratado como ameaça, passa a ser reconhecido como elemento de equilíbrio, conhecimento e cuidado com a paisagem.
Realizado pelo Instituto Terra Brasilis (ITB), Mupan, Wetlands International Brasil e Imasul, o evento contou com apoio de instituições como UFMS, Nefau, Embrapa Pantanal, Corpo de Bombeiros Militar de MS, Prevfogo-Ibama, Associação de Brigadistas Kadiwéu (ABINK), e financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), por meio do Projeto GEF Terrestre, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
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