Peão atacado no Pantanal guarda presas de onça que ficaram cravadas na perna
“Ela é muito rápida, não dava tempo de reagir”, disse Flávio depois de ver a morte “de boca aberta”
RESUMO
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Um peão de 28 anos sobreviveu a um ataque de onça-pintada no Pantanal sul-mato-grossense. Flávio Ricardo Espírito Santo guarda as presas do animal que ficaram cravadas em sua perna como lembrança do incidente ocorrido na Fazenda Milagres, em 4 de outubro. Durante uma rotina de trabalho, o pantaneiro foi derrubado do cavalo pela onça ao investigar uma área com urubus. Após o ataque, conseguiu cavalgar por meia hora até a sede da fazenda, onde recebeu os primeiros socorros. Foi resgatado por helicóptero e segue em recuperação na Santa Casa de Campo Grande.
Dentro de um pequeno pote, o pantaneiro Flávio Ricardo Espírito Santo, de 28 anos, guarda as presas da onça-pintada que ficaram cravadas em sua perna. Ele viu a morte de boca aberta no dia 4 de outubro, na Fazenda Milagres, uma das regiões mais isoladas do Pantanal sul-mato-grossense. “Guardo pra lembrar que Deus me deu uma segunda chance. Foi Deus, só Ele pra me tirar dali”, comenta.
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Dias depois, ainda internado na Santa Casa de Campo Grande, Flávio falou pela primeira vez sobre o que viveu. A entrevista foi feita pelo jornalista Paulo Cruz, que o conheceu em 2022, durante o projeto Alma Pantaneira, expedição que leva atendimento médico, odontológico e veterinário às comunidades isoladas do bioma.
Ao lembrar do episódio, o peão contou que o dia parecia comum para quem vive do trabalho nas fazendas pantaneiras. Flávio e um companheiro voltavam a cavalo da rotina de campo quando viram urubus sobrevoando uma moita. “A gente sempre vai olhar, pra saber se é um cavalo ou uma vaca da fazenda. Quando cheguei perto, ela pulou na minha perna e me puxou de cima do cavalo”, contou.
A onça o derrubou no chão e cravou as presas na perna. Flávio tentou se defender, enquanto o colega gritava e os cachorros latiam. “Ela é muito rápida; não dava tempo de reagir”, disse. O felino recuou e fugiu, e o peão, mesmo sangrando, conseguiu montar novamente e cavalgar por cerca de meia hora até a sede da fazenda.
Com perda intensa de sangue, ele recebeu os primeiros socorros da esposa antes da chegada das equipes do Corpo de Bombeiros e do Exército Brasileiro, que usaram um helicóptero para o resgate. “Se demorasse mais, podia não ter dado tempo”, lembrou.
O reencontro e a amizade
A história ainda traz, em seu enredo, a curiosidade do sobrenome Espírito Santo e tem como cenário a Fazenda Milagres, reforça o jornalista Paulo Cruz.
O repórter conheceu Flávio três anos antes, quando a expedição Alma Pantaneira passou pela fazenda onde ele mora. Na ocasião, o peão foi atendido por um dentista e levou sua cadelinha de estimação para consulta com os veterinários da equipe.
“A expedição leva médicos, dentistas e veterinários que atendem famílias que vivem isoladas na maior planície alagável do planeta”, contou Paulo. “Naquela época, ele foi atendido e a gente acabou conversando, criou-se uma amizade.”
Quando soube que o peão atacado por uma onça era o mesmo homem que havia conhecido na expedição, o jornalista voltou a procurá-lo. “Fiquei muito abalado. O Flávio é um pantaneiro raiz, um homem que merece todo o respeito. Quem mais preserva o Pantanal hoje é o próprio pantaneiro. Ele é um guerreiro, e disse que assim que melhorar, volta pra lida.”
Flávio segue em recuperação na Santa Casa e diz que pretende voltar ao Pantanal assim que estiver completamente curado. O episódio, que poderia ter terminado em tragédia, se tornou parte da história de um homem simples que sobreviveu ao improvável e guarda, dentro de um potinho, a lembrança física do dia em que enfrentou uma onça e venceu.