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Meio Ambiente

"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital

Falta de espaço, drenagem ineficiente e podas para preservar fios de energia são outros fatores

Por Cassia Modena e Raíssa Rojas | 18/03/2025 12:52
"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital
Rua totalmente bloqueada por queda de árvores e galhos, no Bairro Bela Vista (Foto: Osmar Veiga)

Primeiro o som do vento e depois o barulho de galhos retorcendo, para quatro árvores aparentemente sadias virem abaixo.

RESUMO

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Quatro árvores aparentemente saudáveis caíram na tarde desta segunda-feira (17) no Bairro Bela Vista, em Campo Grande, durante ventos que atingiram 48,6 km/h. No mesmo dia, no Bairro Santa Fé, uma árvore derrubou a rede elétrica de uma clínica médica, forçando o cancelamento de consultas. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram registradas oito quedas de árvores na capital. O biólogo Arnildo Pott, doutor em Ecologia Vegetal, explica que o principal problema é a urbanização acelerada: o excesso de cimento nas calçadas "enforca" as árvores, limitando o espaço para as raízes e causando lesões que facilitam a entrada de fungos. Outros fatores como podas inadequadas, sistemas de drenagem ineficientes e períodos de seca também contribuem para o enfraquecimento das árvores urbanas.

Assim descreve o aposentado Alex Leite de Melo sobre o que aconteceu por volta das 16h desta segunda-feira (17) na Rua Domingos Marquês, do tranquilo Bairro Bela Vista de Campo Grande.

Dos seus 77 anos, 23 foram vividos na mesma casa onde ele estava naquele momento. “Eu nunca vi isso aqui. Nem o vizinho que mora há 40 anos viu”, falou.

"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital
Inteira: uma das árvores caídas no Bairro Bela Vista (Foto: Osmar Veiga)

Em outro ponto da cidade, no Bairro Santa Fé, pacientes tiveram consulta desmarcada após árvore de médio porte cair e derrubar a eletricidade em clínica médica. "Simplesmente caiu em cima dos fios. Ficamos sem luz até 18h58", contou o recepcionista.

O vento na área urbana da Capital chegou a 48,6 km/h no dia, segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) consultados pelo meteorologista Natálio Abrão, da Capital.

Nessa velocidade, ele é “vento fresco ou meio forte” de acordo com a classificação da Escala Modificada de Beaufort, uma das referências da meteorologia. Esse nível pode sacudir os galhos maiores das árvores. Se ultrapassasse os 52 km/h, poderia movimentar o tronco delas, também segundo a escala.

Por que tantas quedas? - Somente na segunda-feira, oito árvores caíram em Campo Grande, pelas contas do Corpo de Bombeiros. As quedas têm virado rotina diante dos efeitos das mudanças climáticas.

"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital
Galho da espécie acacia, árvore que caiu sob uma casa em outubro do ano passado (Foto: Osmar Veiga)

Biológo e doutor em Ecologia Vegetal, Arnildo Pott explica qual a principal causa que, somada às condições climáticas, faz as árvores caírem antes de completarem seu ciclo natural. "Tem muito cimento na cidade", resume.

A árvore fica fragilizada por falta de espaço para as raízes e principalmente por lesões na base do caule, em consequência de cimento da calçada e meio- fio que 'enforca' a árvore. Ela pode parecer sadia, mas está com fungos que entram por essas lesões na casca e pela poda", detalha.

Isso vale para Campo Grande e outros centros urbanos que cresceram de forma acelerada.

Arnildo, que é autoridade em botânica na Capital e já viajou o mundo estudando o assunto, diz que a urbanização acaba roubando a liberdade que as raízes de algumas espécies precisam para se expandir, buscar água e nutrientes no solo.

A maior parte das árvores que caíram estavam "enforcadas, estressadas e inflamadas" pela permeabilização, suspeita o biólogo. Há muitas outras nessa mesma situação ainda em pé.

"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital
Pássaro parece triste em rua onde quatro árvores caíram (Foto: Osmar Veiga)

Ele dá o exemplo de um jatobá antigo que acompanhou: foi plantado quando não havia cidade grande ao redor, depois, acabou sendo mais uma vítima de um temporal.

Já as árvores plantadas em praças e parques acabam ficando mais protegidas. "Não fiquei sabendo de nenhuma árvore caída no Parque das Nações Indígenas", compara.

Quanto às podas, Arnildo lembra que elas acabam sendo feitas para galhos não enroscarem nos fios de energia e telefonia, porém, não sem prejudicar as árvores.

Elas perdem seu equilíbrio. É pelo corte que podem entrar fungos e cupins. Fica uma lesão que a árvore não consegue cicatrizar totalmente. Ela pode até rebrotar, mas são galhos sempre mais fracos que os anteriores, que podem quebrar", continua.

O ideal seria que os fios fossem enterrados, como foi feito na Rua 14 de Julho durante as obras de revitalização. Ainda assim, outras medidas deveriam ser tomadas.

"Tem muito cimento na cidade", diz biólogo sobre queda de árvores na Capital
Após revitalização, Rua 14 de Julho teve fios de energia e telefonia enterrados, só restaram postes de iluminação (Foto: Juliano Almeida)

Sistemas de drenagem ineficientes também colaboram com a queda. Se há alagamentos ou se o solo não absorve satisfatoriamente a água da chuva, as árvores também são prejudicadas e acaba adoecendo. O mesmo vale para períodos prolongados de seca. "Tanto o excesso ou a falta de água interferem na saúde da árvore", acrescenta o biólogo.

Até cortar a grama ou não retirar a estrutura que protege mudas, pode ser nocivo para as árvores. Um porque fere a casca com a lâmina de cortar e deixa a árvore mais vulnerável ao adoecimento. O outro porque o ferro, madeira ou qualquer outro suporte pode acabar entrando no caule durante o crescimento.

Monitoramento - A reportagem questionou a Prefeitura de Campo Grande se possui um levantamento de quantas árvores caíram ou foram desgalhadas durante os temporais de 2024 e deste ano.

Outra pergunta foi se é feita avaliação de risco das árvores em períodos chuvosos.

Não houve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.

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