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Meio Ambiente

Vinte anos após morte, Francelmo será lembrado na COP30 como símbolo do Pantanal

Ativistas e pesquisadores relembram a trajetória do ambientalista que deu a vida pela preservação do bioma

Por Jhefferson Gamarra | 12/11/2025 12:22
Vinte anos após morte, Francelmo será lembrado na COP30 como símbolo do Pantanal
Francelmo durante protesto, pouco tempo antes do ato radical em protesto (Foto: Reprodução)

Há exatos vinte anos, em 12 de novembro de 2005, o Brasil e o mundo se comoveram com um gesto extremo em defesa do meio ambiente. Francisco Anselmo de Barros, o Francelmo, ambientalista baiano radicado em Mato Grosso do Sul, ateou fogo no próprio corpo durante um protesto pacífico em Campo Grande contra a instalação de usinas de álcool e açúcar na Bacia do Rio Paraguai, no coração do Pantanal. Seu ato, ocorrido no calçadão da Rua Barão do Rio Branco, se tornaria um marco na história da luta socioambiental brasileira.

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O ambientalista Francisco Anselmo de Barros, conhecido como Francelmo, será homenageado durante a COP30, em Belém, duas décadas após seu ato extremo em defesa do Pantanal. Em 2005, ele ateou fogo ao próprio corpo em protesto contra a instalação de usinas de álcool na Bacia do Rio Paraguai, não resistindo aos ferimentos. O legado de Francelmo permanece vivo nas discussões sobre mudanças climáticas e preservação ambiental. Sua morte motivou a criação do Dia do Pantanal, celebrado em 12 de novembro, e seu sacrifício continua inspirando a luta pela proteção do bioma, reconhecido pela Unesco como Reserva da Biosfera.

Duas décadas depois, a memória de Francelmo volta ao centro do debate global sobre o clima. No próximo sábado (15), durante a COP30 (Conferência do Clima das Nações Unidas), que acontece em Belém (PA), ele será homenageado em um seminário promovido pela EJF (Environmental Justice Foundation).

O evento, intitulado “Vidas que vão, lutas que ficam: Francelmo, o Pantanal e os defensores do clima”, será realizado na Escola de Economia Criativa da Zona Verde, no Parque da Cidade.

A homenagem ocorre em meio às discussões sobre o papel dos biomas brasileiros na regulação climática do planeta e reforça a relevância do Pantanal, reconhecido recentemente pela Unesco como Reserva da Biosfera. O bioma, que ocupa 624 mil quilômetros quadrados 62% deles em território brasileiro, é a maior área úmida continental do mundo, abrigando uma das mais ricas biodiversidades do planeta.

Legado de Francelmo - Na manhã de 12 de novembro de 2005, o protesto seguia de forma pacífica quando Francelmo, então com 65 anos, colocou dois colchonetes, despejou gasolina e ateou fogo ao próprio corpo. Gritando de dor, foi socorrido e levado à Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu às queimaduras que atingiram 100% do corpo.

O gesto extremo foi motivado pela tentativa do governo estadual de alterar a lei de 1982 que proibia a instalação de usinas de álcool no Pantanal, legislação conquistada graças à mobilização liderada por ele ainda nos anos 1970, quando fundou a Fuconams (Federação de Entidades Ecologistas e Culturais de Mato Grosso do Sul).

Na ocasião, Francelmo deixou cartas e declarações que revelam a angústia de quem via as conquistas ambientais ameaçadas. Em um dos trechos mais marcantes, ele escreveu:

“Meus queridos pares... Já que não temos votos para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo.”

Três anos após sua morte, em 2008, o Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) oficializou 12 de novembro como o Dia do Pantanal, em homenagem ao ambientalista. A data chegou a ser debatida para coincidir com o Dia do Rio Paraguai, em 14 de novembro, mas entidades ambientalistas insistiram em manter o dia da morte de Francelmo como símbolo da resistência e da dedicação à defesa do bioma.

Hoje, o Pantanal enfrenta desafios renovados: queimadas, desmatamento, avanço do agronegócio e projetos de infraestrutura ameaçam o equilíbrio das águas que sustentam sua fauna e flora. As cheias anuais, que atingem cerca de 80% da planície, são fundamentais para o ciclo ecológico, e vêm sendo impactadas por mudanças climáticas e intervenções humanas.

A lembrança de Francelmo na COP30 ganha força em um momento de urgência global por justiça climática e pela valorização de defensores ambientais. Seu sacrifício, há vinte anos, permanece como um chamado à consciência coletiva sobre os limites da exploração humana e a necessidade de proteger os biomas brasileiros.

Ao ser lembrado em Belém, cidade que simboliza a porta de entrada para a Amazônia, Francelmo se torna também um elo entre os dois maiores ecossistemas do país. Sua história reafirma que o Pantanal não é apenas uma paisagem exuberante, mas um termômetro vital para o equilíbrio climático do planeta.