Esquema tinha 3 núcleos e rendeu R$ 67 milhões em propinas, aponta MPF
Pagamentos ilegais também eram feitos de três maneiras, conforme a investigação
O esquema de pagamentos de propinas de empresa do ramo frigorífico a políticos era divididos em três núcleos e rendeu lucro de ao menos R$ 67.791.309,00 aos integrantes do grupo denunciado. A soma foi calculada pela investigação, consta em trecho do pedido de busca e apreensão, prisão e medida cautelar diversa da prisão feito pelo MPF (Ministério Público Federal) ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O Campo Grande News teve acesso ao despacho do ministro Felix Ficher, relator da ação. A decisão é do dia 3 de setembro. Significa que a PF (Polícia Federal) levou seis dias para planejar a força-tarefa, que foi às ruas de Mato Grosso do Sul e de cidade do Pará na manhã desta quarta-feira (12).
A Operação Vostok apurou ainda que as fraudes redam prejuízo de R$ 209 milhões aos cofres estaduais, entre 2014 e 2016.
Segundo a PF (Polícia Federal) as investigações começaram em 2016, mas ganharam força com a delação premiada dos sócios deo grupo J&F, holding brasileira que controla empresas como o frigorífico JBS, os irmão Joesley e Wesley Batista, além de executivos a empresa.
O foco da operação é o esquema de pagamento de propina em troca de incentivos fiscais – quando o Executivo decide deixar de cobrar impostos para estimular que empresa se instale no Estado – que começou em 2003 e foi perpetuado pelos dois governos seguintes.
Três núcleos – Para convencer o juízo da necessidade de prender 14 pessoas e vasculhar 41 endereços em busca de provas, o MPF explicou que o esquema era dividido em três núcleos: no topo da pirâmide, os reais beneficiários do montante desviado dos cofres públicos, os articuladores das propinas em segundo lugar e os pecuaristas que emitiam notas frias para lavar o dinheiro.
Os pagamentos chegavam aos destinatários também de três maneiras, apontam o MPF e a PF: por meio de doações oficiais a fundos partidários para o financiamento da campanha eleitoral em 2014, por esquema de compras falsas de gado para abate e também em dinheiro.
Boi de papel – Os frigoríficos pagavam por bois que não eram entregues e nem abatidos, uma forma de repassar o dinheiro ilegal aos beneficiários até que as somas chegassem aos destinatário final.
Consta na delação da JBS, a emissão de comprovantes da venda dos “bois de papel” por pecuaristas de Mato Grosso do Sul para a empresa JBS teria somado R$ 33,4 milhões só entre 2016 e 2017.
Os integrantes – A investigação classifica o pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda, os empresários João Roberto Baird e Antônio Celso Cortez, além de José Ricardo Guitti, corretor de gado em Aquidauana mais conhecido como “Polaco”, como operadores do pagamento de propinas.
Eram responsáveis pelas notas frias as empresas Agropecuária Duas Irmãs Ltda. e Buriti Comércio de Carnes Ltda., além dos pecuaristas Elvio Rodrigues, Francisco Carlos Freire de Oliveira, José Roberto Teixeira (o deputado estadual Zé Teixeira), Márcio Campos Monteiro (conselheiro do TCE-MS e ex-secretário de Estado de Fazenda), Miltro Rodrigues Pereira, Nelson Cintra Ribeiro (ex-prefeito e ex-presidente da Fundtur), Osvane Aparecido Ramos (ex-deputado estadual), Rubens Massahiro Matsuda e Zelito Alves Ribeiro, além do próprio Ivanildo.
Vostok – Nesta quarta-feira, a operação cumpre 41 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Aquidauana, Dourados, Maracaju, Guia Lopes de Laguna; e Trairão, no Pará. Foram ao todo 220 policiais federais enviados para as ruas, além dos promotores do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
Equipes estiveram na casa do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), no edifício State Garden, na avenida Alvorada, no centro de Campo Grande, e também no apartamento de Rodrigo Souza e Silva, o filho do chefe do Executivo, que mora em prédio no cruzamento das ruas 13 de Junho e avenida Afonso Pena.
Vostok é o nome de uma estação de pesquisa russa localizada na Antártida onde já foi registrada uma das menores temperaturas da Terra. Ainda segundo a PF, o nome faz referência às notas fiscais frias utilizadas para a dissimulação dos pagamentos.