Radicalidade do PL joga incertezas sobre consolidação de aliança com Reinaldo
As pautas da direita _ a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal _, elevaram a crise em Brasília e podem mexer no rascunho que vinha sendo rabiscado pelo ex-governador Reinaldo Azambuja sobre o cenário de disputas em Mato Grosso do Sul no ano que vem. Políticos de diferentes partidos fechados com a recandidatura do governador Eduardo Riedel, avaliam que o acordo com a cúpula do PL pode se dissolver depois do motim promovido pela extrema direita esta semana em Brasília. O episódio foi marcado por radicalidade e intransigência dos mesmos atores que dividiriam palanque no Estado com o grupo comandado por Reinaldo Azambuja.
RESUMO
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A radicalização do PL em Brasília, marcada por protestos pela anistia de Jair Bolsonaro e pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, pode comprometer a aliança política com o ex-governador Reinaldo Azambuja em Mato Grosso do Sul. O acordo, que vinha sendo construído para as eleições de 2024, enfrenta resistência dentro do próprio partido. O deputado federal Marcos Pollon demonstra oposição ao acordo e cogita disputar o governo estadual. Paralelamente, a saída anunciada do PT do governo atual e possíveis articulações envolvendo a ministra Simone Tebet adicionam novas variáveis ao cenário político sul-mato-grossense, que tinha como certa a recandidatura do governador Eduardo Riedel.
A repercussão do episódio vem se somando a outros fatos que conspiram contra o acordo, como o apoio explícito de uma ala do PL à taxação imposta pelo presidente dos Estados Unidos, que afetará o agro sul-mato-grossense, a principal alavanca da política estadual. O ambiente no PL estadual já não era bom quando o ex-governador anunciou, depois de três encontros com Bolsonaro e o presidente nacional da legenda, Valdemar da Costa Neto, que assumiria o PL: um dos deputados federais, Marcos Pollon se insurgiu, chamando de canalhas os líderes, embora não tenha citado nomes.
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O mesmo Pollon, que estava sentado na cadeira do presidente da Câmara, foi o último a desocupar a Mesa da Câmara na quarta-feira à noite, vivendo seus 15 minutos de glória depois de quase 40 horas da invasão, mas dando sinais de que vai tentar melar o acordo. Pollon estaria dobrando a aposta e, sonhando com um voo mais alto, disposto a concorrer ao governo, numa improvável dobradinha com o ex-candidato do PRTB, Capitão Contar, hipótese que poderia abrir uma fenda na direita e dificultar a campanha de Eduardo Riedel.
O governador é apoiado pelos principais partidos e caciques sul-mato-grossenses, mas em 2022 passou pelo susto de ter de disputar um segundo turno com Contar começando à frente da disputa. Procurado por Campo Grande News, Pollon disse, através de sua assessoria de imprensa, que as eleições do ano que vem não prioridade agora e não quis dar entrevista.
Contar afirmou que se tudo correr direitinho, sairá como candidato ao Senado, com o conforto de estar entre os preferidos do eleitorado, conforme aponta a pesquisa mais recente, do Ipems. Embora bem avaliado também como candidato a deputado federal, Contar acha que para os embates contra o STF, a eleição de uma maioria de direita torna a eleição do Senado a mais importante. Ele lembra que é lá que pode ser debatido pedidos de impeachment contra ministros do STF, sonho de consumo da direita.
“Vou sair por uma vaga no Senado. Eventuais acordos com outros partidos ou candidatos serão discutidos mais pra frente”, disse o ex-deputado, que não fala com Pollon desde janeiro. Num sentido oposto, ele chegou, no entanto, a elogiar o governador Eduardo Riedel por este ter declarado que a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro é “excesso judicial”.
A costura de Reinaldo Azambuja depende também de como ficarão os palanques com a debandada anunciada pelo PT, que deve deixar o governo depois que Riedel retornar da viagem a Ásia. Os cargos e políticas voltadas para agricultura familiar e cultura, comandas pelo PT, são cobiçados pelo MDB, que já ocupa espaços no governo Riedel. A saída do PT quebra, no entanto, um acordo feito no segundo turno de 2022 e abre caminho também para outro incômodo numa disputa que parecia tranquila para Riedel: uma aliança regional entre PT e o grupo da ministra do Planejamento, Simone Tebet, do MDB que só não entraria numa briga regional se aceitar, como sugere o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disputar uma vaga no Senado por São Paulo ou _ o que também está no radar _ a candidatura a vice-presidente.
Mesmo com o ex-governador André Puccinelli vociferado contra, a ministra não encontraria problemas em disputar pelo MDB. Seu problema, segundo fontes ouvidas pelo Campo Grande News, é mais político do que falta de legenda: ela não encontraria espaço num palanque armado por Reinaldo Azambuja para pedir voto para Lula em 2026. Mas pode construir um palanque avulso, mantendo a filiação ao partido do qual seu pai, Ramez Tebet foi um dos fundadores. São Paulo surge no horizonte de Simone Tebet com uma opção razoável. Ela tem o recall de quem disputou a presidência, as pesquisas internas apontam que tem potencial de ser bem recebida pelo eleitorado paulista e, embora também esteja no páreo, não precisaria disputar com uma overdose de candidatos pesos-pesados em Mato Grosso do Sul, como Reinaldo Azambuja, Contar, Nelsinho Trad (PSD), Vander Loubet (PT).