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Reportagens Especiais

De político a traficante: “lavar grana suja” foi o enredo de operações

A repressão à lavagem de dinheiro mostra a diversidade do “laranjal” em Mato Grosso do Sul

Aline dos Santos | 28/12/2018 09:14
De político a traficante: “lavar grana suja” foi o enredo de operações
Acusado de ser “laranja” de narcotraficante, homem preso na Capital esconde o rosto ao chegar à sede da PF (Foto: Saul Schramm)
Acusado de ser “laranja” de narcotraficante, homem preso na Capital esconde o rosto ao chegar à sede da PF (Foto: Saul Schramm)

Artimanhas para lavar dinheiro marcaram o enredo das operações policiais em 2018. O arsenal de técnicas para que a “grana suja”, fruto de corrupção com o dinheiro público ou dividendos do comércio de drogas, volte “limpa” à economia formal teve denúncias envolvendo de políticos a chefão do tráfico.

A repressão à lavagem de dinheiro mostra a diversidade do “laranjal”. Em maio, a operação Efeito Dominó, da PF (Polícia Federal) do Rio Grande do Sul, que mirou no narcotraficante Luiz Carlos Rocha, o “Cabeça Branca”, colheu frutos em Mato Grosso do Sul.

Segundo a PF, pai e filho - Pedro Araújo Mendes Lima e Hamilton Brandão Lima - faziam lavagem de dinheiro para "Cabeça Branca". Pedro foi preso em Dourados e o filho, em Campo Grande. Com o dinheiro fornecido pelo narcotraficante, eles plantavam lavouras e criavam gado em Mato Grosso do Sul.

No mês seguinte, junho de 2018, a PF deflagou a operação Laços de Família, que também mostrou a estreita relação entre tráfico e lavagem de dinheiro. Conforme a denúncia, a máfia liderada por policial militar Silvio César Molina Azevedo, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, usava pessoas físicas e jurídicas para pulverizar e “legalizar” o dinheiro obtido com o lucro da venda de maconha pelo País.

De loja de bijuterias a revendedora de veículos, dez empresas foram identificadas como parte do esquema milionário de lavagem de capitais e fechadas por ordem da 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande.

A força-tarefa, montada pela Polícia Federal e Receita Federal, também identificou ao menos 50 pessoas como parte do “laranjal”.

Em 27 de novembro, PF prendeu João Baird em seu apartamento: teia de empresas e conexão no Paraguai para lavar dinheiro. (Foto: Izabela Sanchez)
Em 27 de novembro, PF prendeu João Baird em seu apartamento: teia de empresas e conexão no Paraguai para lavar dinheiro. (Foto: Izabela Sanchez)

Papiros e Vostok – Em 20 de julho, o ex-governador André Puccinelli (MDB), o filho André Puccinelli Júnior e o advogado João Paulo Calves foram presos pela PF (Polícia Federal). Para a força-tarefa da Lama Asfáltica, o Instituto Ícone era uma forma de chegar à última fase da lavagem de dinheiro, quando “grana suja” volta reciclada à economia formal.

De forma resumida, a acusação é de que o dinheiro da propina destinada ao ex-governador era repassado ao instituto, que apesar de superavitário, não remunerava com mesmo vigor financeiro Calves, seu único dono. Neste cenário, o dinheiro ficava à disposição dos envolvidos na organização criminosa e não das despesas da empresa.

Em setembro, a operação Vostok, comandada pela PF de Brasília, cumpriu mandado de busca no apartamento do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), em Campo Grande.

A ação, autorizada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), investiga suposta troca de incentivos fiscais a J&F, controladora dos frigoríficos JBS, em troca de propina. Lavagem de dinheiro também está no rol dos crimes investigados pelo MPF (Ministério Público Federal). A ação teve 14 presos, incluindo Zé Teixeira (deputado estadual), Márcio Campos Monteiro (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado) e os ex-prefeitos Osvane Aparecido Ramos e Nelson Cintra. 

Carrão apreendido e que pertencia ao borracheiro. (Foto: Marina Pacheco)
Carrão apreendido e que pertencia ao borracheiro. (Foto: Marina Pacheco)

Tempo esgotado – Realizada em 18 de outubro, a Time Out (tempo esgotado) revelou que o borracheiro Damião de Souza Batista tinha salário de R$ 1,5 mil e era dono de veículos BMW e Toyota RAV4. A investigação começou em 2017 para apurar informações de que moradores de Campo Grande mantinham galpões na área urbana, onde caminhões eram carregados com cocaína e se dirigiam a outros Estados.

Os lucros eram utilizados na aquisição de imóveis e veículos, registrados, em sua grande maioria, em nome de “laranjas”.

Conexões no Paraguai – A Computadores de Lama, realizada em novembro, aponta que a empresa Rave S.A, no Paraguai, seria uma extensão da PSG Tecnologia Aplicada, com sede em Campo Grande, no exterior. O propósito seria “lavar dinheiro”.

Segundo a força-tarefa, documentos apreendidos no ano passado revelaram esquema comandado por João Baird, que leva o apelido na mídia de “Bill Gates Pantaneiro”, e pelo sócio e “testa de ferro” dele, Antônio Celso Cortez, para enviar clandestinamente o dinheiro desviado para o Paraguai e depois repatriar os recursos.

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