Entre 404 homicídios, esquartejamentos e gente queimada viva marcaram o ano
Crimes com requintes de crueldade chocaram Mato Grosso do Sul e foram listados em reportagem especial
Era 25 de junho quando Hugo Vinícius Skulny Pedrosa, 19 anos, saiu de casa, na cidade de Sete Quedas, a 468 km de Campo Grande, para ir a uma festa. Um programa normal para um garoto dessa idade. Mas Hugo não apareceu mais. A angústia da família e as buscas feitas pela polícia foram acompanhadas pela imprensa. Contudo, o fim da história foi trágico e chocou Mato Grosso do Sul. O rapaz foi esquartejado e teve as partes do corpo jogadas em um rio.
Noticiar a morte de alguém não é fácil, muito menos nessas circunstâncias. Dá até frio na barriga muitas vezes e ainda tem aqueles que pensam que estamos acostumados. Mas, não! O jornalismo também é humano, é feito por humanos, com realidades, muitas vezes, parecidas com a sua. No caso de Hugo não foi diferente.
Após o rapaz ser localizado morto, a ex-namorada e o ficante dela foram presos pelo crime. Desde aquele dia, a angústia da família também se tornou a minha, acredito que também a de muitos outros profissionais em outras redações de jornalismo que acompanharam a história.
Para a polícia, Rubia Joice de Oliver Luivisetto, 21, atraiu o ex-namorado até a casa dela, onde ele foi morto por Danilo Alves Vieira da Silva, 19. Depois, ela trabalhou na ocultação de provas e para embaraçar a investigação. Rubia nega premeditação. Alega que Hugo invadiu a casa e o quarto dela, onde estava com Danilo. Ela se levantou e tentou empurrá-lo para fora do imóvel, quando de repente, pelas suas costas, o rapaz atirou contra Hugo.
Mas, Hugo não foi a única vítima de um crime com requintes de crueldade. Entre os 404 homicídios registrados no Estado somente em 2023, também está o caso de Antônio Ricardo Cantarin, 64 anos. O idoso foi morto por envenenamento pela esposa, Aparecida Graciano de Souza, 61, que esquartejou o corpo e jogou em partes ao longo de rodovia da cidade de Selvíria, a 400 km de Campo Grande.
Presa em casa após a localização do corpo, Aparecida confessou o crime, que ocorreu em 22 de maio. Ela contou que Antônio era vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ela mantinha os cuidados com o marido. Contudo, segundo relatou na época, estava cansada de não ser valorizada. Segundo a mulher, Antônio dizia que ela o roubava e fazia ameaças. Então, decidiu matá-lo.
Entre os trechos do relato, que mais parece ficção, a mulher detalhou o crime, afirmando que "sabia como fazer" pois matava porco, além de se descrever "fria e sem sentimentos".
Já em 24 de julho, outro crime intrigou as autoridades. Thiago Brumatti Palermo, 30 anos, e Marcelo dos Santos Vieira, 45, foram encontrados mortos dentro de um Ford Fiesta totalmente queimado em região conhecida como um trilheiro e até local de desova, no Bairro Nova Campo Grande, na Capital. Um deles estava vivo quando foi deixado amarrado e com as portas travadas dentro do veículo.
Investigação da Delegacia de Homicídios apontou que os dois faziam parte de um grupo que levava drogas para São Paulo e haviam traído a organização criminosa. Dessa forma, foram julgados pelo chamado tribunal do crime e mortos.
No dia 9 de julho, Rocio Jazmin Espindola, 29 anos, foi achada morta carbonizada, em Naviraí, a 359 km da Capital. Pela cena do crime, a vítima foi morta com requintes de crueldade pelo namorado, Mateus de Souza Bento, 22, preso no dia 18 do mesmo mês, em Amaporã (PR), onde morava antes de se mudar para Naviraí.
Ele contou que os dois saíram para beber no sábado, 8 de maio. Após uma discussão porque a namorada queria usar crack, ele a puxou para a casa abandonada na Rua Rússia, na área central da cidade, e passou a agredi-la. Com um tijolo de 8 furos, desferiu vários golpes no rosto dela. Depois que a vítima desmaiou, o criminoso deixou o local e voltou para casa, onde trocou de roupa, pegou um litro de gasolina, colocou na mochila e saiu novamente.
Mateus foi até um bar, a 70 metros do local do crime, e ali ficou consumindo bebida alcoólica por cerca de três horas. Depois, voltou até a casa, jogou gasolina na namorada que permanecia desacordada, ateou fogo e foi para casa.
No dia 3 de agosto, o médico Gabriel Paschoal Rossi, 29, foi encontrado morto em Dourados (a 251 km de Campo Grande), seis dias após desaparecer. Ele foi torturado em uma casa de temporada na Vila Hilda. Peritos encontraram no local do crime um saco plástico azul, possivelmente usado para sufocar a vítima.
De acordo com a polícia, Gabriel, ainda usando o jaleco médico, estava morto sobre a cama, com as mãos amarradas com o fio de energia da TV e as pernas com o cabo de carregador de celular. Havia manchas de sangue na parede, sinais de estrangulamento e ferimento no pescoço, que pode ter sido provocado por objeto pontiagudo ou até mesmo pelo sufocamento. O corpo já estava em estado de decomposição.
Paschoal Rossi integrava quadrilha de estelionato envolvendo cartões de crédito e saque de aposentadoria de pessoas falecidas. Foi morto porque cobrava sua parte, R$ 500 mil, e ameaçou denunciar o esquema.
Outro crime bárbaro foi registrado em Campo Grande no dia 10 de agosto. Gabriel Leal Coura dos Santos, de 25 anos, foi espancado por dois homens, na Rua Generoso Leite, na Vila Nasser. Gabriel teve dois dentes quebrados e o rosto desfigurado. Ele morreu na Santa Casa. Não há informações sobre a autoria ou motivação do crime até hoje.
No início do mês de dezembro, em Aparecida do Taboado, a 481 km da Capital, Clenilton Vieira Rigonato, de 34 anos, teve a barriga cortada com vidro, foi espancado e decapitado. O corpo dele foi encontrado em área rural da cidade.
Na versão apresentada por uma testemunha, Clenilton furtou um veículo semanas atrás e tentou negociar por drogas com três homens. Houve desentendimento, quando um dos suspeitos desferiu um golpe com extintor na cabeça da vítima. Depois, Clenilton foi colocado no porta-malas de um veículo e levado ao local onde o corpo foi encontrado. Na sequência, a vítima teve a barriga cortada com vidros e foi espancada até a morte. Segundo a perícia, a cabeça estava separada do corpo.
No dia 10 de dezembro, também em Dourados, uma adolescente de 16 anos foi estuprada, estrangulada e assassinada a golpes de faca pelo namorado Claiton Benites Gomes, 19. O crime ocorreu na Aldeia Jaguapiru.
De acordo com o delegado Erasmo Cubas, chefe do SIG (Setor de Investigações Gerais), a vítima foi encontrada seminua. “Ela tinha marcas no pescoço e diversas lesões na região anal de um objeto perfuro cortante. No momento em que os policias faziam a análise no local do crime, encontraram uma faca de cozinha que acreditaram que pudesse ter sido utilizada no crime”, explicou a autoridade.
Preso, Claiton disse que teria saído para comprar bebida com a vítima e que teve relação sexual consentida pela adolescente. Em determinado momento, Karine teria dito que preferia o irmão dele. “Ele ficou mais agressivo, estrangulou ela e a golpeou com a faca que foi encontrada no local do crime”, esclareceu Erasmo.
Em Porto Murtinho, outro crime chamou atenção da polícia. Com requintes de crueldade, Alzineth Vaccari foi assassinada e encontrada em área rural da cidade no dia 12 de dezembro. Boca, olhos e nariz dela estavam tampados com fita adesiva, conforme levantamento da perícia. Ela estava com mãos e pés amarrados, também com um corte profundo no pescoço.
Thiago Zorilla, ou "Formigão", era membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e teria ordenado a execução da vítima que era usuária de drogas e praticava alguns furtos na cidade. Alzineth foi morta durante julgamento do “tribunal do crime”. Thiago foi morto em confronto com a polícia dias após a morte da mulher.
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