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Educação e Tecnologia

Largue o celular ! Médicos identificam no consultório males do exagero

Procura por ortopedistas e oftalmologistas começa a ser ligadas ao vício no smartphone

Danielle Valentim | 04/02/2018 08:22
Além das mãos, os olhos são órgãos diretamente afetados com o constante uso do celular. (Foto: Danielle Valentim)
Além das mãos, os olhos são órgãos diretamente afetados com o constante uso do celular. (Foto: Danielle Valentim)

A dependência dos telefones celulares, especialmente com o advento dos smartphones, que permitem conexão o tempo todo, é possivelmente o maior vício do século 21. Ligado a isso, doenças ortopédicas, visuais ou psicológicas, antes causadas por outras atividades, passaram a ser consequência do uso constante do smartphone. A procura por consultórios aumentaram e crianças e jovens são os mais prejudicados, conforme especialistas.

Digitar muito pode causar inflamações nos tendões e o primeiro sintoma é a mialgia, a famosa dor nos músculos das mãos. Este é um indício de que está havendo um exagero e que, provavelmente, pode ser o início das principais doenças diagnosticadas, atualmente, como as tendinites estenosante, dos extensores, síndrome do túnel do carpo ou síndrome de De Quervain.

Segundo o médico ortopedista Nedson Nunes da Costa, a doença mais diagnosticada em seu consultório é a tenossinovite estenosante - dedo no gatilho -. A doença não apresenta verdadeiras causas, mas, alguns fatores de risco podem acelerar o desenvolvimento da enfermidade, como o movimento repetitivo que sobrecarrega os tendões da mão.

“Não há um número, mas grande parte dos diagnósticos dos meus pacientes tem ligação com o uso excessivo do celular. Principalmente os jovens, que usam uma mão só para digitar, sobrecarregando o polegar”, explica.

O atendente Jair Ramos, de 22 anos, ainda não procurou um médico, mas suspeita que adquiriu a tenossinovite estenosante - dedo no gatilho. O polegar do rapaz, que passa o dia todo com o celular na mão, apresentou um estalo incomum nos últimos meses.

Polegar do rapaz, que passa o dia todo com o celular na mão, apresentou um estalo incomum nos últimos meses. (Foto: Danielle Valentim)
Polegar do rapaz, que passa o dia todo com o celular na mão, apresentou um estalo incomum nos últimos meses. (Foto: Danielle Valentim)

“Dói de vez em quando, ainda mais quando fico horas mexendo no celular, mas achei o barulho muito estranho”, disse.

O especialista orienta que existem diversas formas de evitar o surgimento dessas doenças, entre elas, a redução no tempo de uso do aparelho, alongamento dos membros e variação das mãos durante a digitação.

Além das mãos, os olhos são órgãos diretamente afetados com o constante uso do celular. Com telas pequenas, os smartphones tem a capacidade de acumular cada vez mais funções e várias delas envolvem leitura nas redes sociais.

A adolescente Ana Morelli, de 17 anos, confessa que só assiste a séries online pelo celular. A famosa “maratona” sobrecarrega as mãos, que são usadas como suporte adaptado, e os olhos, pois o programa é feito, principalmente, à noite.

“Minha mão dói muito, mas só assisto pelo celular. Depois da mão e dos braços, minha visão fica cansada. Já sou míope, mas não sei se o grau aumentou”, disse.

Fontes muito pequenas sobrecarregam os olhos, que fazem esforços além do normal, principalmente no escuro do quarto. A prática provoca secura, vermelhidão e irritação nos olhos. Conforme a oftalmologista Lizabel Gemperli, o uso constante de smartphone pode desenvolver miopia em crianças e uma “falsa miopia” em adultos.

“A causa é a longa proximidade dos olhos com a tela, ou seja, convergência dos olhos e contração do músculo ciliar da íris - fechando a pupila -. Esse processo quando prolongado em crianças determina a miopia”, explica a especialista.

Ainda segundo a especialista, diferente das crianças, nos adultos não há a possibilidade de crescimento do globo ocular, porém provoca sintomas de astenopia - dor ocular - e miopia transitória.

Gemperli orienta a prática de descanso dos músculos oculares, tanto da movimentação - convergência -, bem como da miose - fechamento da pupila -, que são condições de visão para perto. Além disso, aconselha-se desviar fixar os olhos para longe a cada 40 minutos.

“Para pessoas que trabalham com essa tecnologia e a usam por longos períodos aconselha-se ainda o uso de lentes ou óculos, que absorvam a luz e altas energias produzidas pela tela desses aparelhos, blues control”, finaliza a médica.

Depois das mãos e olhos, a mente não deixa de ser afetada. Durante um estudo britânico de 2008, para descobrir as reações psicológicas e o nível de estresse causados pelo uso do celular, criou-se o termo “nomofobia”, a partir da expressão em inglês “no-mobile-phone-phobia”.

A nomofobia reflete o medo de ficar sem esse instrumento de comunicação. Um estudo da Scientific American, de 2015, definiu a nomofobia como "o grau em que as pessoas dependem dos telefones celulares".

Pesquisadores húngaros descobriram, em 2016, que os participantes de uma pesquisa exibiram níveis significativos de ansiedade apenas alguns minutos depois que seus telefones foram retirados deles. Embora a nomofobia ainda não tenha sido reconhecida como um diagnóstico psiquiátrico, seu uso é bastante generalizado em artigos populares.

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