9 de Agosto: Dia Internacional dos Povos Indígenas
Como povos originários deste país chamado Brasil, neste 9 de agosto também comemoramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data criada no ano de 1994 pela Organização das Nações Unidas (ONU). A referência foi à primeira reunião do Grupo de Trabalho da ONU sobre Populações Indígenas, realizada em Genebra em 1982.
A data instituída visava o aumento da conscientização sobre a situação dos povos indígenas por todo o planeta, suas lutas e desafios. No entanto, trinta anos após o primeiro Dia Internacional dos Povos Indígenas, temos a plena convicção de que o Brasil ainda possui pouco conhecimento a respeito dos seus povos originários. Diante deste fato, o que celebrarmos neste nosso dia especial?
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Em primeiro lugar, esse é um dia para nos alegrarmos com nossa história de existência e de resistência, algo muito vibrante em nosso meio até hoje, em cada um dos 305 povos indígenas em solo brasileiro. Olhamos para trás e vemos o quanto lutamos desde a chegada do colonizador em nossos territórios ancestrais. Sem dúvidas, esse olhar ao passado enche-nos de orgulho pela garra, espírito guerreiro e perseverança que nunca nos faltou até aqui nestes últimos cinco séculos.
Esse também é o tempo no qual celebramos as conquistas obtidas, de forma especial, nos últimos três anos, com destaque para uma luz de novas esperanças que chegou com as terras indígenas que novamente passaram a ser demarcadas, isso após um tenebroso período de obscuridade, de 2019 a 2022, quando "nenhum centímetro" de terra foi devolvido aos povos indígenas do Brasil. Diante de tudo aquilo que ainda aspiramos com relação à justa devolução de nossos territórios ancestrais, esse pouco que já chegou aponta-nos o seguinte: sim, estamos no caminho certo da luta diária que tem sido a busca da demarcação de todas as nossas terras.
Na sequência, o dia 9 de agosto tem o sinônimo de que nossas marcas por este país se perpetuam. Nossos quase trezentos idiomas vivos, nossa filosofia do bem viver, nossas artes, nossas crenças, costumes e culturas, tudo isso se constitui em um tesouro de valor incalculável, um conjunto riquíssimo que continua prova viva de nossa presença por aqui há milhares de anos. Em cada canto deste país, prosseguimos relembrando, de formas bem concretas, que sempre existiu o Brasil indígena anterior à chegada do colonizador. E mais, esse Brasil indígena continua a existir e, por meio de nossas lutas justas e de nossa perseverança, o mesmo jamais deixará de existir.
A data é oportuna para fazermos frente a pensamentos ainda retrógados que procuram nos limitar na vivência de nossa identidade. Não importam os locais onde estamos inseridos, jamais deixamos de ser indígenas. Sejam as florestas, as tradicionais terras indígenas, as retomadas Brasil afora ou os contextos urbanos espalhados por todo o país o nosso espaço atual de moradia e de existência, nenhum indígena se torna mais ou menos indígena ao habitar aqui e/ou acolá. Quaisquer que sejam as cercas, os muros, as fronteiras ou os rótulos, nada disso jamais nos impedirá de vivenciarmos, onde estivermos, nossa real identidade. Assim, esse 9 de agosto reafirma mais uma vez a realidade atual de cada indígena em território brasileiro.
Aproveitamos também a ocasião, para fazer ecoar bem longe as informações a nosso respeito, de quem somos, de onde viemos e em relação a quais aspirações e inspirações que temos em termos da continuidade da escrita de nossa história por estas terras. Apesar dos inúmeros contextos ainda vivenciados por muitos de nós, nos quais somos alvo de racismo, depreciação e preconceitos, este dia é mais uma oportunidade para levantarmos ao alto a bandeira de que estamos bem vivos e ativos, em nome de nossa identidade e cultura. Jamais deixaremos de ser os povos originários destas terras, apesar de tudo aquilo que, até hoje, tentou abater por completo nossa existência.
Nesta data especial, que cada indígena neste imenso Brasil seja abraçado, por meio de ações pelas quais os direitos dos povos originários sejam respeitados. Que, de fato, seja um tempo de um maior conhecimento e de reconhecimento por todo o país, de nossa história, de nossa cultura e da continuidade de nossa escrita de existência e de resistência.
(*) Kleber Gomes, indígena terena, professor e mestre em Ensino de História pela UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
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