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O que é raro? A beleza do incomum em um mundo de abundância

Por Cristiane Lang (*) | 19/12/2024 13:30

Em uma época em que quase tudo está a um clique de distância, o que ainda podemos chamar de raro? A palavra, que carrega uma aura de exclusividade e valor, parece cada vez mais deslocada em um mundo onde o acesso e a repetição prevalecem. Mas será que o raro deixou de existir? Ou será que ele apenas mudou de forma?

O que define o raro?

A raridade, em essência, está ligada à escassez. Algo é raro porque não se encontra facilmente, seja por limitações naturais, culturais ou emocionais. Um diamante, por exemplo, é raro porque sua formação é um processo geológico lento e complexo. Da mesma forma, certas espécies de animais ou plantas são raras porque só sobrevivem em condições específicas.

No entanto, o raro não se limita ao tangível. Ele também pode ser uma experiência, um sentimento ou uma característica humana. Momentos de conexão genuína, a coragem de ser vulnerável ou um gesto desinteressado de bondade são tão raros quanto os tesouros físicos — e, em muitos casos, ainda mais preciosos.

Raro em tempos de excesso

Vivemos na era da abundância. Há uma oferta infinita de informações, produtos e até mesmo de interações sociais. Mas essa abundância pode ter um efeito paradoxal: quanto mais temos, menos valorizamos. O comum se torna banal, e o que é raro passa a ser redefinido.

Hoje, por exemplo, raridade pode ser sinônimo de silêncio em um mundo barulhento, de atenção plena em uma realidade distraída ou de autenticidade em uma sociedade que valoriza máscaras. Raro não é mais apenas o que é caro ou único, mas o que escapa à velocidade e superficialidade que nos rodeiam.

O valor do raro

Por que valorizamos tanto o que é raro? Porque ele nos conecta com algo especial, algo que não se pode replicar facilmente. O raro é um lembrete de que há beleza no inesperado, de que nem tudo é acessível ou previsível.

Além disso, o raro carrega em si a ideia de esforço. Para encontrar algo raro, é preciso buscar, explorar e, muitas vezes, esperar. Esse processo cria uma relação mais íntima com aquilo que valorizamos, seja uma amizade verdadeira, uma obra de arte única ou um momento de paz interior.

Encontrando o raro no cotidiano

A raridade não está apenas em coisas distantes ou exóticas. Muitas vezes, ela reside nas pequenas coisas que passamos a ignorar pela força do hábito. Um pôr do sol particularmente bonito, o riso sincero de uma criança ou a sensação de um abraço apertado podem ser incrivelmente raros, dependendo do contexto.

Para perceber o raro, é preciso desacelerar. A raridade só se revela a quem presta atenção, a quem está disposto a olhar além da superfície.

O raro que somos

Por fim, é importante lembrar que cada pessoa é, por definição, rara. Não existe outra combinação exata de vivências, pensamentos e emoções que se iguale a você ou a qualquer outro indivíduo. Reconhecer a própria raridade e a dos outros é um ato de autovalorização e respeito.

O que é raro? É aquilo que não pode ser comprado em massa, nem produzido em série. É o momento fugaz, o detalhe esquecido, o gesto autêntico. Em um mundo que nos dá tanto, talvez o verdadeiro desafio seja aprender a valorizar o que é único e a enxergar a raridade onde ela sempre esteve: nos encontros, nos instantes e em nós mesmos. O raro não desapareceu — ele só pede um olhar mais atento para ser percebido.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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