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Operação Carne Fraca: a destruição das empresas nacionais

Por Rafael Almeida Ferreira Abrão (*) | 19/03/2017 09:16

Não deve ser visto como coincidência o alcance das operações da Policia Federal somente aos setores da economia brasileira onde ainda há capital nacional. Em meio à crise iniciada nos países centrais em 2008, o capital internacional tem aumentado sua necessidade de expansão.

Dessa forma, vem procurando aliados nas elites de países do terceiro mundo para promover a desnacionalização de setores. Essa desnacionalização, por muitas vezes, é caracterizada como a modernização das respectivas esferas econômicas. Ademais, sempre haverá nos países do sul global, uma parte da elite dominante disposta a servir aos interesses do capital internacional.

Antes da Operação Carne Fraca, esse mesmo modelo de destruição estava ocorrendo com o setor de construção civil, um dos poucos de capital nacional que competia a nível global. Similarmente, ocorreu com a Petrobras e a cadeia produtiva de petróleo.

A empresa teve seu valor de mercado drasticamente reduzido no mercado de ações, mesmo obtendo recordes de produção mensais e, até a aprovação dos recentes retrocessos nas leis de exploração, conservava prioridade na extração do petróleo disponível no pré-sal brasileiro. Agora, a Operação Carne Fraca irá promover o declínio das exportações de carnes do Brasil.

Situação equivalente ocorre na Coréia do Sul, com o ataque as grandes empresas daquele país: Samsung, LG e Hyundai. É evidente que a consolidação de novos polos de poder, como o Brasil e a Coreia do Sul, encontra resistência. Esses polos concorrem diretamente contra os interesses dos centros tradicionais: Europa Ocidental e Estados Unidos.

Se provou ingenuidade acreditar que não haveria uma resposta ao ensaio de multipolaridade que vimos no início desse século. O mais infeliz é observar que as ações para destruição das empresas citadas não encontram resistência, pois a retórica do combate a corrupção ‒ conduzido por grupos conjuntamente corruptos ‒ se tornou um grande espetáculo para o público.

É necessário refletir sobre os motivos de apenas as empresas de países da periferia do sistema estarem sendo alcançadas. Poderíamos pensar que outras grandes multinacionais não operam por meio de mecanismos de fraude. Isso não é, de forma alguma, correto. Cabe a pergunta: a quem a espetacularização dos escândalos favorece? Evidentemente, ao capital internacional. O aprofundamento da desnacionalização agrava o problema crônico de transferência de recursos dos países do terceiro mundo para os centros financeiros internacionais.

As empresas envolvidas em escândalos devem ser investigadas e punidas, entretanto, a destruição delas não irá contribuir para o desenvolvimento econômico do país e menos ainda para a melhoria da qualidade do alimento que consumimos. Não sabemos ainda as consequências econômicas que a Operação Carne Fraca terá, porém, certamente haverá impacto internacional, com muitos países reagindo ao tema.

Alguns dos maiores compradores de carne bovina brasileira são muito sensíveis às questões sanitárias, em especial a Rússia e a União Europeia, que no passado já proibiram a importação da carne brasileira. Atualmente, a destruição de empregos castiga milhões de pessoas nos centros urbanos do Brasil, agora a crise deve atingir também as áreas rurais do país.

(*) Rafael Almeida Ferreira Abrão é mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Unesp, Câmpus de Marília.

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