Em cinco anos, casos de HIV entre idosos cresceram 80% em MS
Dados da SES mostram que, em 2020, houve 25 casos de HIV em idosos, enquanto neste ano o total subiu para 45
O número de casos de HIV entre a população com mais de 60 anos em Mato Grosso do Sul aumentou 80% nos últimos cinco anos. Dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde) mostram que, em 2020, foram registrados 25 casos, enquanto neste ano o total subiu para 45 casos nessa faixa etária.
Segundo levantamento da SES, o ano com maior número de casos registrados em Mato Grosso do Sul foi 2022, com 55 notificações entre idosos de 60 anos ou mais que contraíram o vírus do HIV.
Em nota, a secretaria de saúde atribuiu o crescimento ao aumento da expectativa de vida e à melhora na qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV, possibilitada pelos avanços nos tratamentos antirretrovirais.
No entanto, a SES enfatizou, em nota, a necessidade de intensificar informações sobre os riscos de infecção, formas de prevenção e a promoção de ações de conscientização e educação em saúde. “O cenário exige esforços integrados para evitar novas infecções, combatendo o estigma e promovendo o conhecimento como principais ferramentas de prevenção”.
Crescimento nacional - O aumento nos casos de HIV entre idosos também é observado em escala nacional. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2023, o número de novos casos entre idosos cresceu 416% na última década, passando de 378, em 2012, para 1.951, em 2022.
A faixa etária dos 60 anos ou mais representava 2% de todas as novas infecções com o vírus em 2012 e passou para 4% em 2022. O boletim também destaca que essa é a única faixa etária em que houve aumento percentual nos falecimentos relacionados ao HIV ao longo dos últimos dez anos.
Para o geriatra e presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), Marco Túlio Cintra, os dados reforçam a necessidade de intensificar medidas preventivas, garantir o diagnóstico precoce e ampliar o acesso aos tratamentos especializados.
Segundo ele, isso inclui reforçar a adesão à TARV (terapia antirretroviral), o tratamento de infecções oportunistas e o acompanhamento regular com profissionais de saúde capacitados.
“Não podemos nos esquecer da questão da saúde mental e emocional dessas pessoas, uma vez que o estigma social relacionado ao HIV e à AIDS pode afetar a autoestima e o bem-estar psicológico do idoso. Esse suporte deve fazer parte do tratamento”, destacou o geriatra em nota publicada pela SBGG.
Fatores associados ao aumento - Segundo Cintra, o baixo uso de preservativos entre idosos é um dos principais fatores para o aumento das infecções. “Muitos idosos não veem o preservativo como necessário, pois não há preocupação com gravidez. É fundamental esclarecer que o preservativo também protege contra infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV”, reforçou.
Outro fator elencado pelo médico geriatra é a popularização de medicamentos para disfunção erétil, que prolongaram a vida sexual de muitos homens. Além disso, divorciados e viúvos podem se sentir mais livres para novas relações, facilitadas por aplicativos de relacionamento, o que pode levar ao descuido com a prevenção.
Ele também aponta que fatores biológicos também ampliam os riscos, como a fragilidade do sistema imunológico e a pouca lubrificação vaginal e anal, que aumentam a probabilidade de infecção. Além disso, o diagnóstico tardio é um desafio, pois sintomas iniciais do HIV em idosos muitas vezes são confundidos com outras doenças.
“Infelizmente, quando o idoso apresenta sintomas como emagrecimento acentuado, a suspeita recai sobre câncer ou outras condições, mas raramente sobre o HIV. Esse tabu prejudica a prevenção e o diagnóstico precoce”, alertou Cintra.
O médico destacou ainda que campanhas como o Dezembro Vermelho devem incluir os idosos. “O foco maior está nos jovens, o que deixa os idosos fora do alcance das campanhas, apesar de sua vulnerabilidade crescente”, concluiu.
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